29 de setembro de 2008

SOBERANIA DA AMAZÔNIA

 

De lá o The New York Times indagou: de quem realmente é a Amazônia? De cá Lula respondeu: do povo brasileiro. Mas será que o presidente tem razão?
Em meio à troca de ministros do meio ambiente Marina Silva por Carlos Minc, o jornal americano levantou a questão, sobre quem de fato deveria ter o domínio da floresta amazônica, defendia também a internacionalização da mesma.
A operação Arco de Fogo, da Polícia Federal, iria coibir os desmatamentos ilegais, ou seja, os reais donos da mata: os madeireiros, barões da soja e criadores de gado, já que o IBAMA sozinho não tem pessoal e força jurídica pujante para conter estes que são a principal causa da destruição ambiental na região; mas a operação foi sutilmente reprimida em alguns estados, onde governadores cúmplices da desordem, interviram e pressionaram politicamente.
O novo ministro, Carlos Minc, liberal progressista, não pelo partido, mas sim por suas ações, parece que vai superar a estagnação da política ambiental usando a tática do "um morde o outro assopra"; o ministro disse que vai "agilizar" as concessões ambientais, em troca, já anunciou a liberação de 1 bilhão para recuperar áreas degradadas da floresta. O discurso do (PAS) Plano Amazônia sustentável, que busca um crescimento equilibrado na região, está sendo confundido com o (PAC) que visa o progresso infra-estrutural sem grandes preocupações ambientais.
Os índios também fazem parte do bioma Amazônia, e estão sujeitos ao descaso e esquecimento político-social, o que os torna alvo fácil para ação de interesses econômicos, a reserva indígena Raposa Serra do Sol é um exemplo, desse tipo de prática. Segundo políticos nortistas, ONGs que atuam na Amazônia sob o manto da defesa ambiental, defendem interesses estrangeiros nas riquezas minerais do lugar. Infiltradas nas comunidades, essas organizações financiam entidades em Roraima que defendem as reservas indígenas contínuas na Amazônia para não permitir o maior controle brasileiro sobre essas áreas. A operação Upatakon 3, da PF, visava retirar toda a população não-indígena de dentro da reserva, mas foi suprimida por ação do governo de Roraima. Somado a isso as declarações do general Augusto Heleno, de que a política indigenista é caótica e ameaça a soberania do país, não foram bem recebidas pelo governo Lula, que o repreendeu e reprovou sua atitude. Voltemos à pergunta do início; Lula pode até ter razão em dizer que a Amazônia é dos brasileiros; mas, de que brasileiros, o presidente é um desses brasileiros, então por que ele não age pessoal e afetivamente em defesa desse patrimônio que antes de ser um objeto de disputa, e uma área de uma imensa biodiversidade e com grande importância científica, biológica, ecológica, climática e geográfica para todo o planeta.

José Morais da Silva Neto
José Morais da Silva Neto é estudante de
Geografia da UEPB e responsável pelo
blog “”Crítica a Tudo” http://netoclicak.blogspot.com/

ALTENATIVAS LATINO-AMERICANA


Em meio às dificuldades da ALCA, projeto estratégico de Washington, avançam o Mercosul expandido e a ALBA (Alternativa Bolivariana para a América) - possíveis embriões de um comércio internacional de novo tipo.

Configurou-se um enfrentamento entre a integração latino-americano e a ALCA, na verdade ferramenta para consolidação da hegemonia norte-americana.

Entre as regiões do mundo vítimas das políticas neoliberais, a América Latina ocupa um lugar de destaque. Nenhum dos projetos de integração regional escapou de seus efeitos destrutivos. As medidas de liberalização comercial e financeira aceleraram o controle do mercado interno de cada país pelas multinacionais norte-americanas e européias. Estas medidas também acentuaram a dependência das economias regionais em relação aos mercados externos.

No entanto, ao mesmo tempo em que os países da Europa e da América do Norte perseguiam seu processo de integração, projetos similares se desenvolviam, particularmente na América do Sul. Eles procuravam proteger, ainda que de maneira mínima, as economias da região das conseqüências negativas da globalização. Nas décadas de 1980 e 90, sugiram dois projetos antagônicos: o Mercosul, integrado inicialmente pelo Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai; e o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), que reuniu EUA, Canadá e México.

