26 de agosto de 2009

Quem quer tomar o pré-sal do Brasil e os seus lobbies

 

FERNANDO SIQUEIRA*

A primeira fonte de pressão sobre o pré-sal são os Estados Unidos, com 29 bilhões de barris de reservas e consumo anual de 10 bilhões. A segunda fonte é o cartel das Sete Irmãs, que já teve controle de 90% das reservas mundiais e hoje tem em torno de 3 a 6% dessas reservas. E nessa condição estão fadadas a desaparecer.

Quem dominou o setor durante 150 anos, com todo tipo de atitude, como subornar, destituir ou assassinar presidentes que nacionalizaram o petróleo, como Jayme Roldós do Equador, que foi assassinado, Enrico Mattei da Itália, que foi assassinado, Mohamad Mossadeg do Irã, que foi deposto. Foram assassinados oito poetas da Nigéria porque eles gritavam ao mundo que a Shell estava destruindo as terras agricultáveis do povo Ogani e agora a Shell está sendo processada, 20 anos depois. A Exxon está sendo processada por causa do derrame no Alasca. Enfim, essas empresas dominaram o setor com mão de ferro e não vão vender barato a sua derrota, sua extinção.

A primeira providência da Exxon foi se fundir para sobreviver. A Exxon e a Móbil se fundiram e criaram a ExxonMobil, a maior empresa de petróleo do mundo e não tem reservas. Mas tem um faturamento brutal, o maior faturamento do mundo.

A Chevron se fundiu com a Texaco e com a Gulf (todas americanas). A British Petroleum da Inglaterra se fundiu com a Amoco dos Estados Unidos. Essas empresas estão se fundindo para não desaparecer. Mas só a fusão não é suficiente. É preciso reservas. Então elas querem o pré-sal, até porque três delas são americanas e uma é anglo-saxônica.

A Total, européia, se fundiu com a Fina. Uma francesa com uma belga. E a Totalfina com outra francesa, a Elf. Essas empresas formam o novo cartel denominado “BIG OIL” e se fundem para sobreviver. Estão atuando fortemente nos três Poderes brasileiros. Nós tivemos esse ano, quatro audiências públicas no Senado. Cada audiência pública com cinco meses de exposição, debate; cada mesa com dois lobistas de peso. No dia 3 de junho, foi feita a primeira na Câmara. Coincidentemente, os lobistas defensores da atual legislação são os mesmos. É o presidente do IBP, João Carlos de Luca, que também é presidente da Repsol, que é uma empresa espanhola comprada pelo Royal Bank of Scotland, que também é dono do Santander, que comprou o Banespa numa condição absolutamente indefensável. Enfim, a Repsol é uma empresa anglo-saxônica, braço das Sete Irmãs.

Comprou a YPF da Argentina e a ENI da Itália. Ela está na Argentina, na Colômbia, na Bolívia, no México, enfim, essas empresas estão fazendo todo o possível para que não mude o marco regulatório brasileiro, para que elas mantenham as vantagens nele contidas. Em contrapartida, “as novas irmãs” são oito estatais que detêm 65% das reservas: Saudi Aramco, Gazprom (Rússia), Inoc (Irã), Petronas (Malásia), PDVSA (Venezuela), Pemex (México), Petrochina e Petrobrás. Além dessas, tem a Nigeriana NNPC e a NIOC do Iraque.

Estão nas mãos das empresas estatais cerca de 80% das reservas, com tendência a aumentar essa posse porque as empresas e os governos se deram conta do alto valor estratégico que o petróleo representa. As chances das irmãs privadas conseguirem novas reservas são muito complicadas. O pré-sal é uma das alternativas que está mais à mão delas, se nós brasileiros não reagirmos, claro.

* Presidente da AEPET.

Texto extraído do livro  “O  pré-sal é nosso - pelo retorno da Lei 2004”.

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