14 de fevereiro de 2009

Cresce tensão social na Rússia

 

GEERT GROOT KOERKAMP

30-12-2008

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A polícia russa antimanifestações anda muito ocupada ultimamente. A maioria dos russos sabe o que a crise está fazendo com a vizinha Ucrânia. Quase todos os dias, os canais de televisão controlados pelo Estado trazem notícias sobre as calamidades e o caos político de lá; o desmoronamento da economia, o descontentamento da população e o aumento das reivindicações pela renúncia do presidente.

Ação violenta
Mas os mesmos telespectadores quase não recebem notícias sobre o que está acontecendo em seu próprio país. Embora não seja menos preocupante. Recentemente, houve uma ação violenta da polícia antimanifestações em Vladivostok, no extremo leste da Rússia. O alvo foi uma demonstração pacífica contra o aumento drástico dos impostos sobre carros importados. A medida entra em vigor em janeiro e tem como objetivo incentivar a indústria automobilística russa. Mas centenas de milhares de pessoas no extremo leste do país, que ganham a vida com a venda de carros japoneses de segunda mão, serão prejudicadas. Outros milhões de russos não poderão mais se permitir comprar carros importados.
A polícia reagiu com violência contra os demonstrantes e também contra os jornalistas que tentavam filmar o protesto. Mais de sessenta pessoas foram presas de maneira brutal, entre elas algumas equipes de televisão. Um cameraman da televisão estatal japonesa viu sua câmera ser espatifada e um fotógrafo que passou mal teve auxílio médico negado. A ação da polícia teve um forte caráter intimidador.
Renúncia de Putin
Um detalhe significativo é que a unidade policial que atuou em Vladivostok vinha de Moscou. Os agentes foram enviados por avião a uma distância de seis mil quilômetros para lidar com um protesto de rua não-autorizado. O fato de que o espectador de televisão médio não tenha visto nada disso nos canais russos só fez aumentar a fúria em Vladivostok. Novos protestos estão sendo planejados. A novidade é que nestas demonstrações cada vez mais a palavra de ordem pede a renúncia do governo e do premier Vladimir Putin, um grito que até pouco tempo era emitido apenas por pequenos grupos de oposição.
O envio de policiais de Moscou é um sinal indiscutível de que os líderes russos estão nervosos com relação à crescente tensão social, mesmo que isso nunca seja admitido publicamente. Por toda a Rússia há fábricas que estão há semanas, e em alguns casos meses, paradas. Trabalhadores são dispensados com férias não remuneradas ou não recebem seus salários. É muito provável que o início de 2009 traga uma nova onda de desemprego.
Desemprego em massa
As conseqüências da crise financeira são preocupantes principalmente nas chamadas "mono-cidades", onde a maioria da população trabalha em uma única fábrica ou em um ramo único da indústria. Se a produção em uma cidade assim fica estagnada, o desemprego pode chegar a 80%. Em Injevsk, nos Urais, as máquinas das fábricas estão paradas. Alguns milhares de pessoas foram para as ruas para demonstrar contra o fechamento e o aumento das tarifas de gás e energia elétrica. Na Sibéria, mineiros entraram por curto período em greve de fome, porque há meses não recebiam seus salários. Na província de Ivanovo, várias fábricas de tecidos fecharam as portas por tempo indeterminado e uma fábrica de alumínio em Nadvoitsy, na Carélia, fechou.

Os números da produção nos últimos meses deixam poucas esperanças de melhora. Em alguns setores a produção industrial teve enorme diminuição percentual. Alguns economistas já falam em catástrofe.
Desestabilização
O Ministério do Interior, em Moscou, preocupa-se com o mal-estar da economia. Pouco antes do Natal, um subministro admitiu pela primeira vez que a crise pode ‘desestabilizar' o país. Se o ministério se prepara para ações mais rígidas ou se irá tentar empurrar a responsabilidade para outro, ainda não se sabe.

 

Típicas são as palavras do presidente do parlamento Boris Gryslov, líder do partido do Kremlin, Rússia Unida, e ex-ministro do Interior. Após a repressão da demonstração em Vladivostok, Gryslov disse que "toda violação da lei deve ser punida: esta é a marca de um Estado forte". Um discurso que não foi bem recebido em sua cidade natal, Vladivostok.

http://www.parceria.nl/atualidade/variospaises/20081230-vp-russia

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