Washington tinha a ambição de estender o Nafta ao resto do continente. Quase no momento em que o bloco foi formalizado, e em que o Chile foi apresentado como o primeiro candidato a se integrar a ele, a crise mexicana de 1994 levou o Congresso dos EUA a não oferecer à Casa Branca o chamado "fast track" ("via rápida). Ela dá ao Executivo o direito de negociar acordos comerciais com outras nações, limitando os poderes do Legistivo a aceitar ou rejeitar, em bloco, eventuais tratados

Com o ingresso da Venezuela e Bolívia no Mercosul, começa a se dissipar a dualidade entre este bloco e a Comunidade Sul-americana de Nações ·.

Nascimento e declínio da ALCA

O governo norte-americano teve, então que apelar para um projeto que havia ficado na gaveta: a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Configurou-se assim um campo de enfrentamento entre um projeto de integração latino-americano e outro do conjunto do continente, em que a diferença - substancial - era a participação dos EUA nesta última. Representando 70% do PIB do total dos países, eles transformavam a ALCA em ferramenta de consolidação de sua hegemonia, jamais em processo de integração.

Eram tempos de extensão quase que ilimitada dos modelos neoliberais, dos quais a ALCA seria o complemento funcional. Essa tendência foi fortalecida com a crise brasileira de 1999, em que a brusca e grande desvalorização da moeda brasileira afetou diretamente a balança comercial com a Argentina, golpeando diretamente os graus de integração logrados no Mercosul.

No entanto, paralelamente foi se intensificando uma tendência nova: a vitória e evolução ideológica de Hugo Chavez na Venezuela, a chegada ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, de Nestor Kirchner, em Buenos Aires, e, mais tarde, de Tabaré Vázquez, em Montevidéu

A Venezuela, especialmente depois da vitória de Chávez sobre a oposição, no referendo revogatório de 15 de agosto de 2004, conquistou um espaço importante e se aproveitou para oxigenar o processo de integração. Este se deu, por um lado, através da constituição de uma espécie de coordenação da integração, entre os presidentes do Brasil, da Argentina e da Venezuela - as três principais economias da América do Sul. Esta coordenação promoveu reuniões setoriais entre ministros do setor energético, do de políticas sociais e da área econômica. Diversos acordos form firmados, sobre temas de comécio, energia e defesa. Para ficar apenas num exemplo, Chávez anunciou, em 2004, que a Venezuela, que importa, para sua indústria petroleira, 5 bilhões de dólares de bens e serviços nos Estados Unidos, realizaria, a partir de então, 25% destas compras no Brasil e Argentina. Ao fazê-lo, conquistou aliados de circunstância nestes dois países, ainda que as opções destes difiram sensivelmente de sua perspectiva radical.

A ALBA baseia-se na montagem de mecanismos para criar vantagens cooperativas - ao invés das supostas "vantagens competitivas", paradigma das teorias neoliberais

Mercosul ampliado e Comunidade Sul-americana
Ao final de 2005, a Venezuela ingressou como membro pleno do Mercosul. Após a vitória eleitoral de Evo Morales em La Paz, o coordenador geral do bloco, o argentino Chacho Alvarez, anunciou que proporia o ingresso da Bolívia, na mesma condição. Começava assim a se dissipar a dualidade entre o Mercosul e a Comunidade Sul-americana de Nações. Nascida por iniciativa do Brasil, em 8 de dezembro de 2004, em Cuzco (Peru), esta era vista com reservas pelo governo de Kirchner, que se inclina pela expansão do Mercosul como prioridade. Foi em Cuzco, durante o encontro, que Chávez, em seu linguajar cheio de imagens, sugeriu uma consigna: "A política como locomotiva, o social como bandeira, o econômico como trilho e a cultura como combustível"
Ao mesmo tempo, o governo venezuelano multiplicou iniciativas setoriais - como a Petrosul, a TVSul, a PetroCaribe, entre outros - e desenvolveu uma iniciativa estratégica de alianças com Cuba - a chamada Aliança Bolivariana para as Américas. Em documento assinado em abril de 2005, em Havana, os governos de Cuba e da Venezuela lançam uma modalidade superior de integração, entre economias que podem partir de um nível superior de identificação, sobretudo a partir do momento - em janeiro de 2005, no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em que Hugo Chavez anunciou a adesão de seu governo ao que chama de "socialismo do século XXI".

