22 de junho de 2010

Os sabotadores da política externa estão aqui

 

publicada segunda-feira, 21/06/2010 às 10:50 e atualizada terça-feira, 22/06/2010 às 08:13

Por Juliana Sada

texto publicado na Rede Brasil Atual

Diplomacia sem medo

Se as grandes potências são incapazes de promover a paz, os emergentes têm o dever de buscá-la. O Brasil assumiu papel importante no mundo. Tem autoridade suficiente, mas antes lhe faltava coragem

Por: Mauro Santayana

Em entrevista ao Jornal do Brasil, o chanceler Celso Amorim atribuiu os ataques que a diplomacia de Lula recebe de alguns ex-embaixadores – todos eles vinculados ao governo de Fernando Henrique – à dificuldade de as pessoas se adaptarem aos tempos novos. É realmente o que está ocorrendo, não só com relação à diplomacia, mas a toda a sociedade atual, tanto no Brasil quanto em todos os países do globo. O mundo mudou, para melhor e para pior. Trotsky pregava a necessidade de uma “revolução permanente”, sem perceber que a História é, em si mesma, uma revolução sem fim, com seus momentos de avanço e de recuo, como ocorre no interior de cada período revolucionário visto isoladamente.

Comecemos pelo problema maior do século passado, que permanece: o artificial Estado de Israel. Foram as melhores as intenções dos países aliados ao criar aquele “lar nacional” para os judeus, depois do Holocausto. O Brasil tomou parte ativa nisso, coube a Oswaldo Aranha presidir a Segunda Assembleia Geral da ONU que aprovou a resolução. Poucos se recordam, no entanto, que, ao longo destes 62 anos, Israel, com o apoio dos Estados Unidos e da Inglaterra, jamais cumpriu o mandamento de respeitar a criação de um Estado palestino no mesmo território.

O Estado de Israel possui bombas atômicas – e dispôs-se mesmo a vendê-las ao regime racista da África do Sul, conforme revelou a imprensa britânica recentemente. Graças a isso, seus governantes mantêm os países vizinhos sob constante ameaça. Há quase 40 anos, quando houve a primeira revelação de que os cientistas de Israel estavam para armar o primeiro artefato nuclear, encontrei-me, na Europa, com dois amigos judeus nascidos no Brasil. Um deles, Louis Wiznitzer, estava exultante, porque Israel disporia de “uma arma de dissuasão”. O outro, o sociólogo mineiro Marcos Magalhães Rubinger, então em Genebra, estava desolado: “Estamos, como judeus, perdendo a última oportunidade de nos integrar à Humanidade, de renunciar a essa ideia particular de ‘povo diferente’ que nos atormenta”, me disse. Infelizmente, ambos já se foram.

Não se pode resolver o problema entre Israel e a Palestina sem que se resolva o problema entre Israel e seus vizinhos que, sendo muçulmanos, sentem-se no dever da solidariedade para com o sacrificado povo palestino. Isso explica a necessidade de negociar com o Irã, o mais poderoso dos países com maioria islâmica, como forma de esvaziar a tensão no Oriente Médio e retirar de Israel o pretexto para sua irracional política de aniquilamento paulatino dos palestinos.

Se as grandes potências são incapazes de promover a paz, os países que emergem como potências médias têm o dever de buscar o entendimento, de destravar o processo político. É nesse contexto que o Brasil está assumindo papel importante na sociedade mundial. O Brasil tem autoridade suficiente para isso. O que lhe estava faltando era coragem moral para assumir essa responsabilidade. De certa forma, não há nada de novo nessa postura, exposta por Ruy Barbosa há 103 anos, na II Conferência de Haia. Ali, diante da prepotência da Alemanha, da arrogância da Rússia tzarista e da presunção imperialista dos Estados Unidos, a delegação brasileira, chefiada pelo grande tribuno baiano, propôs a doutrina da plena igualdade política entre as nações soberanas. É na restauração dessa doutrina que o atual Itamaraty trabalha, sob a direção pessoal do presidente Lula.

Quando redigíamos este trabalho, Obama enviava ao Congresso sua mensagem com a nova estratégia norte-americana, que começa a reconhecer a responsabilidade de novos atores na cena internacional – entre eles, o Brasil. O famoso G-8 deixou de ser o clube dos donos do mundo, e a responsabilidade passa a ser do G-20 – grupo construído a partir da liderança brasileira entre os emergentes. Infelizmente, os maiores sabotadores da nova política externa independente se encontram em nosso próprio país – principalmente entre os que dominaram o Itamaraty no tempo de Fernando Henrique, o mais serviçal governante brasileiro ao interesse norte-americano em toda a história republicana.

Compartilhe

16 de junho de 2010

Jornal do Brasil - Economia - OCDE: países emergentes concentrarão 60% do PIB mundial até 2030

Jornal do Brasil - Economia - OCDE: países emergentes concentrarão 60% do PIB mundial até 2030

15 de junho de 2010

Conflito no Quirguistão revela interesses de potências globais na Ásia Central

 

Conflito étnico deixa trilha de destruição no Quirguistão

Conflito étnico deixa trilha de destruição no Quirguistão

A violência de fundo étnico e político que grassa na nação da Ásia Central é motivo de preocupação para três nações poderosas, com significativos interesses estratégicos e geopolíticos na região: China, EUA e Rússia.

A pior explosão de violência étnica das últimas décadas no Quirguistão já fez mais de 100 vítimas fatais, causou ferimentos em muitos mais e obrigou dezenas de milhares a deixarem suas casas. Contudo, o conflito tem implicações mais amplas, numa região de enorme importância estratégica e geopolítica para as maiores potências mundiais.

