Movimento contra a Transposição do Rio São Francisco se reuni em São Paulo para debater propostas do projeto do governo federal e os impactos que deve causar à principal bacia da região nordeste do país.
Um dos pontos levantados pelos participantes do encontro realizado no espaço Artestudio Mauro Chaves, na última semana, foi a energia. Isso porque é possível, segundo especialistas, que a produção das hidrelétricas sofra com a falta de políticas de revitalização e, principalmente, com a diminuição da vazão nos reservatórios, caso haja o desvio de água a partir da finalização do projeto.
Potencial de Energia Elétrica
“95% da energia do nordeste vem do São Francisco. Hoje temos na região um potencial de 10 mil MW que geram durante um ano 50 milhões de MW hora. Se mantivermos a meta de crescimento de 5% do PIB ao ano, daqui a 10 ou 12 anos vamos ter que dobrar a produção de energia do nordeste. Ou seja, onde vai ser produzida essa energia tendo em vista já todo o potencial do rio explorado em sua plenitude?”, destacou o engenheiro agrônomo e pesquisador titular da Fundação Joaquim Nabuco, João Suassuna.
“O São Francisco é um rio hidrologicamente pobre. Ele tem uma vazão média de 2.800 m3 por segundo em uma área de bacia igual a 640 mil km2. Para se ter idéia, a bacia do rio Tocantins tem a mesma área da bacia São Francisco, mas o Tocantins tem vazão de 11.800 m3 por segundo”, uma proporção cinco vezes maior, segundo Suassuna.
O engenheiro afirmou que o sistema do São Francisco não dispõe atualmente de condições para gerar energia a todo complexo implantado. As hidrelétricas de Xingó e Itaparica (a primeira se localiza entre os estados de Alagoas e Sergipe, e a segunda em Pernambuco) foram projetadas para trabalhar com 10 máquinas cada uma, e hoje ambas tem 3 máquinas em funcionamento.
“A Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) não implanta novas máquinas porque o São Francisco não tem capacidade de movimentar mais turbinas”, disse.
Em janeiro, quando as represas estavam com baixa reserva de água, a Chesf aumentou o nível de Sobradinho, na Bahia, mantendo uma quantidade maior de água entrando do que saindo. Cerca de 1.100 m3 por segundo passaram a ser lançados das turbinas para fora da represa, um nível considerado baixo, já que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) estabelece uma quantidade mínima de 1.300 m3 da vazão que deve sair do São Francisco em direção a foz.
“A medida da Chesf, autorizada pela ANA (Agência Nacional de Águas), foi o que resultou na estiagem da região, em janeiro. Quando o rio chega a esse nível, os peixes somem, prejudicando a população local que depende da pesca para sobreviver”, explicou.
Impactos do Projeto sobre a Bacia
O presidente do Comitê do Rio das Velhas, em Minas Gerais (um dos afluentes do São Francisco), e professor de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Apolo Guimarães Jr., declarou que o projeto de transposição apresentado pelo governo não analisa todo o complexo da bacia:
“Uma bacia hidrográfica é um território que tem que ser pensado como um todo; e o que o governo está fazendo é analisando os trechos das obras da região do semi-árido. No entanto, existem no projeto barragens para serem feitas no rio Paracatu (responsável pelo maior volume de água que o São Francisco Recebe), no rio Urucunha, no rio Abaeté e no rio das Velhas, todos do Estado de Minas Gerais”, disse.
Cerca de 74% das águas que a bacia do São Francisco recebe vem do território do estado de Minas Gerais e, segundo o professor, o problema ao transformar um rio em represa é o acumulo de matéria orgânica parada responsável pela eutrofização. Esse processo vai gerar mais algas, bactérias e cianobactérias, que intoxicam os peixes e a água represada, alterando por fim todo ecossistema local.
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