A ALBA é uma proposta de integração que se fundamenta na montagem de mecanismos para criar vantagens cooperativas - no lugar das supostas "vantagens competitivas", paradigma das teorias neoliberais de comércio internacional. Já as vantagens cooperativas procuram reduzir as assimetrias existentes entre os países do continente. Elas apóiam-se em mecanismos de compensação, a fim de corrigir as disparidades de níveis de desenvolvimento entre os países da região. Têm na Venezuela e em Cuba seus grandes motores: a primeira com os recursos do petróleo, a segunda principalmente com os recursos de educação, saúde e esportes.

ada país oferece o que pode produzir em boas condições, e recebe, em contrapartida, aquilo que precisa, independentemente dos preços no mercado mundial       

ALBA, contraponto ao "livre" comércio

A ALBA pretende ser o contraponto da ALCA. Pretende integrar economias dissímiles desde baixo, envolvendo a todos os atores econômicos e sociais - como cooperativas, pequenas empresas, empresas públicas, empresas privadas grandes, médias e pequenas -, priorizando o atendimento de problemas essenciais para a massa da população, como alimentação, moradia, indústria e meio ambiente. Enquanto que a ALCA não diferencia entre países grandes e pequenos, entre países com grandes recursos naturais, financeiros, energéticos e os outros, acentuando mecanismos em que ganham os mais fortes - neste caso, os EUA. Além disso, a ALCA pretende impor aos paises critérios de segurança jurídica que favorecem as grandes corporações multinacionais, não se dispondo a atender aos paises mais fracos.

A ALBA não subsidia, mas fomenta créditos, máquinas e tecnologias para empresas recuperadas, fábricas abandonadas em mãos dos seus trabalhadores, cooperativas, comunidades de pequenos produtores - industriais, de comércio ou de servicios -, empresas públicas. A ALBA recebe o apoio dos Estados em créditos, assistência técnica e jurídica, marketing e comércio internacional, enquanto a ALCA deixa tudo entregue às forças que dominam o mercado e as possibilidades financeiras dos grandes agentes econômicos.

Em abril de 2005, dezenas de acordos foram firmados entre Caracas e Havana. Neste momento, decidiu-se criar, na Venezuela, 600 centros de diagnóstico integral de saúde, 600 creches e 35 centros de alta tecnologia, para assegurar ao conjunto da população o acesso gratuito à medicina e saúde. Também se decidiu a formação, por Cuba, de 40 mil médicos e 5 mil especialistas em tecnologias da saúde latino-americanos - além de 10 mil médicos e enfermeiros venezuelanos. Prosseguiu a operação "Milagre", que já permitiu a milhares de venezuelanos recuperar plenamente a visão, graças a uma intervenção cirúrgica (operação de catarata) realizada em Cuba. Ampliada para toda América latina, esta operação poderia ter até 100 mil beneficiários - 800 uruguaios foram os primeiros.

Pela primeira vez, um chefe de Estado chileno foi convidado à posse de um presidente boliviano - e aceitou comparecer ·.

Uma seqüência de acordos latino-americanos
De sua parte, a Venezuela decidiu abrir em Havana uma agência da empresa petroleira nacional (PDVSA) e uma sucursal do Banco Industrial da Venezuela. Os dois governos concederam preferências aduaneiras recíprocas para suas trocas comerciais. Cuba decidiu adquirir 412 milhões de dólares em produtos venezuelanos, o que poderia suscitar a criação de dezenas de milhares de empregos no país parceiro.
Se o "eixo estratégico" Caracas-Havana é alvo de críticas entre setores conservadores, inconformados por ver Cuba sair de seu isolamento, o desenvolvimento destas políticas de saúde é acompanhado com grande interesse pelo conjunto dos movimentos sociais do continente. Estas trocas constituem bons exemplos de comércio "justo": cada país oferece o que está pode produzir em boas condições, e recebe, em contrapartida, aquilo que precisa, independentemente dos preços no mercado mundial.
Trata-se de uma visão radicalmente diferente da que prevalece nos acordos bilaterais firmados por Washington com os países do continente - América Central, Chile, Uruguai, Peru e, em breve, Colômbia -, cujo resultado é acentuar as desigualdades, e graças aos quais os EUA, por seu peso determinante, consolidam posições que já lhes são estruturalmente favoráveis.

