O diplomata assumiu a secretaria de Assuntos Estratégicos para “pensar um projeto para o Brasil até 2022”, afirmou o presidente Lula
O diplomata Samuel Pinheiro Guimarães tomou posse, na terça-feira (20), como ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), cargo ocupado até junho por Roberto Mangabeira Unger. Na cerimônia, realizada no Itamaraty, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou ao novo ministro a elaboração de formas para modernizar o país, reiterando a importância da presença do Estado na economia.
“É preciso pensar concretamente as coisas que nós precisamos fazer para tornar o Brasil moderno, tornar o Brasil avançado, sem aquela concepção atrasada de que o Estado não tem papel a cumprir no país”, afirmou Lula, ressaltando que não é possível um país sobreviver com um Estado mínimo.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, emocionou-se ao falar do amigo e ex-colaborador. “O embaixador Samuel ousou pensar no Brasil em um momento que não era moda”, ressaltou. Segundo ele, na época, as expectativas estavam depositadas sobre a “mão oculta do mercado”. Amorim se referia ao fato de Guimarães ser apontado como um dos principais idealizadores da política externa do atual governo.
Para o presidente Lula, “se tem uma coisa extraordinária que esta crise econômica permitiu e que aqueles que têm olhos, mas não queriam enxergar, passassem a enxergar, é que não é possível um país sobreviver se o Estado for débil e fraco, e o mercado, forte. Porque tem coisas que o mercado não sabe fazer, e tem coisas que o mercado não quer fazer”, acrescentou.
Doutrina e paixão
O presidente destacou que uma das tarefas do novo ministro será a definição de uma política de desenvolvimento da região amazônica, porque a “questão da Amazônia não está muito bem pensada e elaborada”. “Não firmamos ainda uma doutrina sobre a utilização da Amazônia. Nós temos paixões pela Amazônia. Cada um do seu jeito. Tem gente que acha que com uma motosserra resolve tudo. Tem outro que tem paixão e acha que tem que virar um santuário da humanidade, não pode mexer”, lembrou Lula.
Segundo o presidente, o aproveitamento da biodiversidade da floresta e do petróleo do pré-sal pode significar a redenção do Brasil: “A Amazônia e o pré-sal são duas coisas extraordinárias, que temos que nos preocupar com muito carinho, porque podem ser a redenção desse país, além do nosso povo que é o mais importante que temos”.
Ele observou que a SAE foi criada para pensar um projeto para o Brasil até 2022, quando o país completará 200 anos de independência, sublinhando que um programa de desenvolvimento não pode se restringir ao tamanho de um mandato presidencial.
“Um país pensado de quatro em quatro anos não pode dar muito certo. Se cada um que entrar tiver uma forma diferente de enxergar o Brasil, a forma de governança será tipo uma sanfona: vai e volta, vai e volta. Sem que a gente consiga colher o resultado concreto de um programa de longo prazo no nosso país”, disse.
Alca
Samuel Pinheiro Guimarães era secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, onde estimulou os diplomatas a buscarem aprimoramento em experiências práticas acerca das questões com que lidavam teoricamente. Autor de muitos livros, foi eleito Intelectual do Ano em 2006 pela União Brasileira de Escritores. Nacionalista, combateu a tentativa dos EUA de criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Ao empossar o novo ministro, Lula revelou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, é um fã de Pinheiro Guimarães. “Ele é o guru do Chávez”, disse, lembrando que por diversas vezes o venezuelano pergunta pelo autor de “500 Anos de Periferia”.
“Eu espero poder corresponder a essa confiança. A minha tarefa é difícil e ampla, mas me dedicarei para realizar. Eu espero que a secretaria possa colaborar com cada uma na execução desses temas estratégicos’, afirmou o embaixador. A orientação do presidente da República é que o ministro concentre os esforços da pasta na segurança, preservação e no desenvolvimento da Amazônia.
Samuel Pinheiro Guimarães disse que a SAE “vai trabalhar em conjunto e não de forma paralela com os demais órgãos do governo federal”. “Temos de definir um plano de preservação do bioma (amazônico) e também de garantias de qualidade de vida para 25 milhões de pessoas que vivem naquela área”, enfatizou. A posse lotou o principal salão do Itamaraty com ministros, embaixadores, diplomatas, militares e parlamentares.
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