O conflito que irrompeu na sexta-feira (11/06) entre os clãs quirguizes e uzbeques – as etnias dominantes no país – pode ter sido desencadeado pela tensão crescente entre os dois grupos. Porém as condições para a luta foram criadas pela instabilidade política no Quirguistão: uma situação que traz decididamente as impressões digitais de três das nações mais influentes do mundo.

Enquanto os Estados Unidos e a Rússia continuam a disputa pela supremacia militar na Ásia Central, a China, que divide 850 quilômetros de fronteira com o Quirguistão, persegue significativos interesses estratégicos e econômicos no país e na região circundante.

Estratégias dos EUA

President deposto Kurmanbek BakiyevPresident deposto Kurmanbek Bakiyev

A insurreição mais recente teve sua origem na deposição do regime pró-Washington do presidente Kurmanbek Bakiyev, que deixou o país em tumulto desde abril último. Combinado à consequente posse de um governo provisório, o fato não só levou as tensões étnicas ao ponto de ebulição, como poderá fazer eclodir um novo conflito pelo controle externo sobre o Quirguistão e pelos benefícios regionais decorrentes.

Com apoio estadunidense, Bakiyev assumiu presidência em 2005. Assim, além de contar com um aliado quirguiz com quem negociar, os EUA fincaram pé num país que certos estrategistas consideram vital para os planos norte-americanos de dominância regional.

Segundo esses especialistas, um objetivo central dos EUA tem sido fortalecer a própria influência sobre os Estados centro-asiáticos da antiga União Soviética, desde o colapso desta, em 1991. A inclusão do Quirguistão e de outros três países da região no programa da Otan Parceria para a Paz, três anos mais tarde, é visto como um importante passo nesse sentido, e que acabou levando ao estabelecimento da base estadunidense em Manas, próximo à capital Bishkek.

"Durante os conflitos de abril, a base aérea de Manas ficou fechada, e uma rota de suprimentos vital para o envio de equipamentos e soldados ao Afeganistão não pôde ser usada. Os EUA precisam de um Quirquistão estável para manter essa rota em funcionamento", analisou para a Deutsche Welle Asher Pirt, especialista em assuntos militares relativos à Ásia Central.

Preocupações da Rússia

Ao mesmo tempo em que Manas segue sendo o eixo central das operações norte-americanas no Afeganistão, ela é também usada como base da Otan: uma situação que irrita e preocupa os russos. Seu temor diante da influência sobre o Leste do antigo oponente da Guerra Fria coloca o Quirquistão no centro de uma disputa pelo poder regional.

Do Quirquistão, o perito em segurança internacional Dex Torrike-Barton falou à Deutsche Welle: "A atual crise é uma forte ameaça à autoridade do governo quirguiz. A liderança provisória ainda está muito fraca. Se a violência se alastrar para além das cidades atualmente afetadas, a consequência pode ser instabilidade política em grande escala".

Tal situação coloca em cheque a própria existência da base de Manas. "Há numerosas facções no Quirquistão que são contra qualquer tipo de presença estadunidense. Se a Rússia ou a Organização do Tratado Coletivo de Segurança [CSTO, aliança de defesa regional composta pela Rússia, Belarus, Uzbequistão, Cazaquistão, Tadjiquistão e Armênia] intervierem, o resultado pode ser o mesmo."

Refugiados uzbeques na cidade de OshRefugiados uzbeques na cidade de Osh

Pipelines e extremismo

A própria Rússia mantém a base aérea de Kant, a 20 quilômetros de Bishkek, assim como uma base naval estratégica no Lago Issyk-Kul. Desde que o pró-americano Bakiyev foi afastado em abril, Moscou tem, previsivelmente, sido o principal apoiador do governo provisório, na esperança de reconquistar influência, no caso de a ordem se restabelecer no Quirguistão.

Embora Washington argumente que sua presença é mutuamente vantajosa – por ajudar a deter a expansão do fundamentalismo islâmico na Ásia Central, e a resolver o problema do Afeganistão – a versão do Kremlin é diferente. Segundo este, os EUA pretenderiam impedir a hegemonia russa e/ou chinesa, assegurando para si recursos energéticos epipelines.

O Quirquistão é, ainda, uma questão de segurança nacional. "A Rússia deseja uma vizinhança estável. Violência, em especial de dimensão étnica ou religiosa, tem o potencial de contaminar toda a região", explica Torrike-Barton. "A brutalização da comunidade uzbeque no Quirquistão pode fomentar o extremismo islâmico. E não há pesadelo maior do que esse para o Estado russo, ainda às voltas com as forças insurgentes do Cáucaso." Asher Pirt confirma: "Uma região estável, sem tumulto étnico nem extremismo religioso, é uma meta estratégica para a Rússia".

Interesses da China

A China também tem muito com que se preocupar. Seu interesse está tanto em um Quirquistão estável e amigável, quanto em evitar que os EUA dominem a região. Pequim era o principal financiador de Askar Akayev, ex-presidente apoiado por Washington, que, no entanto, o abandonou assim que ele aceitou dinheiro chinês.

A principal arma da China para manter um pé no Quirquistão continua sendo financeira, e, assim como a Rússia, seu interesse é duplo: expandir o máximo possível sua influência na Ásia Central e, ao mesmo tempo, reduzir ao mínimo as chances de os Estados Unidos fazerem o mesmo.

Trata-se ainda de uma questão de segurança nacional. As fronteiras sino-quirguizes correm ao longo dos limites da politicamente sensível província de Xinjiang, onde, em julho de 2009, houve a revolta da etnia uigur.

