16 de outubro de 2011

A Guerra da Otan contra a Líbia é uma guerra contra o desenvolvimento da África

REBEL GRIOT

“A África é a chave do desenvolvimento econômico mundial”; esse recente título do Washington Post é de uma honestidade refrescante, mas não verdadeiramente um furo de reportagem. A mão de obra e os recursos africanos – como diria qualquer historiador econômico decente – são a chave do desenvolvimento econômico há séculos.

Quando os europeus descobriram a América há 500 anos seu sistema econômico se disseminou por outros lugares. As potências européias tomaram cada vez mais consciência de que o equilíbrio de poderes nos seus países dependia da força que podiam tirar de suas colônias. O imperialismo (quer dizer, o capitalismo) foi a característica essencial da estrutura econômica mundial desde então.

Para a África isso se traduziu na pilhagem sistemática e contínua de sua mão de obra e de seus recursos o que não deixou de acontecer até o dia de hoje. Inicialmente foi o rapto brutal de dezenas de milhares de africanos para substituir a força de trabalho nativa da América dizimada pelos europeus. O comércio de escravos foi devastador para as economias africanas que raramente foram capazes de suportar a queda e a destruição de sua população; mas os capitais assim acumulados pelos proprietários das plantations no Caribe financiaram a revolução industrial. Ao longo dos séculos 18 e 19 cada vez mais matérias preciosas foram descobertas na África (especialmente ferro, borracha, ouro e prata) e o roubo de terras e de recursos finalmente conduziu ao que se chamou “A corrida para a África” quando no espaço de alguns anos os europeus repartiram entre si todo um continente inteiro (salvo a Etiópia). Assim a economia foi largamente mundializada e a África continua a fornecer a base do desenvolvimento industrial europeu, por isso os africanos perderam suas terras, seus recursos naturais e foram forçados a trabalhar para os europeus nas minas de ouro e nas plantations de borracha.

Após a segunda Guerra Mundial as potências européias, enfraquecidas por anos de guerra industrial de umas contra as outras, são levadas a adaptar o colonialismo às suas novas situações. Os movimentos de libertação se reforçam nas colônias e as potências européias se vêm confrontadas a uma nova realidade econômica – o custo da repressão à “agitação dos nativos” torna-se próximo do nível de riquezas que eles extraem dessas colônias. A solução que eles encontraram foi batizada de “neocolonialismo” por Kwame Nkrumah; ela consistia em confiar atributos formais de poder a um grupo de testas de ferro escolhidos com muito cuidado para que explorar seus países como antes. Em outras palavras, a adaptação do colonialismo permite fazer os africanos arcarem eles mesmos o custo e o fardo da repressão às suas próprias populações.

Na prática isso não foi assim tão simples. Por toda Ásia, África e América Latina houve movimentos de massas que reclamaram o controle de seus próprios recursos e em muitos lugares esses movimentos conseguiram tomar o poder – por vezes pela guerrilha, por vezes pelas urnas. As potências européias – de agora em diante conduzidas por seu último pimpolho e protegido, os EUA – travaram guerras implacáveis para por fim a esses movimentos. Essa luta e não só a “guerra fria” é o que caracteriza a história das relações internacionais do pós-guerra.

Até hoje o neocolonialismo foi um sucesso para os europeus e os EUA. O papel da África como fornecedor de mão de obra barata, para não dizer escravizada, e de minerais não diminuiu. A pobreza e a desunião foram frequentemente os principais fatores que permitiram a manutenção dessa exploração. Entretanto sérias ameaças passaram a se apresentar a partir de certo momento sobre esses dois fatores.

Os investimentos chineses na África nos últimos 10 anos contribuíram para o crescimento de uma indústria e infra-estrutura africanas que começam fazer efeitos benéficos sobre o nível de vida de certas populações. Na China, graças a essa política, houve uma redução drástica da pobreza e o país está em vias de se tornar a primeira potência econômica do mundo. Se a África segue esse exemplo, ou algum outro do mesmo gênero, isso poderá ocasionar o fim de 500 anos de pilhagem das riquezas da África pelo ocidente.

Para impedir essa “ameaça sobre o desenvolvimento da África” os europeus e os EUA empregaram a única coisa que conhecem – as armas. Há 4 anos os EUA colocaram em foco um novo “centro de controle e de comando” para submeter militarmente a África que tem o nome de AFRICOM. O problema para os americanos foi que nenhum país da África quis acolher o AFRICOM em seu território. De fato até bem recentemente a África se distinguia por ser o único continente que não continha bases americanas. Em verdade isso acontecia em grande parte pelos esforços do governo da Líbia.

Antes que a revolução de Kadafi em 1969 derrubasse o rei Idris, sustentado pelos ingleses, a Líbia abrigava uma das maiores bases americanas, a base aérea de Wheelus; mas no curso do primeiro ano da revolução líbia ela foi fechada e todo o pessoal militar expulso do país.

