3 de janeiro de 2011

Dean Baker: “A Irlanda deveria aprender com a moratória da Argentina”

“O que o povo da Irlanda e cada país devem compreender é que se concordarem em jogar pelas regras dos banqueiros, irão perder”, adverte o economista americano Dean Baker. “A Irlanda poderia aplicar moratória às suas dívidas”, completa

O economista Dean Baker, diretor do Centro de Economia Política e Pesquisa, dos EUA, condenou o arrocho do FMI/BCE e assinalou que “mesmo um país relativamente pequeno como a Irlanda tem opções”. Assim, a Irlanda “poderia aplicar uma moratória às suas dividas”, e deixar o euro. Para ele, “esta dificilmente é uma melhor primeira opção, mas se a alternativa é uma restrição indefinida de desemprego de dois dígitos, então deixar o euro e a moratória parece muito mais atraente”.
“A Irlanda devia estudar as lições da Argentina”, aconselhou Baker. “O que o povo da Irlanda e cada país devem compreender é que se concordarem em jogar pelas regras dos banqueiros, irão perder”.
  O BCE e o FMI insistirão que uma moratória “é o caminho para o desastre, mas a sua credibilidade neste ponto é quase zero”, apontou Baker, sobre o “precedente óbvio”. “Em 2001, o FMI estava pressionando a Argentina para prosseguir com medidas de austeridade cada vez mais rigorosas. Tal como a Irlanda, a Argentina também tinha sido uma criança-modelo das hostes neoliberais antes de entrar em dificuldades”.
  Mas o FMI pode mudar rapidamente, ressaltou. “Seu programa de austeridade baixou o PIB argentino em quase 10% e empurrou a taxa de desemprego bem para dentro da casa dos dois dígitos. No final de 2001, era politicamente impossível para o governo argentino concordar com mais austeridade”. [E havia Nestor Kirchner, ao invés de um Menem ou outro De La Rúas]. Como resultado – destacou Baker – a Argentina “rompeu o laço supostamente indissolúvel entre a sua moeda e o dólar e deixou de pagar a sua dívida”.

FMI

  No segundo semestre de 2002, “a economia voltou a crescer”. Este foi o início de “cinco anos e meio de crescimento sólido, até que a crise econômica mundial finalmente teve os seus efeitos em 2009”, ressaltou. O FMI – salientou o economista - fez tudo o que podia para sabotar a Argentina, que ficou conhecida como a “palavra A”, e “até usou projeções falsas” do crescimento do país na tentativa de “minar a confiança” nas mudanças feitas.
  Baker insistiu em que “a dor que está sendo infligida à Irlanda pelo BCE/FMI é completamente desnecessária”. Ele comparou com a situação em que “um bombeiro ou uma equipe médica realizam um salvamento”, quando em geral “a pessoa fica melhor em decorrência”. Mas não é isso que acontece quando “o socorrista é o Banco Central Europeu (BCE) ou o FMI”.
  O economista norte-americano lembrou que a Irlanda era tida, antes da crise, como “modelo de probidade fiscal”, com grandes excedentes nos cinco anos prévios. “O problema da Irlanda não era certamente gastos de governo fora do controle, era o sistema bancário temerário que alimentou uma enorme bolha imobiliária”, destacou.
  “Só mentecaptos podem, ainda, acreditar que o FMI e o BCE não são instituições políticas”, assinalou. “A decisão de fazer os trabalhadores da Irlanda, mais os de Portugal, Espanha, Letônia e outros lugares, pagarem pela irresponsabilidade dos banqueiros, é inteiramente política”, sublinhou. “Não há nenhum imperativo econômico que diga que sejam os trabalhadores que devam pagar; esta é uma decisão política imposta pelo BCE e pelo FMI”.

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