Antes mesmo de sua posse em La Paz, no último 22 de janeiro, o novo presidente da Bolívia, Evo Morales, começou por Havana e Caracas uma viagem ao exterior que poderia abrir caminha a uma integração da Bolívia à ALBA. Algum tempo antes, havia sido criada a Petrocaribe, empresa destinada a oferecer a onze países da região petróleo a preços reduzidos e com facilidades de pagamento. Esta iniciativa do governo de Chávez procurava permitir aos países da região precaver-se contra a volatilidade e a escalada de preços do petróleo no mercado internacional, livrando-os parcialmente da pressão exercida por Washington para impor acordos bilaterais.

Ainda em estado embrionário, e sem prejulgar seu sucesso, a ALBA é uma tentativa ambiciosa de integração regional que escapa às lógicas de mercado. Não faltarão dificuldades, porque o objetivo é envolver países como Argentina, Brasil e Uruguai; provavelmente o México e talvez o Peru. As economias destes países são dominadas por empresas multinacionais, muito mais interessadas em manter sua fatia no mercado norte-americano e europeu que em um tipo de integração que pode privá-las deste privilégio.
Os presidentes destas nações já enfrentam grandes dificuldades para avançar nos marcos bem menos ambiciosos do Mercosul. São prova os conflitos entre setores patronais do Brasil e Argentina, que sabotam o processo de integração. Na verdade, a ALBA só pode se realizar entre governos decididos a desenvolver um projeto estratégico de grandes transformações estruturais internas, de maneira que as decisões que tomam envolvam efetivamente a economia de seus países.

Reconciliar "irmãos inimigos"?

Ainda assim, algumas iniciativas emergem, preliminares de uma aliança entre países do continente. Como exemplos (não exaustivos), Chávez confirmou o investimento de 600 milhões de dólares da PDVSA no Uruguai, onde a empresa petroleira venezuelana trabalhará com sua homóloga, ANCAP, especializada em refino de óleo. Um acordo entre Caracas e Brasília permitirá a construção de uma importante refinaria no Nordeste brasileiro. Reunidos em 18 de janeiro, os presidentes Kirchner e Lula examinaram o projeto de construção de um oleoduto que, partindo da Venezuela, chegaria até a Argentina, passando pelo território brasileiro. A criação de uma grande companhia petroleira sul-americana, Petrosul, talvez não seja apenas um sonho

A Telesur já funciona. Tendo como acionistas Argentina, Cuba, Uruguai e Venezuela, esta cadeia de televisão procura fornecer informação lationo-americana fora dos padrões das TVs privadas e da influência midiática vinda do Norte.

Quem sabe se esta esquerda, em sua multiplicidade e diferenças, não é capaz de conciliar "irmãos inimigos"? Brasília tem excelentes relações com Santiago, mas também com Caracas - cujo presidente, Chávez, mantém laços estreitos com Evo Morales. Nos últimos dias de seu mandato, o presidente do Chile, Ricardo Lagos, aceitou participar da posse de Morales, em 22 de janeiro. Os dois países são protagonistas de uma das mais antigas disputas territoriais da América do Sul. Foi a primeira vez em que um chefe de Estado chileno foi convidado à posse de um presidente boliviano.

Emir Sader,
Le Monde Diplomatique, Edição brasileira, ano 7 número 73

26 de setembro de 2008

Síntese de países

O Mundo em síntese num ótimo esquema informações variadas de todos os países do Mundo você em com neste sítio

IBGE - Países@

Vale a pena conferir e consultar quando necessário.

Crise nos EUA acelera remessa de lucros das multinacionais

 

US$ 24 bilhões deixaram o país de janeiro a agosto. Os EUA aumentaram de US$ 1,9 bilhão (2007) para US$ 4,7 bilhões (2008) os recursos extraídos do povo brasileiro

As remessas de lucros e dividendos de empresas estrangeiras instaladas no Brasil praticamente dobraram nos primeiros oito meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2007. Nada menos que 24,06 bilhões de dólares deixaram o país rumo às matrizes entre janeiro e agosto, segundo dados divulgados pelo Banco Central. No ano passado, até agosto, este montante ficou situado em US$ 13,29 bilhões.

