24 de novembro de 2008

Negro ganha a metade que um não-negro

 

RAQUEL MALDONADO

20-11-2008

Na semana em que o Brasil relembra o assassinado de Zumbi dos Palmares, o máximo símbolo da resistência negra à escravidão no país, e que se celebra o Dia da Consciência Negra, uma pesquisa aponta desigualdades entre os salários dos trabalhadores brasileiros negros e não- negros.

De acordo com a pesquisa do Seade/Dieese, realizada na Grande São Paulo, a região mais rica do país, a renda de um trabalhador negro é metade da de um não-negro. Segundo os dados, enquanto o rendimento médio do negro é de R$ 4,36 por hora, o não-negro recebe R$ 7,98.

Para José Vicente, presidente da ONG Afrobras e reitor da Unipalmares (Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares), esse tipo de pesquisa serve para chamar a atenção para o fato de que ainda existe no Brasil uma desigualdade racial muito grande.

"O negro no Brasil não consegue encontrar espaços sociais de prestígio. Não há negros nas universidades, não há professores negros nas universidades, eles não estão no poder judiciário, no senado ou na câmara dos deputados. Não há negros na comunicação social. Nas novelas os negros também não aparecem muito. O que existe no Brasil é uma verdadeira invisibilidade do negro no espaço social", lamenta Vicente.

Educação

Apesar de que uma das principais causas apontadas por especialistas para explicar esta desigualdade na renda seja o menor acesso à educação, a pesquisa indica que, quanto maior o nível de estudos, maiores são as disparidades. Segundo o documento, enquanto a diferença entre a renda dos que não terminaram o ensino fundamental é de 20%, entre os que possuem o ensino superior completo o índice chega a 40%.

"O problema não está só na dificuldade que um negro tem para aceder ao mercado de trabalho, pois uma vez inserido neste mercado, as dificuldades continuam. Muitas vezes, ainda tendo as mesmas qualidades e as mesmas capacidades de um não-negro, seu salário é 50% menor", complementa Vicente.

Segundo o reitor, o que o Brasil precisa é de um grande movimento social para impulsionar o combate à discriminação racial, uma vez que essa questão não é um problema só do negro, mas, sim, de todos os brasileiros.

"Temos que contar com o apoio de todos para criar uma onda positiva no sentido de compreender o valor do respeito à diversidade e do respeito à tolerância. E fazer que estes sejam os valores prestigiados, incentivados e praticados tanto pelo governo quanto por toda sociedade. Temos que fazer que a história do negro e a história da África sejam aprendidas para que se crie uma identidade histórica, se eleve a auto-estima e também para difundir qual foi a contribuição do negro na construção do Brasil".

Estados Unidos
Vicente também opina que o Brasil deveria se espelhar em outros países na busca por uma melhor integração racial. "A vitória de Barack Obama já fez o Brasil sentar no divã. O Brasil vai ter que responder a si mesmo como um país que teve uma segregação racial oficial como a que tiveram os Estados Unidos tem hoje, depois de só 50 anos, um negro como presidente da República e nós, que nos orgulhamos de ser uma democracia racial, temos negros ganhando quase 60% menos que um trabalhador branco?".

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