Publicada em 24/09/2008 às 22h16m
Liana Melo
RIO - As desigualdades raciais na educação se refletem na diferença dos rendimentos da população preta ou parda em comparação com os brancos. Com menos acesso a todos os níveis de ensino, quando chegam ao mercado, os trabalhadores pretos e pardos ganham em torno de 50% a menos que os brancos. Mas o déficit educacional não é a única explicação para a desvantagem salarial, já que mesmo dentro dos grupos de mesma escolaridade, o rendimento-hora dos brancos é até 40% mais elevado. (Marcelo Paixão fala sobre desigualdade racial na educação)
Os dados foram apresentados no documento Síntese de Indicadores Sociais, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do ano passado (Pnad 2007).
Se a cor ou a raça não é elemento estruturante de apropriação de bens e riqueza, deveríamos ter a metade de brancos e de pretos e pardos nas universidades
Mesmo com a adoção de políticas públicas e ações afirmativas para os negros em mais de 60 universidades, aumentou a desigualdade entre negros e brancos no acesso ao ensino superior. Se no Brasil 9% dos jovens têm terceiro grau completo, entre brancos a taxa sobe para 13,4%, mas cai para 4% entre pretos e pardos. Houve uma melhora em relação a 1997, quando o percentual de pretos e pardos com diplomas era de 2,2%, e entre os brancos era de 9,6%. No entanto, o IBGE alerta que houve apenas uma melhora isolada em cada um dos grupos, mas não uma redução da desigualdade. Em 1997, o hiato entre brancos e negros era de 7,4 pontos percentuais, mas, dez anos depois, passou para 9,4.
Dos jovens de 21 anos, apenas 8,4% dos pretos e pardos estavam no ensino superior em 2007; entre a população branca, a taxa era de 24,4%.
- Se a cor ou a raça não é elemento estruturante de apropriação de bens e riqueza, deveríamos ter a metade de brancos e de pretos e pardos nas universidades - diz José Luiz Petrucelli, do IBGE.
Segundo o estudo, entre a fatia dos 10% mais pobres da população, a participação de pretos e pardos no rendimento total das famílias é imensamente superior à dos brancos: 73,9% contra 25,5%. Já entre o 1% mais rico, a tendência se inverte: 86,3% de brancos, 12% de pretos/pardos.
Na distribuição da população por cor ou raça segundo o rendimento, há uma diminuição sistemática do percentual de pretos e pardos à medida que aumenta a faixa salarial. No estrato mais pobre da população, aparecem 14,6% de pretos ou pardos, contra 5,4%. Já na camada mais rica, os brancos representam 15,8%, contra 4,1% de pretos e pardos.
Leia mais: Qualidade de ensino é o principal desafio no combate ao analfabetismo
Leia mais: Mulheres ainda têm menos cargos de chefia do que os homens, diz IBGE
Nenhum comentário:
Postar um comentário