Nos últimos anos Kadafi trabalhava ativamente contra o AFRICOM. Quando os EUA ofereciam dinheiro a algum país da África para acolher uma base norte-americana no continente, Kadafi oferecia o dobro para que o país recusasse. Em 2008 essa oposição se cristalizou sob a forma de uma rejeição formal do AFRICOM pela União Africana.

O que poderia ser talvez ainda mais inquietante para a hegemonia euro-norte-americana sobre o continente era o grande montante de dinheiro que Kadafi consagrava ao desenvolvimento da África. O governo líbio foi sem sombra de dúvida o maior investidor do primeiro satélite africano lançado em 2007 que levou a África a economizar 500 milhões de dólares que lhe custava antes a utilização dos satélites europeus. Pior ainda para as potências coloniais, a Líbia disponibilizou 30 milhões de dólares à União Africana para três projetos financeiros destinados a acabar com a dependência africana dos financiamentos ocidentais. A banca de investimentos africanos – com seu lugar na Líbia – deveria investir no desenvolvimento da África sem juros, o que ameaçaria seriamente a dominação do Fundo Monetário Internacional sobre a África – um instrumento capital para manter a África na pobreza. E Kadafi dirigia a entrada em cena na União Africana de uma nova moeda africana indexada ao ouro o que tinha o objetivo acabar com mais uma ferida que colocava a África à mercê do ocidente, 42 milhões de dólares já tinham sido gastos nesse projeto – e novamente a maior parte desses recursos disponibilizados pela Líbia.

A guerra da OTAN contra a Líbia tem por finalidade acabar com o projeto socialista, anti-imperialista e pan-africano da Líbia, ponta de lança de um movimento destinado a reforçar a independência e a unidade da África. Os rebeldes claramente expuseram seu racismo virulento desde o início de sua subversão prendendo e executando milhares de trabalhadores e estudantes africanos negros. Todos os fundos de desenvolvimento para os projetos descritos acima foram “congelados” pelos países da OTAN e estão sendo destinados aos seus companheiros do Conselho de transição na Líbia para comprar armas e facilitar a guerra contra Kadafi.

Para a África a guerra está longe de terminar. O continente africano deve se dar conta de que a agressão da OTAN à Líbia é um sinal de desespero, impotência e incapacidade de impedir o inevitável crescimento da força da África no cenário internacional.

A África deve observar as lições dadas pela Líbia e continuar a consolidar a unidade pan-africana e a resistir ao AFRICOM. Haverá ainda muitos líbios que sustentarão os africanos nessa tarefa.

Artigo original publicado em 5 de setembro no site:
HTTP://legrandsoir.info/la-guerre-de-l-otan-contre-la-líbia-est-une-guerre-contre-le-developpement-de-l-afrique-countercurrents.html

2 comentários:

Anônimo disse...

Felismente que a africa esta hoje mais do que nunca consciente e madura .
Graças aos grandes lideres africanos e grandes fundadores dos movimentos nacionalistas de vários paises africanos como Angola com os seus fundadores como Viriato da Cruz,Mario Pinto de Andrade,Lucio Lara ,Eduardo Macedo dos Santos,Hugo José Azancot de Menezes ,Matias Migueis nacionalistas de alda dimensão que conseguiram implementar estratégias e políticas de libertação progressistas em prol dos interesses de Angola e África.
A consciencia colectiva madura dos africanos espalhados pelo mundo associada ao sistema de rede resultante da participação virtual do grande revolucionario em prol da tecnologia de informação paradoxalmente Americano favorece a tomada de consciencia pela capacidade de informação e mobilização dos oprimidos do mundo inteiro.
A revolução de Africa é imparavel.
As sementes deixadas pelos grandes libertadores do mundo dos oprimidos vgarão como as redes virtuais de informação.
Unemos as nossos esfoços e não esqueçamos as nossas conquistas que tenham um efeito planetario.

Escrito por:
Ayres Guerra Azancot de Menezes

Anônimo disse...

Felismente que a africa esta hoje mais do que nunca consciente e madura .
Graças aos grandes lideres africanos e grandes fundadores dos movimentos nacionalistas de vários paises africanos como Angola com os seus fundadores como Viriato da Cruz,Mario Pinto de Andrade,Lucio Lara ,Eduardo Macedo dos Santos,Hugo José Azancot de Menezes ,Matias Migueis nacionalistas de alda dimensão que conseguiram implementar estratégias e políticas de libertação progressistas em prol dos interesses de Angola e África.
A consciencia colectiva madura dos africanos espalhados pelo mundo associada ao sistema de rede resultante da participação virtual do grande revolucionario em prol da tecnologia de informação paradoxalmente Americano favorece a tomada de consciencia pela capacidade de informação e mobilização dos oprimidos do mundo inteiro.
A revolução de Africa é imparavel.
As sementes deixadas pelos grandes libertadores do mundo dos oprimidos vgarão como as redes virtuais de informação.
Escrito por:
Ayres Guerra Azancot de Menezes

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