Bancos ingleses estão pendurados em 150 bilhões de euros na Irlanda e os alemães, em 138 bilhões de euros. Pacote pré-FMI podou 15% dos salários e corta 15 bilhões em 4 anos
O FMI, o BCE (Banco Central Europeu) e a Comissão Europeia desembarcaram na Irlanda, tida antes, na propaganda neoliberal, como o “Tigre Céltico”, para impor ao país um programa de arrocho ainda mais drástico que o já adotado pelo atual governo para salvar o Anglo Irish Bank e outros bancos da bancarrota. Segundo o BIS – o Banco Central dos bancos centrais -, os bancos ingleses estão pendurados em 150 bilhões de euros na Irlanda, enquanto a exposição dos bancos alemães é de 138 milhões de euros. De acordo com as informações iniciais, o empréstimo seria em torno de US$ 80-100 bilhões de euros, com a metade destinada diretamente aos bancos quebrados, e a outra metade, principalmente, para a rolagem de títulos da dívida com bancos.
O plano de arrocho já em vigor podou 15% nos salários dos servidores, cortou os gastos públicos em 4 bilhões de euros no ano passado, e estabeleceu mais cortes de 15 bilhões de euros em quatro anos. O desemprego oficial atingiu 14%. A salvação dos bancos falidos fez o déficit disparar para 32% do PIB. Com o estouro da bolha imobiliária, os preços das casas caírem pela metade e cerca de 100 mil famílias tentam não ser despejadas. Um número de casas três vezes maior está vazio. No segundo trimestre de 2010, a economia encolheu 1,2%.
ZONA DO EURO
Declaração, na semana passada, do presidente do BC irlandês, Patrick Honohan, de que um plano do FMI não seria muito diferente do arrocho já aplicado, destampou a discussão sobre o socorro aos bancos. Aumentou a pressão dos especuladores contra os países da zona do euro tidos como em situação mais precária – Portugal e Espanha -, com seus governos declarando ser urgente tratar da questão irlandesa. Os ágios para rolagem de títulos irlandeses, portugueses e espanhóis bateram recordes; os da Grécia voltaram aos patamares de maio. Tendo como pauta a crise do euro, os ministros das Finanças da União Europeia se reuniram em Bruxelas, em caráter de emergência, na terça-feira (16).
Em Dublin, em meio às chacotas da oposição, o primeiro-ministro Brian Cowen disse no parlamento que não havia “negociação de pacote”, mas “discussões delicadas e cautelosas”. Aliás, o único ponto fora de discussão, asseverou o governo, é aquela diminuta taxação de 12,5% sobre a renda de corporações estrangeiras e bancos, que transformou o país, desde os anos 1990, num bordel fiscal.
QUEBRADEIRA
De acordo com o jornal inglês “Guardian”, no dia 30 de setembro – a “quinta-feira negra” -, o governo de Dublin revelou que, no pior cenário, a conta do Anglo Irish seria de 29 bilhões de euros – o equivalente a um-quinto do PIB do país -; sendo que já recebeu 23 bilhões de euros para ficar à tona. Outro banco, o “Allied Irish”, precisa de mais 3 bilhões de euros até o fim do ano, além dos 7,4 bilhões de euros já injetados.
O ministro inglês das Finanças, George Osborne, declarou que Londres estava “pronta” para ajudar a Irlanda. O comissário de Assuntos Econômicos da Europa, Olli Rheb, confirmou esse apoio. “É natural, porque a Grã-Bretanha e seus bancos têm uma exposição muito significativa na Irlanda”. Há uma “interconexão muito forte” do setor financeiro dos dois países, acrescentou, se referindo especialmente ao RBS e ao Lloyd’s. Na terça-feira, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, advertiu que a União Europeia estava sob “uma crise de sobrevivência” devido às dificuldades enfrentadas pelo euro.
ANTONIO PIMENTA
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