G8 nas deliberações econômicas
EUA ainda tentou manter o monitoramento das economias através do FMI, mas a proposta foi rejeitada pelo Brasil, China e Alemanha
O G8 já era: a cúpula de Pittsburg consagrou o G20, que reúne os países centrais e os principais países emergentes, como o principal centro de deliberações sobre a economia mundial, e sobre o enfrentamento da maior crise desde a Depressão de 1930. Como afirmou o comunicado final da cúpula, “Nós designamos o G20 para ser o principal fórum da nossa cooperação internacional”.
A mudança foi assim registrada pela revista inglesa “The Economist”, porta-voz da City londrina. “Uma espécie de reequilíbrio das instituições globais para melhor refletir as realidades econômicas de hoje. De agora em diante, o G20 substituirá o G8, estreito e dominado pelo Ocidente, como fórum primário econômico global, dando àqueles como China, Índia e Brasil um assento permanente à mesa” (a Rússia já participava do G8 desde Ieltsin). Ou seja, trata-se da formalização de uma nova correlação de forças no terreno econômico, que reflete o peso que a China – que já é a terceira ou segunda maior economia do planeta, dependendo de como é calculado o PIB -, a Índia, Brasil, Rússia, África do Sul e outros países passaram a ter.
Essa “substituição na prática” do G8 – como na imagem sugerida pelo presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva – ainda não é a substituição do sistema imposto em Bretton Woods, mas já é um largo passo para o questionamento do sistema que faliu, do dólar e da hegemonia dos monopólios norte-americanos. A propósito, o presidente do Banco Mundial, um norte-americano, Robert Zoellick, advertiu (veja matéria abaixo) que os EUA “não podem dar o dólar como garantido como moeda de reserva do mundo” e se acham sob ameaça da moeda chinesa e do euro.
ESTÍMULOS
Para vários dos países que agora fazem parte do G20, como no caso do Brasil, o “fórum” de que participaram em crises anteriores foi o comitê de bancos da dívida externa e as missões do FMI. Assim, é uma grande mudança. De acordo com a Declaração, “Nossos países concordam em fazer tudo que for necessário para garantir a recuperação, consertar nosso sistema financeiro e manter o fluxo global de capital”. Os signatários também concordaram em manter os estímulos à produção enquanto não seja atingida uma recuperação durável.
Mas nas entrelinhas perpassam várias divergências sobre como resolver a crise, e quanto a que ponto da crise está. A proposta dos EUA para “coordenação econômica” debaixo do FMI com poderes alargados, isto é, o velho “monitora-mento”, revisto e ampliado, foi descartado pela China, Alemanha e Brasil, entre outros, e substituído por uma “revisão pelos pares”. Há diferenças também sobre onde centrar os esforços: enquanto a maior parte do pacote de Obama foi para o bailout dos bancos arrombados, a China dedicou quase US$ 800 bilhões para investimentos na infraestrutura, redire-cionou a economia para desenvolver o mercado interno e ampliou fortemente o crédito através dos bancos estatais.
MONOPÓLIOS
Quanto à questão chave da restauração da regulamentação sobre os monopólios financeiros, o G20 seguiu patinando: as normas somente estarão definidas no ano que vem, e só precisarão ser aplicadas dois anos depois, 2012. Assim, já que a crise eclodiu em 2008, os monopólios financeiros terão tido cinco anos para fazerem vista grossa – e a festa – em Wall Street. Anuncia-se que a regulamentação irá incluir limites mais rigorosos para a alavancagem, mas, enquanto isso, em Wall Street, e nas bolsas do mundo inteiro, a inundação de recursos públicos para os bancos tem permitido frenética especulação com ações, com alta desde o final de março em 35%, o que é apresentado como sintoma da retomada econômica, enquanto os números do desemprego só fazem se agravar. Nos EUA, o desemprego “cheio” já ultrapassou os 16%. A declaração de Pittsburgh também propôs restringir bônus e remuneração dos banqueiros e executivos, embora sem atender à Alemanha e França que queriam limites expressos do tipo proporção da receita ou do capital.
Foi criado ainda, como auxiliar do BIS, espécie de banco central dos bancos centrais, o Conselho de Estabilidade Financeira. Na cúpula, também ficou acertado a ampliação das cotas dos países emergentes no FMI e Banco Mundial. Participaram do G20 a África do Sul, Argentina, Arábia Saudita, Austrália, Brasil, China, Coréia do Sul, EUA, França, Rússia, México, Etiópia, Tailândia, Turquia, União Européia, Espanha, Inglaterra, Japão, Índia, Indonésia, Canadá, Itália, Holanda e Suécia.
ANTONIO PIMENTA
Hora do Povo
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