"O Quirquistão é o mercado exportador número um para Xinjiang", analisa o especialista Torrike-Barton. "Trata-se de uma destinação lucrativa para as mercadorias e a mão-de-obra chinesa; portanto há uma dimensão econômica importante ligando os dois países. Mas, como no caso da Rússia, a principal preocupação chinesa é a segurança. Um Quirquistão instável, com uma população muçulmana recalcitrante, não ajuda a China a preservar a paz em Xinjiang e entre a comunidade uigur."

Destroços em Jalal-Abad após os choques étnicosDestroços em Jalal-Abad após os choques étnicos

Influência global

Outra fonte de preocupação ainda mais séria é a permeabilidade da fronteira sino-quirguiz. Esta tem permitido ao serviço norte-americano de inteligência realizar operações desestabilizadoras secretas na província estrategicamente vital e politicamente frágil de Xinjiang. Pequim acredita que o fluxo de pessoas entre os países seja um disfarce perfeito para as ações dos Estados Unidos.

Segundo Torrike-Barton, é improvável que os chineses venham a intervir na crise do Quirquistão. "Apesar de seu status de financiadora de diversos políticos quirguizes, ela tem capacidade limitada para influenciar a presente situação. Sem um maior empenho dos chineses em aplacar a violência, duvido que haja muitas repercussões nas relações sino-americanas."

Com tanta desconfiança e jogos de poder entre as nações mais poderosas do mundo, é possível que o futuro do Quirquistão venha a ter grande influência não só sobre a região, como sobre a política global.

Autoria: Nick Amies / Augusto Valente
Revisão: Roselaine Wandscheer

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5687004,00.html?maca=bra-rss-br-all-1030-rdf

8 de junho de 2010

PIB cresce 2,7% no primeiro trimestre do ano

Impacto social e econômico do PAC

Obras do PAC estão em ritmo acelerado

PAC 10 º Balanço - Janeiro a Abril de 2010

Nanotecnologia

PIB cresce 2,7% no primeiro trimestre de 2010 e chega a R$ 826,4 bi

Crescimento de 2,7% foi em relação ao quarto trimestre de 2009. Nessa comparação, a maior alta foi na Indústria (4,2%), com Agropecuária (2,7%) e Serviços (1,9%) a seguir. A Taxa de investimento neste período subiu para 18,0% e a Taxa de Poupança Bruta atingiu 15,8%.

Em relação ao primeiro trimestre de 2009, o PIB cresceu 9,0%, e a maior alta foi na Indústria (14,6%), com Serviços (5,9%) e Agropecuária (5,1%) a seguir. Ainda nessa comparação, a Formação Bruta de Capital Fixo (26,0%), a Construção Civil(14,9%) e as Importações de Bens e Serviços (39,5%) tiveram as maiores altas desde o início da série em1995.

No acumulado dos quatro últimos trimestres o PIB cresceu 2,4%, com alta nos Serviços (3,6%), estabilidade da Indústria (0,0%) e queda na Agropecuária (-3,3%).

PIB cresceu 2,7% em relação ao quarto tri de 2009 e indústria teve o maior crescimento (4,2%)

O PIB a preços de mercado cresceu 2,7% em relação ao quarto trimestre de 2009, na série com ajuste sazonal. A maior alta foi na Indústria (4,2%), com Agropecuária (2,7%) e Serviços (1,9%) a seguir. Em relação aos componentes da demanda interna, o maior destaque foi o crescimento de 7,4% da Formação Bruta de Capital Fixo no primeiro trimestre deste ano. A Despesa de Consumo das Famílias aumentou 1,5% e a Despesa de Consumo da Administração Pública 0,9%. No setor externo, tanto as Exportações de Bens e Serviços como as Importações de Bens e Serviços subiram: 1,7% e 13,1%, respectivamente.

PIB cresceu 9,0% em relação ao mesmo trimestre de 2009 e indústria teve o melhor desempenho (14,6%)

O PIB a preços de mercado cresceu 9,0% em relação a igual período de 2009. O Valor Adicionado a preços básicos cresceu 8,0%. Os Impostos sobre Produtos subiram 14,9% devido, principalmente, à alta da Indústria, em especial a de Transformação, e ao aumento do volume das Importações de Bens e Serviços.

A Indústria registrou o melhor desempenho (14,6%), com Serviços (5,9%) a seguir, sempre em relação ao primeiro trimestre de 2009. O volume do valor adicionado da Agropecuária cresceu 5,1%, após quatro trimestres consecutivos de queda nessa base de comparação.

Na Agropecuária, pesaram as estimativas de crescimento na produção da soja, do algodão e do milho (19,2%, 6,5% e 4,0%, respectivamente) para 2010 e que possuem safra relevante no trimestre, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola divulgado em maio. A produção da silvicultura e exploração florestal também teve bom desempenho no trimestre. Por outro lado, o arroz e o fumo, com safras significativas no período, têm estimativas de queda para 2010, de 9,7% e 8,9%, respectivamente.

Na atividade industrial, o destaque foi o crescimento de 17,2% do valor adicionado da Indústria da Transformação, influenciada pelo aumento da produção de máquinas e equipamentos; eletrodomésticos; indústria automotiva, incluindo peças e acessórios; metalurgia / siderurgia; indústria têxtil; produtos químicos e artigos de borracha e plástico. A Construção Civil cresceu 14,9% , beneficiada pelo aumento das operações de crédito para a habitação e pelo aumento de ocupações no setor. A Extrativa Mineral cresceu 13,6%, principalmente pelo aumento de 52% na produção de minério de ferro. O valor adicionado de Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana aumentou 8,1%, principalmente pelo consumo industrial de energia elétrica.

O valor adicionado do setor de Serviços cresceu 5,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os crescimentos foram: Comércio - atacadista e varejista (15,2%), Transporte, Armazenagem e Correio (12,4%), Intermediação Financeira e Seguros (9,0%), Serviços de Informação (2,6%), Outros Serviços (2,4%), Administração, Saúde e Educação Pública (2,3%) e Serviços Imobiliários e Aluguel (1,8%).

