2 de setembro de 2009

Exploração de nióbio exige regulamentação

ENTREVISTA: BRIZOLA NETO

 

Deputado Federal do PDT, neto de Leonel Brizola, fala da defesa dos recursos
naturais, da sua trajetória política e da luta contra a exploração das multinacionais.

Gilberto Felisberto Vasconcellos: Que questões envolvem o nióbio no Brasil?
Brizola Neto: Toda indústria de alta tecnologia é altamente dependente do nióbio, não tem turbina de avião, não tem turbina de termoelétricas, não tem oleoduto se não tiver nióbio, porque ele é anticorrosivo. E o dado importante, é que justamente 95% das reservas de nióbio do mundo concentram-se só nas minas amazônicas, onde está demarcada a Reserva Raposa do Sol, sem serem exploradas. Há uma mina em atividade em Araxá, Minas Gerais, uma associação do grupo Moreira Sales com o grupo Rockefeller, a Cia. Brasileira de Mineração de Metais-CBMM. que vendem internacionalmente o nióbio a um preço abaixo do custo. Fato grave é que mesmo sendo o único exportador no mundo deste minério estratégico, o nosso país não é sequer capaz de determinar o preço do nióbio no mercado externo. Nos momentos de baixa dos valores das comodites como ocorre na crise atual, o preço da extração e do refino fica superior ao valor em que é cotado na bolsa de Londres, em média U$ 90 o kilograma. Na jazida atualmente mais explorada, em Araxá, Minas Gerais, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) pertencente ao grupo Moreira Salles associado a multinacional MOLYCORP, do grupo Rockefellerr, exporta 90% do nióbioo extraído. Isso é mais um exemplo deplorável da simbiose da burguesia nativa com os interesses das grandes corporações multinacionais que engordam o imperialismo. Com o deputado mineiro José Fernando Aparecido, a gente tem lutado na Câmara por um novo marco regulatório na questão mineral no Brasil. Dá mais de um trilhão de dólares o nióbio que você tem hoje na Amazônia. Isso com preço estipulado lá na Bolsa de Londres, abaixo do custo, sem levar em conta a importância que tem o nióbio hoje na indústria, principalmente na indústria de ponta. É mais um caso da história de 500 anos de espoliação internacional do Brasil.

Renato Pompeu: A sua intervenção no Congresso teve repercussão na mídia?
Brizola Neto: Olha na grande mídia a gente pode dizer que essa repercussão ela realmente não acontece, e ai a gente entende inclusive as pressões que deve haver dos grandes grupos multinacionais nesse sentido, talvez os grandes anunciantes e sustentadores da grande mídia. Só para dar um exemplo, nós fizemos uma convocação na Comissão de Minas e Energia, requerimento meu e do deputado José Fernando Aparecido, convocando,  para que se explicasse esse processo de privatizações da Companhia Vale do Rio Doce, o ex-presidente Fernando Henrique, o ministro das Minas e Energias na época do governo Fernando Henrique, o senhor Roger Agnelli, que comprou a Vale, para explicar por que a venderam pelo preço de seis meses do seu faturamento. E mais, o mais grave, a Constituição Federal diz que quem detém o solo não detém o subsolo, que o subsolo é patrimônio da União, e junto com a venda da Vale do Rio Doce entregaram as maiores minas brasileiras, as de Carajás, exploradas pelo senhor Roger Agnelli.
Renato Pompeu: A CBMM tem interesse em que não sejam exploradas as reservas de nióbio de Roraima, que estão nas terras indígenas. Mas a direita militar divulga na Internet que a demarcação contínua das terras indígenas foi feita para possibilitar a exploração do nióbio de Roraima por empresas estrangeiras.
Brizola Neto: Acho que uma questão não inviabiliza a outra. Nesse primeiro momento há essa pressão clara da CBMM para não desvalorizar a exploração do nióbio na mina que ela tem em Araxá, porque é uma exploração muito mais difícil do que a exploração que é possível hoje na Amazônia. Mas eu concordo plenamente que essa demarcação, além de atender o interesse imediato da CBMM, num futuro próximo, ela vai atender ao interesse internacional de que empresas estrangeiras se instalem ali para fazer a exploração do nióbio brasileiro.

