7 de outubro de 2008

Tempo e espaço na compreensão dos problemas do meio ambiente e da sustentabilidade

 

No início do século XXI, em que se multiplicam alertas de todos os tipos sobre modificações irreversíveis da vida no planeta, a questão ambiental e a sustentabilidade se mostram os grandes temas da atualidade. A Geografia, como a ciência das relações sociedade/natureza, tem tratado constantemente de ambos. Neste pequeno texto, pretendo refletir sobre a temporalidade das relações sociedade/natureza que, a par da espacialização, permite que a ciência geográfica proporcione uma visão mais ampla dos problemas ambientais.
A natureza é uma complexa rede de sistemas e processos biológicos, geológicos, químicos, físicos, espaciais e temporais interconectados, que se encontra em equilíbrio dinâmico e constitui a vida no planeta. A modificação de um dos elementos ou processos reage sobre os outros, em uma cadeia interminável de transformações, muitas das quais pouco conhecidas e outras, ainda, desconhecidas.
Os fenômenos naturais são medidos em eras geológicas, como, por exemplo, os agentes que modelam a crosta terrestre (tectonismo, erosão, sedimentação), a dinâmica das massas de ar, a diferenciação das paisagens, a alteração das espécies animais e vegetais de acordo com as condições de clima, altitude e latitude. A interferência da sociedade, por outro lado, faz-se no tempo e no espaço humanos, cujas intencionalidades econômicas e sociais se sobrepõem ao tempo geológico da natureza. As técnicas modernas, por sua vez, garantem que as intervenções sejam cada vez mais eficazes e dificultam, ou mesmo impedem, a regeneração dos sistemas e a manutenção da biodiversidade.
No atual estágio de desenvolvimento em que a esfera-mundo se encontra, não há mais ambiente que não esteja envolvido em processos econômicos e sociais, ainda que apenas como intencionalidade futura. Dessa maneira, toda a natureza se torna parte constitutiva da sociedade em seus movimentos e determinações em escala global. O drama da sustentabilidade está em que a natureza é trazida para dentro da sociedade, mas permanece ela mesma, com seus fenômenos e processos em tempo geológico, cujos equilíbrios dinâmicos são continuamente alterados no tempo humano.
O ensino da Geografia, ao realçar as diferenças de tempo entre a natureza e a sociedade, traz uma importante contribuição para o debate sobre sustentabilidade e a busca por maneiras de influenciar as práticas predatórias dos atores espaciais, tornando-os mais conscientes de suas ações.

A Profa. Marília Luiza Peluso

• Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

• Mestre em Planejamento Urbano pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília

• Geógrafa, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina

• Professora do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília

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