Formação Bruta de Capital Fixo, Construção Civil e Importações têm as maiores altas de toda a série

Dentre os componentes da demanda interna, ainda em relação ao primeiro trimestre de 2009, a Despesa de Consumo das Famílias cresceu 9,3%, sendo o vigésimo sexto crescimento consecutivo nessa comparação, voltando ao mesmo patamar de crescimento do terceiro trimestre de 2008. Já a Despesa de Consumo da Administração Pública cresceu 2,0% em relação ao mesmo período de 2009. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teve o maior crescimento (26,0%) da série, iniciada em 19951, principalmente com o crescimento da produção interna de máquinas e equipamentos. Nesse trimestre também houve a maior elevação da Construção Civil (14,9%) desde o início da série (1995), o que também contribuiu para o desempenho da FBCF.

Pelo lado da demanda externa, as Exportações de Bens e Serviços cresceram 14,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. As Importações de Bens e Serviços cresceram 39,5%, o maior crescimento de toda a série nessa base de comparação. Os produtos da pauta de importação que mais contribuíram para esse resultado foram: material eletrônico, madeira e mobiliário, material elétrico, siderurgia, outros produtos do refino, veículos automotores e químicos diversos.

No acumulado dos quatro trimestres, PIB cresceu 2,4%

O PIB a preços de mercado acumulado nos quatro últimos trimestres cresceu 2,4% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Esta taxa resultou da elevação de 2,3% do Valor Adicionado a preços básicos e do aumento de 3,6% nos Impostos sobre Produtos.

O resultado do Valor Adicionado neste tipo de comparação decorreu do desempenho positivo dos Serviços (3,6%), da estabilidade da Indústria (0,0%) e do declínio da Agropecuária (-3,3%).

Na análise da demanda, a Despesa de Consumo das Famílias cresceu 6,0%, favorecida pelo aumento da massa salarial real dos trabalhadores e pelo acréscimo nominal do saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres para as pessoas físicas. A Despesa de Consumo da Administração Pública cresceu 3,1%. Já a Formação Bruta de Capital Fixo declinou 1,5%, uma queda inferior as dos três últimos trimestres. No âmbito do setor externo, as Exportações de Bens e Serviços decresceram em 4,2% e as Importações de Bens e Serviços variaram –0,4%, taxas essas ainda afetadas pelas quedas no segundo e terceiro trimestres de 2009.

PIB chega a R$ 826,4 bilhões no primeiro trimestre de 2010

Taxa de investimento sobe para 18,0% e Poupança Bruta atinge 15,8%

A taxa de investimento no primeiro trimestre de 2010 foi de 18,0% do PIB, superior à taxa do mesmo período do ano anterior (16,3%). Esse aumento deveu-se, principalmente, ao crescimento da taxa de Formação Bruta de Capital Fixo no trimestre (26,0%), a maior da série iniciada em 1995. A taxa de poupança alcançou 15,8% do PIB.

No trimestre, a Necessidade de Financiamento alcançou R$ 25,0 bilhões contra R$ 14,2 bilhões em 2009, principalmente pela redução de R$ 9,9 bilhões do saldo externo de bens e serviços, seguida do decréscimo de R$ 0,6 bilhão de outras transferências correntes líquidas recebidas do exterior. A Renda Nacional Bruta atingiu R$ 813,2 bilhões no primeiro trimestre de 2010 contra R$ 704,2 bilhões no respectivo período de 2009. A Poupança Bruta atingiu R$ 130,7 bilhões contra R$ 102,5 bilhões no mesmo período do ano anterior.

___________________

1 As séries encadeadas dos índices de volume têm início no primeiro trimestre de 1995.

Comunicação Social
08 de junho de 2010

Fonte IBGE

Suape é uma revolução em Pernambuco. O pernambucano quer voltar

 

 

Clique abaixo para saber mais.

Suape é uma revolução em Pernambuco. O pernambucano quer voltar !!!!!!!!!

NE oferece 30% dos novos empregos na construção

 

    Murillo Camarotto, de Recife
    08/06/2010

 

O bom momento, no entanto, vem acompanhado de uma grave crise na oferta de mão de obra

Em ebulição, a indústria da construção civil cresce a taxas chinesas no Nordeste, resultado da combinação entre crédito farto, déficit habitacional elevado e crescentes investimentos em infraestrutura. O bom momento, no entanto, vem acompanhado de uma grave crise na oferta de mão de obra, o que já está se traduzindo em perdas para algumas empresas. Faltam pedreiros, pintores, carpinteiros, eletricistas, engenheiros e até estagiários. A região responde por três em cada dez empregos gerados no setor em todo o país, enquanto o consumo de cimento nos nove Estados cresceu em média 9,3% ao ano entre 2006 e 2009, muito acima da média nacional de 5,9%.

O mercado da construção no Nordeste deve continuar aquecido nos próximos anos. Além das boas perspectivas para o segmento residencial, puxado pelo programa Minha Casa Minha Vida e pelo aumento do crédito imobiliário, a região abrigará três sedes da Copa do Mundo de 2014, o que deverá gerar investimentos importantes em Fortaleza, Recife e Salvador.

As condições favoráveis colocaram a região no mapa estratégico das grandes construtoras do Sudeste. Há cerca de dois anos, elas vêm aumentando o número de projetos no Nordeste, sozinhas ou em parcerias com empresas regionais, que também estão ampliando bastante seus negócios.

