Recorde de despejos em agosto é igual à média de um ano, antes do colapso nos EUA. Em 2009, 1 milhão de famílias perderam as casas e a previsão para este ano é de mais 1,2 milhão de despejos
tomadas pelos bancos nos EUA – um número recorde -, revelou a Realty Trac, a principal consultoria sobre mercado imobiliário. Um aumento de 25% em relação a 2009. Outras 147.000 famílias tiveram o leilão de suas casas marcado pelos bancos.
Assim, num único mês, quase 400 mil mulheres, crianças, chefes de família e idosos foram despejados de suas casas e jogados na rua. Alguns, empurrados de volta à casa dos pais ou de parentes; outros, em busca de precária habitação alugada e até albergues. Ou mesmo, nos casos mais dramáticos dos “novos pobres”, dormindo no carro ao relento. E mais 588 mil pessoas foram colocadas na iminência de despejo.
Ainda segundo a Realty, 1 milhão de casas foi tomado pelos bancos em 2009 – isto é, 1 milhão de famílias perderam seu teto. A consultoria previu que esse total irá aumentar este ano para 1,2 milhão. A média, antes do colapso nos EUA, era de 100.000 casas ao ano – um décimo dos números atuais. Agora, além dos já citados 2,2 milhões de casas (1 milhão/2009 + 1,2 milhão/2010 de despejos), há outros 3,2 milhões em algum estágio de cobrança judicial.
DESASTRE
O desastre se repete no país inteiro, mas é mais grave em Nevada, Flórida, Arizona, Califórnia, Idaho, Utah, Georgia, Michigan, Illinois e Hawai. 1 de cada 381 casas na mira dos abutres. As vítimas - mutuários que ficaram desempregados, ou que perderam a maior parte da aposentadoria em ações que viraram fumaça, e seus familiares. E que viram o preço de suas casas despencar, tornando impossível pagar a hipoteca, e sem ter como vender ou refinanciar.
Entre notificações de inadimplência, marcações de leilão e “reintegrações de posse”, os bancos acionaram um total de 338.886 casas em agosto – mais 4% em relação ao mês anterior. Também venderam em liquidação 41.075 casas tomadas. Menos de um-terço das casas retomadas “estão no mercado”, afirmou o vice-presidente da Realty, Rick Sharga.
É que, ao mesmo tempo que os bancos precisam limpar seus balanços dos maus empréstimos, não podem despejar de uma só vez todas as casas tomadas para venda, porque então os preços, já em recorde de baixa, iriam ao chão. 23% das casas estão “submersas”, isto é, seu valor atual é menor que a dívida com o banco, e em vários casos os proprietários devolveram as chaves e foram embora por absoluta impossibilidade de arcar com a hipoteca.
“Menos compradores significa que irá levar mais tempo para liquidar o estoque em excesso; quanto mais durar esse estoque, maior a pressão sobre os preços no conjunto do mercado de imóveis”, assinalou Sharga. “Quanto maior a pressão [para baixo] sobre os preços, mais casas estão em risco de irem a liquidação por terem seu valor derrubado”, acrescentou.
LIQUIDAÇÃO
A Associação Regional de Corretores de Imóveis de Orlando, Flórida, - uma das áreas mais afetadas - exemplificou como isso vem ocorrendo. Uma casa que, há três anos atrás, tinha preço médio de US$ 265.000, agora é oferecida a US$ 165.000. Mas, em liquidação, que cai para US$ 100.000, e mais ainda, para US$ 72.000, se for retomada pelo banco, segundo a corretora Isabel Ward. “A venda das casas tomadas pelos bancos e as liquidações estão definitivamente derrubando os preços. Vendas em liquidação existiam há muito tempo, mas não prevaleciam. Hoje, uma em cada duas vendas é por liquidação”.
Mas, como os noticiários de televisão se cansaram de mostrar, houve casos ainda mais extremos. Casas vendidas por US$ 1, para se livrar da hipoteca; redondezas inteiras, antes altamente valorizadas, e agora esvaziadas. A derrubada do preço das casas e as hipotecas impossíveis de serem pagas interagem com a fraqueza na construção de casas novas e na revenda de casas usadas, em vigor, para ameaçar o setor imobiliário de – como os norte-americanos gostam de chamar – um “duplo mergulho” na construção, que poderá atingir em cheio os bancos.
O aumento recorde no número de casas tomadas pelos bancos foi apontado pelo analista John Burns como sintoma de que “está vindo à luz o estoque de casas oculto pelos bancos”. Já as vendas de novas casas, após melhora em julho, “caíram 12% em agosto”. “Ano-sobre-ano, a queda foi de 32%, o mais baixo nível já registrado desde 1963”. Como indagou outro analista do setor imobiliário, de outra cidade assombrada pelo “foreclosure”, Phoenix: “está vindo uma nova maré de inadimplência?”
ANTONIO PIMENTA
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