Atualizado em 08 de outubro de 2009 às 16:52 | Publicado em 08 de outubro de 2009 às 16:41
Leader Ousted, Honduras Hires U.S. Lobbyists
por GINGER THOMPSON e RON NIXON, no New York Times
Published: October 7, 2009
WASHINGTON —Primeiro, deponha um presidente. Depois, contrate um lobista.
Nos meses desde que soldados depuseram o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, o governo de fato e seus apoiadores resistiram a pedidos dos Estados Unidos para que o presidente deposto fosse restaurado ao poder. Argumentando que o esquerdista Zelaya representava uma ameaça a sua frágil democracia ao tentar estender ilegalmente seu mandato, eles argumentaram em Washington usando uma tática costumeira: uma campanha de lobby de alto nível.
A campanha teve o efeito de forçar o governo Obama a mandar sinais ambiguos sobre sua posição ao governo de fato, que os lê como sinais de encorajamento. Também teve o efeito de adiar duas indicações-chave do Departamento de Estado para a região.
Custando pelo menos 400 mil dólares até agora, de acordo com registros oficiais, a campanha envolve escritórios de advocacia e agências de relações públicas com ligações próximas à secretaria de Estado Hillary Rodham Clinton e ao senador John McCain, a voz mais importante dos republicanos em política externa.
Também obteve apoio de vários ex-integrantes de alto escalão responsáveis por definir a política externa dos Estados Unidos na América Central nos anos 80 e 90, quando a região lutava para se livrar das ditaduras militares e das insurgências guerrilheiras que definiram a guerra fria. Duas décadas depois, essas ex-autoridades -- incluindo Otto Reich, Roger Noriega e Daniel W. Fisk -- encaram Honduras como o principal campo de batalha em sua luta contra Cuba e Venezuela, que eles caracterizam como ameaças à estabilidade da região em linguagem similar a que foi usada no passado para descrever a União Soviética.
"A atual batalha por controle político de Honduras não é apenas sobre uma pequena nação", o sr. Reich testemunhou em julho no Congresso. "O que acontece em Honduras poderá um dia parecer como o ápice das tentativas de Hugo Chávez de subverter a democracia no hemisfério ou como o sinal verde para a expansão do autoritarismo chavista", ele afirmou, se referindo ao presidente venezuelano.
O sr. Noriega, co-autor do Ato Helms-Burton, que apertou o embargo dos Estados Unidos contra Cuba e que serviu recentemente como lobista de um grupo empresarial de Honduras, se negou a comentar este artigo.
O sr. Reich, que serviu em postos-chave para a América Latina sob os presidentes Ronald Reagan e George W. Bush, disse que não atuou oficialmente como lobista para nenhum grupo hondurenho. Mas ele disse ter usado suas conexões para promover a agenda do governo de fato, liderado por Roberto Micheletti, por acreditar que o governo Obama tinha cometido um erro.
E o sr. Fisk, cuja carreira política incluiu passagens pelo Conselho de Segurança Nacional e como subsecretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental no governo Bush, promovia as ideias do governo Micheletti até duas semanas atrás como assessor do senador aposentado da Flórida, Mel Martinez.
Além do apoio dos veteranos da guerra fria -- e parcialmente por causa deles -- o governo de fato de Honduras mobilizou apoio de um grupo determinado de legisladores republicanos, liderados pelos senador Jim DeMint, da Carolina do Sul. Eles estão segurando a indicação de dois integrantes do Departamento de Estado como forma de pressionar o governo Obama a suspender as sanções econômicas contra Honduras.
"Erramos aqui", disse o sr. DeMint em uma entrevista à Fox News depois de voltar de uma viagem a Honduras na sexta-feira. Em referência ao governo de fato, ele disse, "esse é provavelmente nosso melhor amigo no hemisfério, o país mais pró-americano, mas estamos tentando estrangulá-lo".
Chris Sabatini, editor do Americas Quarterly, um jornal de política que focaliza a América Latina, disse que os lobistas confundiram a posição de Washington sobre o golpe. O governo disse publicamente que vê o golpe de Honduras como um acontecimento perigoso em uma região que não faz muito tempo era praguejada por golpes, ele diz.
Mas, acrescentou, para aplacar seus oponentes no Congresso, e ter as nomeações aprovadas, o Departamento de Estado às vezes enviou mensagens por canais secretos a legisladores expressando apoio a Zelaya de forma menos clara.
"Houve um vácuo de liderança no governo sobre Honduras e essas pessoas preencheram o vácuo", Sabatini disse dos apoiadores do governo Micheletti. "Eles não tem muito apoio, mas o suficiente para manter o governo refém".
Depois do golpe de 28 de junho, o presidente Obama se juntou a líderes regionais para condenar a ação e pedir a volta do presidente Zelaya ao poder, mesmo sendo o presidente hondurenho um aliado do sr. Chávez, o maior adversário dos Estados Unidos na região.
Mas assessores parlamentares disseram que menos de dez dias depois do golpe contra Zelaya, os srs. Noriega e Lanny J. Davis, um homem de confiança de Hillary Clinton e lobista do empresariado de Honduras, organizaram uma reunião de apoiadores do governo de fato com integrantes do Senado.
Mr. Fisk, que participou do encontro, disse que ficou espantado com o comparecimento. "Nunca vi oito senadores na mesma sala para falar sobre a América Latina em toda a minha vida", ele afirmou.
Quando o presidente Obama impôs sanções cada vez mais duras contra Honduras, o lobby se intensificou. O Grupo Cormac, liderado por um ex-assessor do senador McCain, John Timmons, aderiu ao lobby, de acordo com registros oficiais, assim como a firma de relações públicas Chlopak, Leonard, Schechter & Associates.
De sua parte, o sr. Reich comunicou seus pensamentos a integrantes do Congresso por e-mail. "Deveríamos comemorar", ele escreveu para um integrante do Comitê de Relações Exteriores do Senado, "que um dos aliados do proclamado socialismo do século 21 de Chávez foi legalmente deposto por seus conterrâneos".
Como normalmente acontece nos esforços de lobistas, algumas das mensagens foram mandadas sem remetente. Em escritórios do Senado nas últimas semanas, por exemplo, havia uma lista de "argumentos" preparada para solapar a indicação do secretário-assistente de Estado Thomas A. Shannon como embaixador no Brasil. Dois assessores, que pediram anonimato para falar sobre questões relativas ao golpe, disseram que o sr. Fisk escreveu o documento.
O sr. Fisk negou. Ele também desmentiu a noção de que está operando pelas regras antigas. "Pode ter gente lutando ainda nos anos 80", ele disse. "Eu não estou".
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