Wagner Nabuco: Mas lá no Congresso, como é que você sente a repercussão, quem está mais para a posição sua e do PDT, quem fica mais em cima do muro, quem combate mais? Como que é isso lá?
Brizola Neto: Hoje, eu acho que é um pouco difícil você identificar dentro do Congresso, através de partidos políticos, quais são os grupos nacionalistas. Você tem hoje nacionalismo espalhado em vários partidos e, infelizmente, talvez seja a fração minoritária de cada um desses partidos com algumas exceções. Até mesmo no campo da esquerda você tem partidos que não compreendem a questão do nacionalismo, preferem estar afiliados a doutrinas externas.

Wagner Nabuco: Qual a sua posição sobre essa questão que o neto do Jango tem levantando do fato de ele ter sido assassinado. E se o Jango depois, o único presidente que nós temos que morreu no exílio, se ele recebeu honras de Estado.
Brizola Neto: Não, só houve esse processo agora.. Hoje não tenho dúvidas de afirmar que o presidente João Goulart foi assassinado por esse processo de cortes de cabeça das principais lideranças políticas de toda a América Latina pela pressão que surgiu, até dos próprios Estados Unidos a partir do presidente Jimmy Carter, que houvesse um processo de reabertura da América Latina. Houve um acordo com as ditaduras militares dos países da América Latina - Brasil, Chile, Argentina, Uruguai -, e nesse acordo ficou tratado que se cortariam cabeças, e eu tenho certeza que uma das cabeças cortadas foi a do presidente João Goulart. Olha, você tem outros exemplos, inclusive dentro do Brasil, são questionados, o próprio Juscelino, é questionado o assassinato do Letelier nos Estados Unidos, o colaborador do presidente Allende, e a morte de diversas lideranças do Movimento dos Montoneros na Argentina, dos Tupamaros no Uruguai. Digo que a própria cabeça de Leonel Brizola só não foi cortada porque ele foi avisado pelo governo do Uruguai que corria risco de vida e foi tomar asilo nos Estados Unidos, pedindo inclusive para o próprio presidente Jimmy Carter que concedesse esse asilo.
Para ler as entrevistas completas e outras reportagens confira a edição de maio da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou assine a versão digital da Caros Amigos.

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3 comentários:

Elfei disse...

Verdade seja dita, vejo com olhos de preocupação a forma como foram promovidas as privatizações no Brasil (todas a preço de banana e cujas verbas não foram revertidas para as necessidades do País.) ao longo do governo Fernando Henrique, e posteriormente com o governo lula foi bastante sonso em relação à determinadas políticas internas no país.
Paira sobre o país um futuro de incertezas políticas, já que boa parte dos políticos nacionais têm suas agendas intermitentemente atreladas à alguma multinacional, ou mesmo, em níveis mais básicos, há uma enorme despolitização - processo efetuado com perfeição pelos sucessivos governos ao desmantelar a qualidade de ensino, concentração de investimentos na região sul-sudeste, ao longo de décadas de privações dos direitos constitutivos das regiões norte-nordeste(bem como a permissividade de décadas de governos corruptos e autoritários na região).
Há um fomento enorme, e sinto estes ventos desde a infância (tenho apenas 24 anos, ou seja, tendência recente), de movimentos separatistas por todo o Brasil, mais claramente da região do extremo-sul (remontando períodos históricos).
Não entendo a enormidade que significa o PAC, na verdade falta clareza nesses planos e nas obras, e no que e em que regiões ela promoverá "desenvolvimento".
Há a clara tendência dos políticos em tentar polarizar novamente a ideologia populacional, criando pólos de argumentações sociais, culturais e etnocêntricas, abrindo perigosos precedentes.
Dizer que não se pode ter um presidente analfabeto é quase o mesmo que dizer "que um pobre não esteja no poder" e nesse tipo de discurso há uma falta clara e evidente de estratégia, o que me parece proposital no sentido de manipular a maior parte da população em uma direção de voto.