O resultado pode ser visto em números. De 2006 a 2009, o Nordeste dobrou sua participação na geração de empregos na construção civil, passando de 15% para 30% de todos os postos criados no país. No mesmo intervalo, a fatia do Sudeste caiu de 69% para 44%, segundo informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

"O emprego é o melhor termômetro para se medir o desempenho da construção civil, pois dá a fotografia do momento", explica o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia, Carlos Vieira Lima. Segundo o executivo, o mercado baiano, o maior do Nordeste, passa por um de seus melhores momentos, puxado pela habitação de baixa renda e por obras de infraestrutura. A expectativa é que o crescimento se acentue com a implantação de um programa de mobilidade urbana e com as obras ligadas à Copa de 2014.

O vice-presidente do Sinduscon do Ceará, André Montenegro, destaca o aumento na demanda por cimento. A participação do Nordeste no total consumido no Brasil passou de 17% em 2006 para 21,1% em fevereiro deste ano.

http://www.valoronline.com.br/?impresso/caderno_a/83/6309465/ne-oferece-30%-dos-novos-empregos-na-construcao

Ex-iugoslavos ainda esperam bondades do capitalismo

 

Após as guerras de secessão dos Bálcãs na década de 90, a região, que se dividiu em Bósnia-Herzegovina, Croácia, Eslovênia, Kosovo, Macedônia, Montenegro e Sérvia, sofreu uma “dolorosa transição” para uma economia de mercado. Segundo estudo do Pnud, privatizações foram pouco transparentes. Em vários casos, empresas foram vendidas por cifras nominais de poucos euros e os novos proprietários não fizeram nada com elas. Sérvia, Croácia e Bósnia-Herzegovina se converteram em “Estados reféns”, nos quais os governantes permitiram com que delinqüentes ou “redes mafiosas” violassem a lei de forma flagrante e tirassem proveito “de transações nebulosas com funcionários e autoridades.”

Vesna Peric Zimonjic - IPS

A população da desintegrada Iugoslávia ainda espera a chegada do prometido grande crescimento econômico e rápido desenvolvimento que viriam com o capitalismo. Há milhões de pessoas pobres e entre 2 e 3% de ricos, segundo estatísticas oficiais. Após as guerras de secessão dos Bálcãs na década de 90, a região, que se dividiu em Bósnia-Herzegovina, Croácia, Eslovênia, Kosovo, Macedônia, Montenegro e Sérvia, sofreu uma “dolorosa transição” para uma economia de mercado, indicam analistas. A situação começou a se deteriorar entre 1991 e 1995, quando terminou o regime socialista liberal que caracterizou a Iugoslávia desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A economia regional está em um estado lamentável, se comparado ao de 1989, quando estava especialmente bem. O caso da Eslovênia é diferente porque era uma das regiões mais desenvolvidas da Iugoslávia e ingressou na União Européia em 2004. O processo de privatização e a transição para uma economia de mercado foi totalmente distinto ao de outros países da Europa oriental, após a queda do muro de Berlim, em 1989, segundo especialistas. “Não se viram gerentes comunistas espertalhões ou empresários internacionais de duvidosa reputação envolvidos nas privatizações”, diz o analista Misa Brkic, em entrevista a IPS. A pobreza que existe hoje nesta região não é um fato repentino causado pela atual crise econômica mundial. “As elites locais aproveitaram as devastadoras guerras para ficar com o poder e colocar sua gente na frente da economia. Não puderam nem souberam jogar em função das regras de mercado”, acrescenta.
A guerra causou mais de 120 mil mortes. As perdas econômicas foram de bilhões de dólares com a destruição de fábricas, empresas, edifícios privados e públicos, aniquilação da produção e a falta de exportações para o desaparecido mercado comum. O custo da destruição na Sérvia chegou a mais de 17 bilhões de dólares, após o bombardeio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em 1999, com o objetivo de terminar com a repressão do regime do ex-presidente Slobodan Milosevic (1941-2006) contra os albaneses de Kosovo. A situação dissuadiu as empresas internacionais de realizar investimentos importantes na região, assinalou Brkic. O que ocorre desde 2008 “não é mais que o resultado inevitável da combinação da situação local deteriorada e da recessão mundial”.
A falta de atividade econômica é típica. As pessoas querem cada vez mais ajuda do Estado. O desemprego afeta cerca de 20% da população ativa da Sérvia e da Croácia e mais de 45% na Bósnia-Herzegovina. “A mentalidade socialista custa a morrer”, comenta Brkic. “Nunca adotamos a crença de que há uma relação entre quantidade de trabalho e qualidade de vida. Por isso, há protestos diários frente aos edifícios governamentais. Os trabalhadores reclamam salários e empregos ao Estado”.
Os aposentados dependem de pensões, cujo valor caiu a umas poucas centenas de dólares por mês. Os cofres do Estado minguam pela baixa arrecadação de uma economia estagnada e de poucos recursos deixados pelas privatizações. “A indústria e o comércio croata foram vítimas da louca idéia de Franjo Tudjman (líder independentista e ex-presidente já falecido) que criou 200 famílias muito ricas para lançar uma economia bem sucedida”, disse Zarko Modric à IPS. “Mas só a sua turma ficou com os recursos da privatização. As outrora pujantes indústrias e empresas exportadoras foram vendidas por pouco dinheiro a pessoas que não souberam administrá-las”, assinala.
A solução mais fácil para o Estado ao término da guerra de 1995 foi aposentar centenas de milhares de veteranos empresários, cujas empresas tinham sido destruídas pelo bombardeio em zonas de combate ou pelas privatizações, explica Modric. “A quantidade de aposentados é apenas um pouco menor que a de empregados na Croácia. As pensões e outras categorias sociais consomem boa parte do orçamento estatal. O governo pede empréstimos, mas sob condições cada vez mais severas”, adverte. “A dívida externa desse país equivale hoje ao seu Produto Interno Bruto, algo em torno de 55 bilhões de dólares. O Estado é prisioneiro dessa dívida”.
Em 2003, a Croácia, com 4,3 milhões de habitantes, alcançou 69% do PIB que tinha em 1989; enquanto a Sérvia, com 7,3 milhões de pessoas, o fez somente em 2009. A situação é ainda pior na Bósnia-Herzegovina, um país de 3,5 milhões de habitantes, que após a guerra ficou conformada por duas entidades: a República dos sérvio-bósnios, e a Federação Croata-Muçulmana. A corrupção, a violação das leis, a fuga de cérebros, as divisões étnicas entre bósnios muçulmanos, croatas e sérvios, “arraigados a suas entidades”, são apontadas como as principais razões da estagnação econômica do país, segundo um estudo realizado em 2009 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Uma investigação aprofundada, “Privatização do capital estatal na Bósnia-Herzegovina”, descreve o processo de reconstrução entre 1995 e 2000, a privatização e a transição para uma economia de mercado até 2009. Do mesmo modo que a Sérvia e a Croácia, a Bósnia-Herzegovina se converteu em um “Estado refém”, no qual os governantes permitiram com que delinqüentes ou “redes mafiosas” violassem a lei de forma flagrante e tirassem proveito “de transações nebulosas com funcionários e autoridades”, segundo o Pnud. As privatizações foram pouco transparentes. As empresas foram vendidas por cifras nominais de poucos euros e os novos proprietários não fizeram nada com elas.
Os cofres do Estado ficaram sem o dinheiro das privatizações, o que fez cair as já magras aposentadorias e a assistência social. “Quando a população da desintegrada Iugoslávia se queixa de que nunca foi tão pobre, eu explico que não podem compreender o que ocorreu, apesar de terem sido testemunhas de tudo”, sustenta Brkic. “Muita gente acredita que não é preciso trabalhar para viver bem. Mas a realidade é dolorosa e ninguém escapa dela. A transição é dura, mas deve ser feita rapidamente para que o dano seja menor”, sustenta. “Há 20 anos que vivemos nesta situação, mas os governantes, os especialistas e os acadêmicos devem alcançar um consenso para acelerar o processo”, conclui.
Tradução: Katarina Peixoto

