A Conferência de Revisão do encontro de Durban sobre Racismo, Xenofobia e Intolerância, que acontece em Genebra até 24 de abril, foi marcada em suas primeiras sessões pelas acusações do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad contra Israel e pelas vaias quando foi interrompido com gritos de ‘assassino' tanto em plenário como na entrevista coletiva à imprensa.
Ahmadinejad é, até agora, o único chefe de estado presente à conferência, que se celebra sob um manto polêmico e o boicote dos EUA, Israel, Canadá, Austrália, Alemanha, Itália, Polônia, Nova Zelândia e Holanda.
Ahmadinejad, em primeiro plano:
críticas à Israel e à ONU.
Aconteceu o que estes países temiam, o presidente iraniano condenou o que chamou de "política repressiva" e "brutalidade" de Israel contra os palestinos.
Os delegados da União Europeia abandonaram o recinto após a entrada do presidente iraniano, que em sua intervenção denunciou essas atitudes do estado de Israel, apoiadas pelos EUA e vários governos ocidentais, como racistas. Horas antes, temendo o curso dos acontecimentos, Israel chamou seu embaixador na Suiça, em protesto ao encontro entre Hans-Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética, e Mahmud Ahmadinejad.
Como em Durban
Repete-se em Genebra o que aconteceu na Conferência de Durban, há oito anos, que também foi marcada pelo bate-boca surgido logo que as primeiras críticas a Israel foram feitas por países árabes. Naquela ocasião, Estados Unidos e Israel abandonaram o encontro antes do fim, mas os países europeus mantiveram sua presença para assegurar-se de que a declaração final eliminaria a crítica a Israel promovida pelas nações islâmicas.
Em uma coletiva de imprensa posterior a seu discurso, o presidente iraniano aproveitou para manifestar categoricamente que o Conselho de Segurança da ONU com sua estrutura atual é totalmente ineficaz. "O direito de veto é uma violação flagrante e delirante que deve ser eliminada", disse Ahmadinejad, afirmando que esta prerrogativa constitui-se num ato discriminatório em relação aos outros países-membros das Nações Unidas. Portanto, o Irã mantém sua proposta de um país, um voto.
Outra visão
A julgar pelas fontes contatadas pela Radio Nederland em Genebra, a realização desta conferência é por si só um sucesso, mesmo que não estejam presentes nações poderosas, que com sua ausência tentaram boicotá-la. Neste sentido, o panamenho Humberto Brown, representante do Comitê de Seguimento da Conferência de Durban, considera que a não participação dos EUA é um reflexo das contradições que surgem no seio do novo governo. "Barack Obama é vítima das prioridades da política exterior norte-americana".
Humberto Brown cita como exemplo o fato do tema de Israel ter se convertido no centro das discussões, fazendo com que o presidente dos EUA optasse pela ‘invisibilidade' de seu país, sobrepondo este compromisso político à necessidade de que os imigrantes e negros norte-americanos se vissem representados na conferência.
Por um documento equilibrado
Consultado pela Radio Nederland, o diretor da Rede Internacional de Direitos Humanos, o colombiano Ramón Muñoz Castro, lamentou essas grandes ausências dos países já mencionados, que consideram que o documento final tem pontos inaceitáveis. Não obstante, "todos esperamos obter um texto o mais equilibrado possível, que permita avançar no tema do racismo e da discriminação", afirmou.
Sem deixar de lado a importância que os Estados Unidos participem da conferência, Muñoz de Castro disse que, desde sua instalação, "o Conselho de Direitos Humanos tem operado sem contar com a presença de Washington, e pouco a pouco tem tratado de fazer seu trabalho. Todos sabemos que o enfrentamento político subsiste de todas as maneiras no Conselho. Isso dificulta as soluções e o alcance de documentos equilibrados, mas é a realidade política atual, é o que estamos vivendo."
Participação brasileira
O ministro da Secretaria Especial de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (Seppir), Edson Santos, chefe da delegação brasileira na Conferência de Revisão de Durban, critica o boicote dos Estados Unidos e afirma que o documento aprovado e negociado na semana passada "não traz nenhum tipo de constrangimento ao povo norte-americano e nenhuma menção desonrosa ou agressiva ao estado de Israel".
"Não participar é um problema para os Estados Unidos. Principalmente agora, que eles têm um presidente negro, uma liderança que busca restabelecer ao país a condição de diálogo no restante do mundo", afirmou o ministro brasileiro.
Ministro Edson Santos, chefe da delegação brasileira.
Foto: Marcello Casal/ABr
Ontem em Israel, durante abertura da cerimônia anual do Dia da Lembrança pelos seis milhões de judeus que foram mortos pelos nazistas alemães e seus colaboradores durante a Segunda Guerra Mundial, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também chamou a conferência de Genebra de anti-israelense.
Em comunicado divulgado em Londres, a Anistia Internacional critica o boicote, ressaltando que os governos precisam estar presentes para "defender o que é justo e rejeitar com energia tudo o que é questionável".
Também faz um apelo para que os governos participantes continuem comprometidos com a luta contra o racismo. Para isso, segundo a Anistia Internacional, "devem resistir com força e responder a qualquer tentativa de politizar a conferência ou distrair do objetivo principal, que é fazer frente a qualquer tipo de racismo, discriminação racial, xenofobia ou intolerância em qualquer parte do mundo". (Agência Brasil)
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