Fiquei triste ao saber das negociações escusas do nosso presidente, com vários setores que deveriam estar na mão do estado e não com o capital totalmente exposto às oscilações dos mercados virtuais da bolsa.
A própria petrobrás é um exemplo drástico do que representa uma empresa parcialmente estatal, mas não integralmente.
Seus preços são estabelecidos pela OPEP, inclusive quando se trata de investimento 100% nacional e não de exportação. O que me faz ter dúvidas quanto à credibilidade da administração da mesma, já que não dá para saber ao certo qual o objetivo majoritário tanto da parcela governamental de administração, quanto da parcela internacional.
Paira uma dúvida perene, principalmente após o arquivamento da CPI da PETROBRÁS, sobre a legitimidade dos termos de administração da mesma.

Fico triste de ver em nossos dirigentes, tanto entreguismo e servidão ao estrangeiro, não é uma visão esquerdista, tampouco de direita, porque os dois lados desta moeda não valem o que comem, quando se fala de tesouro NACIONAL, de SOBERANIA,e INDEPENDÊNCIA tanto um quanto o outro pouco se importa, se nivelando por baixo a qualquer ditadorzinho de pais de quinta, caso de vários fantoches em países Africanos.
Mais o que mais me choca, e isso sim é de chocar, é que mesmo roubando tanto, fazendo negociatas, não conseguem perceber que dentro de um modelo mais saudável de administração pública não haveria a menor necessidade de promover tais negociatas, ter índices de desenvolvimento de um país de primeiro mundo é acima de tudo ter os índices de corrupção o mais baixo possível, liberdade, real, de ir e vir, maior confluência cultural e respeitabilidade internacional, bem como índices reais de segurança e bem estar social.

Agindo desta forma só fazem ser enxergados de cima para baixo, como lixos humanos que são por qualquer europeu de alta classe (aqueles que de fato importam, porque investem), deixando um legado podre para seus familiares vindouros (que muitas vezes só alimentam ainda mais ).

Antes de ser uma questão ideológica é uma questão de ética da mais simples categoria.

Elfei disse...

A frustração foi tão grande que me vi obrigado a mudar de área...Mas fico na dúvida, para a minha geração, que foi tão massificada e emburrecida ao longo da década de 90 (me vejo como uma raridade entre tantos idiotas e imbecilizados com quem estudei numa escola federal e me distancio dos ideais de Che Guevara e Fidel desde os tempos de estudante, primeiro por acreditar que pouco se relacionam com a realidade brasileira, segundo por projetarem uma idéia de perfeccionismo do estado que inexiste, terceiro por corroborarem um posicionamento de poda à liberdade de expressão(coisa que no Brasil só aconteceu com o AI-5, até então a censura era tão facilmente burlada e desrespeitada que não pode nem dizer que se tratasse de algo sério) mas que em cuba ainda é tão real agora quanto fora no começo).

Tenho ressalvas enormes às ocupações de fundos financeiros Americanos e internacionais, porque o capitalismo selvagem na prática tira o poder de decisão regional e posterior autonomia, é mais uma maneira cínica e covarde de invasão territorial, a invasão financeira- sem necessariamente criar desenvolvimento local ou mesmo empregos - nesse aspecto não podemos deixar de aplaudir o fato do Brasil ter uma participação na bolsa de valores considerada BAIXA para o volume de empresas que atuam no país. (O que também nos ressalvou e muito dessas crises Mundiais, mas não podemos esquecer do Exemplo da Sadia, que de compradora agressiva da perdigão passou a ser PARTE da perdigão, por suas negociações não muito claras e negócios paralelos arriscadíssimos).

Na verdade acredito que o Brasil encontre-se de fato numa situação muito ruim no âmbito político, de um lado um cretino cujo partido ou coligação fez questão de privatizar a preços irrisórios grandes indústrias Nacionais (caso do Serra), de discurso antipático e bastante elitista - o que me faz lembrar da mentalidade paulistana irresponsavelmente liberal quando se fala de negociações com estrangeiros - Do outro lado temos uma mulher de pavio curto, inexperiente em administração pública, de boca solta e de palavras perigosamente irresponsáveis - mas bastante sinalizadoras de sua visão atrasada de um país que morreu a mais de 20 anos atrás, complica-se aí, o fator altamente populista que será o provável tom de sua candidatura, apelando a uma população sequiosa por mais recursos da União para abaster suas despensas, gastarem com academias de ginástica, tênis caros, idas à parques aquáticos (sim, qualquer um que vá algum dia a um desses verá a espessa camada de pessoas que claramente não tem onde "cair mortas" mas que lotam parques aquáticos do interior do estado do RJ, zé povinho tem prioridades estranhas e deturpadas, evidentemente não pensando no futuro)

Elfei disse...