19/05/2010 http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16616

A geopolítica da desaparição do Euro

 

Com a crise financeira européia, está se dando um passo a mais no avassalamento da Europa. Com o Tratado de Lisboa, a Europa entregou sua defesa à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN): acabou-se o velho sonho de uma defesa européia independente. E agora, com uma política financeira controlada pelo FMI, a UE renunciou a um pilar essencial de sua independência. Sem a defesa e a moeda, não lhe resta nada para afirmar sua independência dentro do bloco ocidental e frente ao resto do mundo.

Pierre Charasse - La Jornada

Na massa de informações que circula sobre a crise do euro, não é fácil detectar os fenômenos de fundo que se estão produzindo. Por isso, é importante adotar alguma distância, situar essa crise no curso dos acontecimentos dos últimos 20 anos, depois da queda da União Soviética, e projetar uma perspectiva geopolítica de médio a longo prazo. A crise grega confirmou, como se fosse necessário, que a Europa como união política não existe mais.
Nas últimas semanas, a União Européia (UE) revelou ao resto do mundo sua extrema debilidade. O euro não resistiu às ofensivas de todo tipo que sofreu nos últimos meses, apesar de ser a moeda de uma das regiões mais ricas e industrializadas do mundo.
A primeira grande crise financeira mundial da era da globalização evidenciou que a moeda européia não podia aguentar as turbulências do mercado e os ataques especulativos, exatamente porque não tinha um respaldo político sólido e coerente. Os ideólogos ultraliberais que inventaram a moeda européia decidiram aplicar com rigor o princípio dolaisser-faire, proibindo aos governos de intervirem nas políticas do Banco Central Europeu (BCE).
Os governos da zona do euro se auto-mutilaram, quando aceitaram o dogma da independência do BCE, renunciando a qualquer possibilidade de submeter as políticas financeiras a condições políticas. Depois de muitas discussões, apresentaram como um grande avanço a decisão de constituir um fundo de resgate de 440 bilhões de euros. E nenhum governo, vendo o desastre social que os planos de ajustes impostos pelo BCE e pelo FMI, quis opor políticas concorrentes à doxa ultraliberal.
O que o público europeu não vê em geral é que, com a intervenção do FMI, os Estados Unidos agora têm direito de intervir na economia européia. Todas as decisões do FMI requerem necessariamente a aprovação do governo estadunidense, se é que não vêm inspiradas diretamente por esse país. Na reforma dos direitos de voto no FMI, anunciada na última Cúpula do G20, os EUA conserva intacta a minoria de controle com 16% dos votos. Pediu-se a UE que reduzisse sua parte para que a cota de países emergentes aumentasse. O presidente Obama exerce plenamente o poder que lhe dá a nova arquitetura financeira internacional, chamada governança mundial, e exige da Grécia e de outros países europeus que baixem os salários de seus funcionários, que reformem o regime de aposentadorias e que diminuam o gasto público em geral. E os europeus obedecem.
Com a crise financeira européia, está se dando um passo a mais no avassalamento da Europa. Com o Tratado de Lisboa, a Europa entregou sua defesa à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN): acabou-se o velho sonho de uma defesa européia independente. E agora, com uma política financeira controlada pelo FMI, a UE renunciou a um pilar essencial de sua independência. Sem a defesa e a moeda, não lhe resta nada para afirmar sua independência dentro do bloco ocidental e frente ao resto do mundo.
Neste contexto, parece lógico que o euro tenda a se aproximar da paridade com o dólar. Fala-se, nos círculos financeiros, de uma possível dolarização da zona do euro. Tecnicamente convém aos países industrializados da Europa, para recuperarem sua competitividade econômica, castigada na última década por um euro forte. Politicamente convém aos Estados Unidos eliminar uma moeda rival do dólar frente a China e a outros países emergentes. Os novos membros da União Européia vêem com muito bons olhos a dolarização da Europa, que seria para eles uma garantia suplementar com que contar, um guarda-chuva estadunidense, como para sua defesa frente a Rússia, seu inimigo de sempre.
