2 de novembro de 2010

Guerra cambial aumenta o déficit comercial com EUA



De janeiro a setembro é de US$ 5,74 bi

O déficit na balança comercial com os Estados Unidos mostra que os juros altos do BC dificultam a defesa do país da guerra cambial desencadeada pelos EUA a partir da derrocada do Lehman Brothers. Até 2008, o Brasil tinha superávit no comércio com os Estados Unidos. No ano seguinte, essa situação se inverteu e hoje é o país que garante o maior superávit comercial dos norte-americanos. Em 2009, foi registrado um déficit comercial do Brasil com os EUA na ordem de US$ 3,46 bilhões. Este ano, no acumulado até setembro, o resultado ficou negativo em US$ 5,74 bilhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Uma das causas da deterioração do saldo da balança comercial é o câmbio adverso, uma vez que o real é uma das moedas que estão mais valorizadas em relação ao dólar. Isso torna os produtos brasileiros mais caros, dificultando as exportações, ao mesmo tempo em que barateia os produtos dos outros países, notadamente dos EUA, facilitando as importações.

Em função de frete e impostos, as estatísticas estadunidenses são diferentes das brasileiras. De acordo com o Departamento de Comércio dos EUA, o déficit do Brasil é ainda maior: US$ 7,2 bilhões, no acumulado de janeiro a agosto.

Segundo os números norte-americanos, os EUA só têm saldos positivos significativos com o Brasil e Austrália ou com pólos de distribuição na Europa (Holanda e Bélgica) e na Ásia (Hong Kong e Cingapura).

Em outubro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao reconhecer que há no mundo uma guerra cambial, aumentou duas vezes a alíquota do Imposto sobre operações Financeiras (IOF) para “investidores” estrangeiros, com o objetivo de conter a enxurrada de dólar no país e a “apreciação” do real. Primeiro, elevou a taxa de 2% para 4% nas aplicações à vista. Depois, para 6% sobre aplicações à vista e também no “mercado futuro”.

É positivo o aumento do IOF para frear os especuladores, mas insuficiente. Ao deflagrar a guerra cambial, os EUA reduziram os juros quase que a zero, enquanto que o Meirelles manteve a Selic como a taxa básica de juros mais alta do mundo, um verdadeiro imã aos capitais especulativos. De janeiro a setembro deste ano os investimentos em carteira (IEC) – capital destinado à especulação – somaram US$ 43,221 bilhões.

Alguns setores estão creditando à política cambial da China a deterioração da balança comercial brasileira, mas quem injetou US$ 23,7 trilhões no sistema financeiro, que depois se espalharam pelo mundo – e agora alardeiam mais US$ 1 trilhão –, foram os EUA. Enquanto o Brasil tem déficit comercial com os EUA, com a China tem superávit: US$ 4,98 bilhões até setembro. Os chineses tomaram a medida de acompanhar a movimentação do dólar foi para defender sua economia.

Não é verdade a afirmação do Bank of América de que países como o Brasil nada podem fazer porque os EUA podem emitir dólares à vontade. “Não há nada que o governo possa fazer”, afirmou o banco em nota aos seus clientes. A despeito das discussões nos fóruns internacionais, o Brasil pode e deve tomar medidas que protejam sua economia. A começar pela redução dos juros reais para próximo de zero – atualmente a taxa real de juros está em 5,3% -, para eliminar o diferencial de juros; adoção de medidas de controle de capitais; e, principalmente, aumentar o grau de nacionalização da economia, apoiando as empresas genuinamente nacionais, tanto em financiamentos do BNDES, quanto nas compras governamentais, para fortalecer a produção interna e diminuir as importações.

VALDO ALBUQUERQUE

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