Acho engraçado quando vejo em jornais de bairros, como os de copacabana, cartas de leitores reclamando da ordem pública, da sujeira das praias, e algumas até procurando culpados em outros cariocas das mazelas acometidas localmente, dividindo, muitas vezes, a sociedade em dois pólos surreais.
A classe média brasileira tem a arrogante pretensão de pertencer "ao primeiro mundo", no sentido de que seu padrão de vida é elevado(sou classe média, vivo de frente para a praia, estudei nos melhores colégios, e já morei fora), e fico pasmo com o radicalismo que determinados setores da classe média costuma apresentar em seus discursos, apontando dedos para os outros mas ignorando suas próprias debilidades (isso é do ser humano, fazer o que?).

Nessas horas fico na dúvida se o Brasil não estaria merecendo uma nova ditadura Militar, sem a instituição do penoso AI-5, porque algo que muitos ignoram é que antes do AI-5 de fato o padrão de vida da classe média Brasileira (até então extensa maioria da população, diga-se de passagem), era elevadíssimo.

Os níveis de educação, saúde, segurança eram tão altos e chegavam a ser superiores aos de países europeus - Isto dito de toda e qualquer pessoa não constituinte de uma classe artística degenerada e alienada (que vive às custas do estado por terem ouvido discursos de 6 horas e 50 minutos de Fidel Castro quando foram presos por causarem desordem pública, ou mesmo destruírem patrimonio público...).

É fato conhecido que nossa ditadura, de todas as latinas, e as do mundo foi sem dúvida a mais branda, a mais restritiva e a menos violenta.

Parece absurdo eu, com apenas 24 anos, afirmar sobre um tempo em que não vivi, também conheço o outro lado da moeda, de presos políticos reais e que de fato sofreram torturas e castigos físicos, mas se não estão mortos procure algum que viva sob as tetas do Estado fora da classe política-artística. Não vai encontrar NUNCA. Porque existe a questão da ética.

Se o objetivo desses movimentos era a democracia (instrumento ardiloso e perigoso nas mãos de um povinho ignorante e analfabeto, mas ferramenta de real mudança nas mãos de povos de formação acadêmica decente), foi atingido e ponto final, os sacrifícios feitos já pela conquista foram recompensados, para que onerar esta NOVA sociedade, este regime DEMOCRÁTICO novo estabelecido com um gasto que tinha relação com o EXTINTO regime Ditatorial Militar?
Chega a ser estupidez só de pensar nisso.

Eu, com meus 24 anos, acho um absurdo ter de pagar impostos e estes impostos ao invés de serem revertidos em investimentos regionais e desenvolvimento do país serem na verdade investidos em uma gente inútil.

Tendo não só isso em mente, mas todas as notícias ruins a respeito de exploração estrangeira de nossas riquezas, entreguismo de nossos políticos, passando por cima das instituições militares, desrespeitando a SOBERANIA NACIONAL, que vai muito além de qualquer picuinha política, vivendo numa região abarrotada de gente oriunda de regiões de investimento zero e de crescimento negativo (muitas das quais totalmente nas mãos de indígenas ou multinacionais), fato que aumentou exponencialmente os problemas sociais da região Sudeste, criando a verdadeira explosão em número e tamanho das favelas cariocas a partir da década de 80, bem como tendo meu destino vetado numa universidade pública por conta das cotas (sou pardo, mas não sou pobre, tive notas que teriam me classificado facilmente entre os 30 ao final da lista em Direito UERJ do ano de 2004, nem preciso dizer que o primeiro da lista de cotista em desempenho teve 60% de aproveitamento total pelo menos 20% abaixo do MEU aproveitamento).

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