O diretor do FMI, Dominique Strauss Khan refere-se com frequência à necessidade de uma moeda mundial, consequência lógica da globalização econômica e financeira. Em Zurique, em 12 de maio, ele fez um chamado a favor da criação de um banco central mundial, com uma moeda mundial. Na França, o Secretário de Estado para a Europa, Pierre Lellouche, militante atlantista incansável, anunciou triunfalmente que no plano monetário se chegou a um mecanismo de solidariedade automática idêntico ao que prevê o artigo 5 do Tratado da OTAN. Com isso, dá-se o último toque à construção de um espaço europeu subsidiário do território estadunidense para formar um bloco perfeitamente homogêneo sob a liderança de Washington. Desde a sua eleição, o presidente Barack Obama pede a seus aliados que cerrem filas para enfrentar as novas ameaças mundiais.
Outro efeito da crise, os planos de ajuste estrutural impostos como remédio, terão como consequência a curto prazo a tatcherização da Europa continental, ou seja, o fim do modelo social europeu. A Grã Bretanha, aliado incondicional dos Estados Unidos, não membro da zona do euro com a libra esterlina, será o grande vencedor dessa crise, com a imposição de seu modelo econômico e financeiro a toda a Europa, e com o fortalecimento da City como praça financeira impermeável a todos os intentos de regulação que se sugere para prevenir novas catástrofes financeiras mundiais.
Com a dolarização da Europa vai se fechar um capítulo da história moderna aberto com a derrubada do campo socialista. Para a corrente atlantista européia, atualmente majoritária, a desaparição da Europa como ator político e financeiro autônomo é o preço a pagar para que o Ocidente continue controlando o mundo frente aos países emergentes.
(*) Pierre Charasse, diplomata de carreira, ex-embaixador, trabalhou no Ministério de Relações Exteriores da França, entre 1972-2009. Ocupou vários cargos nas Embaixadas da República Francesa em Moscou, na Guatemala, em Havana e no México. Foi conselheiro técnico no gabinete de Claude Cheysson, Ministro de Assuntos Exteriores, e de Pierre Joxe, Ministro do Interior entre 1984 e 1986. Foi Cônsul Geral em Nápoles e em Barcelona, embaixador no Uruguai, no Paquistão e no Peru, e embaixador itinerante encarregado da cooperação internacional contra o crime organizado e a corrupção, entre 2000 e 2003, assim como chefe da delegação francesa na Conferência das Nações Unidas sobre o comércio ilícito de armas leves e de pequeno calibre (Nova York, 200-2001), Secretário Geral da Conferência Ministerial “As Rotas da droga da Ásia Central a Europa” (abril de 2003) e Ministro Plenipotenciario desde 1998. Aposentou-se em agosto agosto de 2009.
Tradução: Katarina Peixoto

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16673&boletim_id=708&componente_id=11868

2 de junho de 2010

Bancos miram a Espanha: conta pode atingir 500 bilhões de euros

 

A solução dos monopólios financeiros é carrear uma hemorragia de recursos nacionais para os seus cofres, quebrando o país 

Todas as encenações “econômicas” (e “sensatas”) sobre a Grécia e a suposta irres-ponsabilidade dos gregos como causa da crise, esmaeceram de repente no meio da semana passada, depois que o Banco da Espanha interveio na CajaSur, uma caixa de poupança de Córdoba, para evitar a sua falência. O rombo da Cajasur é de 800 milhões de euros. Um executivo do banco norte-americano Brown Brothers Harriman (o banco de Averell Harriman e Prescott Bush, pai de George H. Bush) disse, algo dividido entre o pavor de ser tragado pela crise e o voraz desejo de canibalizar os espanhóis: “A Espanha é um gorila de 400 kg na sala. Grécia e Portugal são países pequenos, mas o PIB da Espanha é cinco vezes maior do que os deles”.

Podemos reduzir o problema atual da crise europeia à sua essência: os bancos europeus, como os norte-americanos, estão falidos. A solução dos monopólios financeiros é canalizar uma hemorragia de recursos nacionais para os seus cofres, fazendo governos subservientes cortarem empregos, salários, aposentadorias, investimentos produtivos, em suma, quebrando o país. Na Espanha, segundo o economista-chefe do Barclays, segundo maior banco inglês, as coisas estão andando muito lentas - “não há tempo a perder”, disse ele à Agência Dow Jones.

O Barclays, desde agosto de 2007, subsiste com dinheiro do Banco da Inglaterra. Em setembro de 2008, o governo inglês “injetou” mais 40 bilhões de libras esterlinas (US$ 69 bilhões) em três dos maiores bancos do país (Royal Bank of Scotland, Barclays e Lloyds). O economista-chefe do Barclays não acha, certamente, nada de absurdo nisso. Absurdos são os espanhóis que querem conservar seus empregos.

DÍVIDA

O pacote de 750 bilhões de euros, anunciado pela União Europeia (UE), não resolve problema algum, nem mesmo do ponto de vista mais estúpido: o Natixis, da França, um banco espe-culativo e consultoria financeira, calcula que só para “salvar a Espanha” serão necessários 400 a 500 bilhões de euros (cit. em Frédéric Lordon, “Sauver les banques jusqu’à quand?”, Le Monde Diplomatique, 11/05/2010).

