17 de setembro de 2008

POBREZA

 

A Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) pretende ampliar o debate sobre a questão populacional no Brasil. Eles querem fugir da idéia simplista, enraizada nas teorias de Thomas Malthus (1766-1834), de que o excesso de pessoas no mundo causa fome, pobreza e problemas ambientais. O assunto adquiriu maior dimensão quando a Revista Veja publicou, em fevereiro deste ano, em suas páginas amarelas, uma entrevista com o pesquisador Paul Enrlich na qual ele expõe suas convicções neomalthusianas. Esta postura “estreita” tem sido difundida por importantes setores da sociedade brasileira, tanto políticos quanto empresariais, que consideram a redução da fecundidade dos pobres uma saída para muitos problemas sociais. “É uma postura simples, que não requer grandes programas públicos”, afirma George Martini, presidente da Abep.

Martini enumera outros aspectos populacionais que influenciam a estrutura socioeconômica brasileira, como as mudanças na composição da população em termos de idade e sexo, mudanças na força de trabalho e a queda na taxa de fecundidade no país. A esses fatores se relacionam, por exemplo, o envelhecimento da população (e os maiores gastos com saúde e aposentadorias), a maior longevidade das mulheres em relação aos homens e a diminuição na disponibilidade de mão-de-obra. Há, ainda, a questão da distribuição espacial: “quatro em cada dez brasileiros moram em cidades com mais de um milhão de pessoas, mas quando se pensa em políticas ambientais, o foco está nas áreas rurais, embora tal problema esteja concentrado no meio urbano”, avalia.

Paul Ehrlich tem 73 anos e está ligado à Universidade de Stanford, na Califórnia. É autor do controverso best-seller “A bomba populacional” (1968), no qual escreve que a falta de comida causaria a morte de milhões de pessoas nas décadas seguintes. Suas previsões, contudo, não se confirmaram e, desde aquela época, a proporção de famintos em relação à população mundial vem caindo. Na entrevista, Paul Ehrlich sustenta sua tese de que a Terra está chegando ao limite da sustentabilidade da vida humana, com frases de impacto, como "com menos gente no mundo, certamente a pobreza e a fome não teriam grassado e se tornado um fenômeno com as proporções de hoje".

A Abep enviou carta ao diretor de Redação da Revista Veja, aprovada e assinada por 110 pesquisadores, mas a revista preferiu ignorar o repúdio dos especialistas e não divulgou o texto. Ao invés disso, publicou apenas os elogios de dois leitores que concordam com os conceitos do pesquisador. Nas previsões de Ehrlich, a Terra seria um lugar bom para viver com 2 bilhões de habitantes. "O equilíbrio natural seria assegurado se o mundo tivesse apenas 30% dos habitantes de hoje. De acordo com meu estudo, todas elas seriam bem alimentadas e educadas, viveriam em cidades vibrantes, teriam bons empregos e não mais ouviriam falar no desaparecimento da camada de ozônio", enfatiza.

Para quebrar o ciclo catastrófico decorrente do excesso populacional, o pesquisador de Stanford afirma à Veja ser inevitável que os governos intervenham para limitar a venda de produtos cujo consumo excessivo ocasione prejuízos para o meio ambiente, como a gasolina e os derivados de petróleo. Defende ainda a necessidade de se promover uma mudança de hábitos de consumo para evitar o desperdício e manifesta sua crença em políticas de redução da fecundidade, mas admite já ter abandonado idéias como a cobrança de impostos sobre berços e fraldas e a esterilização (por lei) de indianos com mais de três filhos.

No Brasil, segundo Roberto do Carmo, professor do Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas (Nepo/Unicamp), as taxas de crescimento populacional caíram significativamente, o que se deve principalmente ao fato da fecundidade - número médio de filhos por mulher em idade reprodutiva - ter reduzido de seis para dois filhos por mulher. "O Brasil já atingiu o nível de reposição da população, que é de 2,1 filhos. Com essa fecundidade, projeta-se o ‘crescimento zero’ da população brasileira para o ano de 2050". Ele compartilha a opinião de vários cientistas de que o crescimento da população tende a se estabilizar ou mesmo diminuir em todo o mundo, a partir da metade deste século.

Mariana Perozzi
http://www.comciencia.br/comciencia/?section=3&noticia=80
acesso em 31/03/2006

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