Os números tornados públicos na terça-feira (23) fizeram com que o Banco Central revisse a sua projeção para este ano, acrescentando US$ 4 bilhões na estimativa anterior, situada em US$ 29 bilhões. Somente em agosto, a saída de lucros e dividendos somou US$ 1,933 bilhão. No mesmo mês do ano passado, essa conta foi de US$ 1,386 bilhão.

A explosão no envio de lucros para fora é um reflexo direto da crise instalada nos Estados Unidos no início deste ano. Desde março, quando ruiu a especulação com os títulos conhecidos como subprime (tipo de hipoteca em que o tomador do empréstimo é considerado de alto risco para efetuar o pagamento), vários grupos financeiros foram à bancarrota ou à beira do colapso. Com as contas no vermelho, os conglomerados financeiros começaram a raspar o tacho de suas filiais para cobrir o rombo.

Dos cinco principais destinos dos lucros angariados no Brasil (EUA, Espanha, Países Baixos, França e Itália), o maior sacador foi os EUA, que aumentou de US$ 1,9 bilhão (2007) para US$ 4,7 bilhões (2008) a retirada de lucros em 2008.

Os números negativos fizeram com que o Banco Central revisse também as suas estimativas para as contas externas brasileiras, passando a prever um déficit de US$ 28,8 bilhões nas transações correntes (formada pela balança comercial, serviços e rendas), primeiro déficit desde 2002. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o rombo está diretamente ligado ao aumento das remessas. “O que leva ao déficit é remessa de lucros e dividendos, de US$ 33 bilhões em 2008 e de US$ 30 bilhões em 2009”, disse.

Mostrando-se totalmente despreocupado com a sangria promovida no país, devido a falta de qualquer regra que limite a remessas de lucros, Altamir cita também as retiradas das aplicações em carteira como um sintoma de que as empresas estrangeiras estão sacando o dinheiro para cobrir as perdas lá fora. Segundo ele, houve uma saída líquida de US$ 1,626 bilhão em agosto, número que será superado em setembro, que já acumula uma retirada de US$ 1,081 bilhão das aplicações realizadas em ações de empresas brasileiras.

Os gastos do governo com juros também contribuíram sobremaneira com o envio de dinheiro para o exterior. Só em agosto, US$ 387 milhões foram torrados com juros (94% acima do resultado de agosto de 2007), elevando o acumulado no ano a US$ 5,032 bilhões. No relatório, a projeção para esse pagamento em 2008 aumentou de US$ 4,9 bilhões para US$ 7,3 bilhões.

Hora do Povo

22 de setembro de 2008

O Curso Atlas oferecerá, a partir de outubro, Módulos Intensivos por disciplina, com 15 horas-aula, para que os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira Diplomática-CACD- possam reforçar sua preparação em áreas específicas.

Os Módulos Intensivos são abertos também ao público externo e mantêm o viés pedagógico dos nossos cursos regulares. A programação se estende por novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, afim de completar o tratamento de todo o programa da concurso. As matrículas já estão abertas.

O candidato que optar por três módulos poderá participar gratuitamente de um quarto a sua escolha.

INGLÊS         6 a 10 de outubro

                - turno matutino e noturno (de acordo com a demanda)

                - 2 aulas para TPS, 2 para Técnicas de Tradução e 2 para Técnicas de Versão

- 4 aulas para Redação

                - Professora Flávia Westphalen

POLÍTICA INTERNACIONAL – Temas contemporâneos        13 a 17 de outubro

                - turno matutino

                - Professor Marcos Carra

GEOGRAFIA DO BRASIL                  20 a 24 de outubro

                - turno noturno

                - Professor Jeferson Pitol

REDAÇÃO                       20 a 24 de outubro

                - turno noturno

- Professor Maurício

-O curso está baseado na análise de espelhos de prova originais e na realização de exercícios específicos para a prova de redação do CACD. No último dia, será realizado simulado de segunda fase.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA prova de redação – 2ª fase do CACD –                20 a 24 de outubro

                - turno matutino

- Professor Maurício

- Análise e discussão das obras recomendadas para a segunda fase do CACD desde o não de 2006. Todas as obras serão apresentadas e discutidas nas 15 h do curso de acordo com o viés necessário à realização da prova de redação.