Obviamente, “salvar a Espanha” (como diz Lordon, diretor de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique - CNRS) é salvar os credores da Espanha, isto é, os bancos franceses e alemães - às custas de destruir a Espanha e depau-perar o povo espanhol, acrescentamos nós.

O aporte da União Europeia ao seu próprio pacote é ridículo: 60 bilhões de euros, menos do que o FMI (250 bilhões). Os restantes 440 bilhões viriam dos “fundos de garantia”, em suma, dos depósitos compulsórios dos próprios bancos no banco central de cada país, que têm como função proteger os depósitos contra as quebras de bancos. Dinheiro que, evidentemente, pertence aos depositantes.

Um dos boletins do Natixis traz um estudo interessante: depois de expor a “estrutura” da dívida pública da Espanha e da Grécia em janeiro de 2010, conclui-se: “a falta de pagamento (défaut) dessas dívidas públicas pode deflagrar uma crise sistêmica, pois implicaria em pesadas perdas para os bancos, que detêm 140 bilhões de euros da dívida grega e 120 bilhões de euros da dívida espanhola, fora àquela que é devida ao BCE”. (Patrick Artus, “Qui détient les dettes dangereuses?”, Flash Éco-nomie Natixis nº 118, 23/03/2010, págs. 5 e 6).

PERDAS

Na verdade, as perdas serão muito maiores, pois nesses números não está computada a dívida com fundos de investimento, seguradoras, etc., que são dependentes dos bancos, quando não pertencem diretamente a eles. A dívida com o Banco Central Europeu (BCE) - e outros bancos centrais - é 33,3% da dívida pública espanhola. Todo o resto, 66,7%, está em mãos de bancos ou fundos de investimento, seguradoras, etc. Isoladamente, os bancos franceses são os principais credores - 25,11% da dívida pública espanhola (Artus, art. cit., pág. 5).

Há algo peculiar nessa dívida. A dívida externa mobiliária (isto é, em títulos) da Espanha é US$ 1,108 trilhão e somente US$ 312 bilhões - isto é, 28,1% - são em títulos públicos (cf. Broyer e Brunner, “Qui détient les dettes publiques euro-péennes?”, Flash Économie Natixis nº 124, 24/03/2010, pág. 2).

Por que, então, a crise atual da Espanha é tratada como uma crise da dívida pública, se, ao contrário da Grécia, que tinha 95,6% da dívida em títulos públicos, a dívida pública externa (em títulos) do país ibérico não chega nem a um terço da dívida total?
Porque a dívida privada tornou-se, na verdade, pública, depois do estouro de 2008, quando os governos europeus concederam garantia aos títulos privados, sobretudo aos títulos dos bancos. Por isso, fala-se em crise da “dívida soberana” (que tem esse nome, provavelmente, porque nada há de menos soberano nesses países do que essa dívida...). A mal chamada “dívida soberana” é a soma da dívida pública com os títulos privados que são garantidos pelo Estado. Certamente, se algum governo não puder pagar a sua dívida, menos ainda terá condições de garantir a dívida de particulares...

Com essa garantia, esses governos jogaram sobre a sociedade, e o Estado, a inadimplência dos bancos. O que nos conduz à razão mais profunda, e mais escamoteada, pela qual a crise europeia é tratada, inevitavelmente, como uma crise da dívida pública: trata-se de uma crise da capacidade dos Estados de continuarem sustentando bancos falidos. Mas, se os governos não têm caixa para continuar colocando dinheiro nos bancos, a solução destes é fazer os governos saquearem a população, para que o Erário continue sustentando-os.

Lordon observa que em 2008, quando os Estados europeus, seguindo os EUA, abriram o Tesouro para cobrir os rombos dos bancos, afetados pelos pacotes de derivativos de vento que compraram dos norte-americanos, “os Estados em questão ainda tinham dívidas públicas moderadas e pareciam em situação de exterioridade e solidez em comparação com o setor bancário” (Lordon, “Sauver les banques jusqu’à quand? - Le ‘plan de stabilisation’, ou les risques du bootstrapping”).

Em suma, em 2008 os governos europeus plantaram uma crise da dívida pública enviando bilhões para um buraco negro e dando garantia aos títulos privados. O buraco negro bancário continua engolindo dinheiro público, enquanto os bancos continuam a fazer a mesma coisa: segundo o BIS, os derivativos aumentaram 12% entre 2008 e 2009, atingindo US$ 615 trilhões em dezembro (um ano antes, eram US$ 548 trilhões - cf. BIS, “Semian-nual OTC deriva-tives statistics, December 2009”).

Agora, esses governos estão colhendo o que plantaram com sua subserviência ao caminho que o governo dos EUA escolheu. A sua capacidade de colocar mais dinheiro nos bancos sem quebrar o país - sem cortar empregos, salários, aposentadorias, investimentos, etc. - está praticamente esgotada.

Antes da crise, Sarkozy, observa Lordon, queria reduzir as aposentadorias na França porque, pelas suas contas, se continuarem as atuais regras, haveria, em 20 anos, um déficit de 30 bilhões de euros na previdência. Agora, os mesmos elementos falam em 400 bilhões, 500 bilhões, 750 bilhões de euros - em um, dois ou três anos -, para salvar bancos falidos, como a coisa mais natural e racional do mundo.

Fazer o povo espanhol, ou grego, ou de outros países europeus, concordar em perder empregos, aposentadorias, salários, para continuar salvando bancos falidos, inteiramente parasitários - e subsidiários da especulação norte-americana - não é o único problema desses governos. Mas é, já agora, o maior. E só aumentará de tamanho, se a política da UE não mudar.

Geografia do Brasil Para Diplomacia- Curso Atlas IRBr Headline Animator