A desertificação, processo de degradação da capacidade produtiva do solo causado pela ação do homem, não é irreversível. Mas o custo da recuperação pode ser inacessível para muitos.
Fragmento do artigo “Desertificação atinge 15 milhões no Nordeste”
A perda provocada pela degradação das terras chega a 466 milhões de dólares por ano, segundo cálculo do Núcleo Desert.Estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí revela que 15,7 milhões de pessoas são afetadas pela desertificação que ocorre no Nordeste. Pelo menos 1,3 milhão de pessoas vivem em regiões onde o processo de degradação do solo é considerado muito grave e a terra tornou-se praticamente improdutiva. A área degradada, segundo o diagnóstico, é de 660 mil quilômetros quadrados. Isso significa mais do que os territórios da Alemanha e da Itália, juntos. O estudo é assinado pelo Núcleo Desert, centro ligado à universidade que reúne sociólogos, economistas, biólogos e geógrafos que analisam um problema cuja grande causa são os modelos de desenvolvimento do Nordeste.
Metodologia da pesquisa
Para chegar a esses números, o Núcleo desenvolveu uma metodologia com dezenove variáveis e cruzou dados físicos e socioeconômicos. Analisou, por exemplo, a densidade populacional, as formas de uso do solo, a utilização de herbicidas e os índices de salinização. Através de uma projeção, feita com cálculos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, ele estima em 466 milhões de dólares por ano a perda provocada pelo processo de desertificação no Nordeste. O custo anual de recuperação dessas áreas seria de 133 milhões de dólares.A reversão do processo depende de esforços em várias pontas, dizem os técnicos. É preciso divulgar procedimentos adequados de manejo do solo, dar assistência técnica eficaz ao produtor e implantar programas de educação ambiental nas escolas.
Principais causas
A irrigação inadequada tornou estéreis 30% das áreas irrigadas no Nordeste. Joga-se muita água em solos com baixa capacidade de absorção e não se estudam obras de drenagem. A pecuária extensiva, praticada na região, também teria sua parcela de responsabilidade. Seriam necessários 20 hectares, no semi-árido nordestino, para alimentar um boi. Mas, na prática, costuma-se colocar sete animais por hectare. Os animais acabam comendo as plantas antes que elas produzam sementes, o que elimina as espécies melhores, empobrece a terra e torna a cobertura vegetal escassa. O pisoteio dos animais compacta o solo e acelera a degradação.
Alguns técnicos discordam dos dados do Núcleo, alegando que o que há no Nordeste são áreas com ecossistemas frágeis que se tornarão desérticas se não tiverem manejo adequado.Há unanimidade, no entanto, quanto aos efeitos danosos da irrigação inadequada sobre a região, salinizando os solos. O tratamento existe, mas é caro. Pode ser feito a partir da aplicação de uma solução com sulfato de cálcio.Embora sem dados que revelem a dimensão do problema, as práticas de uso do solo não mudaram. As populações empregam técnicas inadequadas e degradam regiões, migram para outras e reempregam as mesmas técnicas. É um ciclo contínuo.
A desertificação no mundo
Os dados de desertificação no mundo também são assustadores. Pelo menos 70% das terras secas são afetadas pela desertificação, o que significa 3,6 bilhões de hectares. 0 fenômeno afeta a vida de um sexto da população mundial.
Durante a Eco-92 (conferência sobre meio ambiente que a ONU realizou no Rio de Janeiro), acertou-se que os países fariam uma convenção internacional sobre desertificação.
Um dos nós do acordo é a discussão em torno de recursos financeiros. Os países pobres querem novos financiamentos para enfrentarem a degradação de suas terras. Os países ricos não concordam.
Fonte: Folha de São Paulo, 12 de abril de 1994. Citado por Moreira, Igor. O espaço geográfico. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 1998, págs. 457-59.
Nenhum comentário:
Postar um comentário