Investimento

Aluno Atlas:       R$ 150,00 por módulo

Aluno externo: R$ 300,00 por módulo (R$ 20,00 hora/aula)

INFORMAÇÕES: www.cursoatlas.com

51-30627745

informacoes@cursoatlas.com

19 de setembro de 2008

Da proposta social-democrata a aceitação do pensamento único. Este caminho tem volta?

Artigo

SAMUEL COSTA FILHO
Departamento de Ciências Econômicas - UFPI

16/04/2007
Durante a década de 90, após a derrocada do Socialismo real do Leste Europeu e do surgimento das idéias sobre fim da história predominou a visão de que o capitalismo liberal iniciara uma nova Era de Ouro. Os admiradores do capitalismo não se cansaram de afirmar a superioridade desse sistema e a falta de alternativa a economia de mercado. Foi apregoada uma era de prosperidade, de elevados investimentos dos países desenvolvidos nos países emergentes e de grande progresso tecnológico como resultado dessa nova etapa do sistema capitalista.

Nessa fase, batizada de globalização, se propaga a crença de que o sistema capitalista é a solução ideal para a sociedade representando a forma mais perfeita e acabada de organização humana. Cresceu a fé na economia de mercado  e na sua capacidade auto-reguladora. Para os seus apologistas, o capitalismo é o único sistema que por ter em vista a produção orientada para o mercado, atendendo preferencialmente os consumidores, opera nos setores mais lucrativos e adota os métodos mais eficientes, representando assim um sistema perfeito, desde que não sofra a desnecessária intervenção do Estado, que supostamente não poderia torná-lo mais eficazes.

O “novo liberalismo ” ocupou posição-chave como geradora primária de uma ideologia de defesa da livre empresa na esfera econômica e da democracia liberal na esfera política . Para os neoliberais só uma economia de mercado na qual os empresários tenham liberdade total de ação produziria bons resultados. Apresentam ainda uma negação das questões sociais de forma explicita e programática em proveito das questões econômicas.

A repetição constante desse “pensamento único ” em todos os meios de comunicação e por quase todas as matizes políticas conferiu ao “novo liberalismo” uma força de intimidação que encobriu e asfixiou toda tentativa de crítica e de reflexão livre sobre o que na realidade ocorria na “nova ordem mundial”.

A arrogância e força ideológica desse “novo liberalismo” possibilitaram uma política de controle social que desqualificava os críticos ou os que defendiam reformas sociais. Desqualificação em tal magnitude que classificava os críticos por meios de adjetivos como “atrasados ”, “retrógrados”, “dinossauros”, “radicais”, “esquerda burra”.

A Nível global, a revista The Economist, o The Wall Street Journal, o Financial Time, principais órgãos de informação econômica dos investidores e financistas repetiram e reproduziram o discurso “novo liberal”, apresentando a comunidade internacional de homens de negócio uma proposta editorial adequada à livre empresa e à expansão dos interesses globais das potências centrais, ou seja, no interesse das forças econômicas ligadas ao capital internacional.

No Brasil o jornalismo econômico disseminou com entusiasmo a expressão globalização como palavra mágica que a tudo justificava. Esse fenômeno foi apresentado como inevitável e irreversível , de tal forma que ninguém podia evitar o processo de globalização, sendo necessário adaptar-se o mais rápido e mais intensamente possível, iniciando um virtuoso futuro de crescimento econômico e elevação no nível de emprego.

Nesse contexto surgiu um consenso nos meios de comunicação em que todos os jornais, revistas  e redes de televisão brasileiras repetiam as teses liberais e escamoteavam as críticas. Os novos termos do jornalismo econômico brasileiro passaram a ser expressões como “Globalização”, “Custo Brasil”, “Mercados Emergentes” e “Reinserção Competitiva na Economia Mundial”. Todos essas palavras contaminadas com elevada carga ideológica  (Kucinski, 2000).

As forças conservadoras na periferia do capitalismo em meio a essa avalanche liberal e respaldado no Consenso de Washington implementaram políticas de cunho ortodoxo por quase toda a América Latina. Hoje se constata que todas essas políticas de liberalização da economia resultaram num enorme fracasso. Políticas de austeridade fiscal, altas taxas de juros, abertura comercial, liberalização da conta capital e dos mercados de capitais, e a política de privatização provocaram baixos níveis de crescimento, redução das taxas de investimento, crescimento acelerado do desemprego, crescimento da dívida interna e da dívida externa, queda do poder aquisitivo da classe trabalhadora e aumento da vulnerabilidade externa em todos os países que seguiram a política econômica recomendada pelo Consenso de Washington.

Infelizmente, o Brasil também optou pela inserção subordinada e passiva ao processo de globalização durante os anos 90. Analisando o desempenho do PIB brasileiro nesse período constatamos que a economia brasileira apresentou um quadro de semi-estagnação econômica com um crescimento médio que rivaliza com o da chamada “Década Perdida”. A política econômica implementada entre os anos de 1990 e 1992 resultou num período de forte instabilidade, seguindo-se um período de curta recuperação entre 1993/1995 decorrente do incentivo ao aumento do consumo interno promovido pelo Plano Real, e estagnação econômica entre 1996/1999.

O grande capital internacional e os mercados financeiros globalizados ditaram as regras que o Brasil se submeteu, elevando á já nossa grande vulnerabilidade e dependência de capitais externos. Essa política aumentou enormemente a dependência internacional do país a ponto de forçar a recorrer três vezes ao FMI nos últimos anos (1999/2004).

Desde 1999 estamos sob a tutela do Fundo Monetário Internacional – FMI, que determina a política econômica adotada pelo Brasil. O governo de Luís Inácio Lula da Silva ao assumir se viu na prisão dos devedores internacionais, presos pelas obrigações criadas por FFHH para com o Citibank e seu braço policial, o FMI (Palast. 2004).

Os idealizadores do modelo liberal brasileiro realizaram um processo de abertura da nossa economia prometendo a elevação na taxa de crescimento da produtividade que ensejaria o processo de crescimento econômico brasileiro e melhorias tanto na distribuição de renda quanto na competitividade da economia (Franco 1999).

Nesse período, parafraseando Delfin Netto (2004): “os noveux économistes” apregoaram a falsa idéia de que a abertura econômica do Brasil nos tornaria mais competitivos, eficientes e nos levaria ao “primeiro mundo”. Ocorre que há mais de uma década acreditamos que a estabilidade da moeda e o modelo liberal irão possibilitar essas mudanças e o crescimento econômico, mas os seus resultados são desalentadores. O que restou da grande aventura da “modernização” de 1990/2003 foi à substituição do fenômeno inflacionário pela grande armadilha do endividamento interno e externo.

Atualmente até o governo “social-democrata burguês” ou “neoliberal” de LULA tem claramente uma proposta de continuidade desse modelo, não somente no campo de política de gerenciamento macroeconômico de curto prazo, mas também na implantação e aprofundamento desse desastroso modelo liberal.

A surpresa experimentada pela sociedade e pelos sindicatos mais combativos com a linha adotada pela “burguesia petista” parece ter desorientado e anestesiado à luta dos progressistas por constantes mudanças sociais e o fim desse nocivo modelo implementado na década passada. Todavia não podemos esperar que o governo, associado as nossas elites, realize reformas estruturais de cima para baixo e modifique a atual situação da economia e sociedade brasileira.

Nessa linha devemos relembrar que as reformas liberais que assolam o mundo capitalista foram executadas em várias partes do planeta pelos partidos ditos progressistas ou de esquerdas. Como os partidos conservadores não tiveram força e coragem para implementar a realização de todas as reformas liberais de diminuição e sucateamento do Estado (corte nos gastos sociais e nos investimentos do setor público), redução dos direitos trabalhistas e enfraquecimento do poder dos sindicatos entregaram essa tarefa aos partidos de esquerda que sancionaram de forma “competente” tais políticas. São os partidos progressistas os encarregados de desmantelamento do Welfare State e da destruição do poder sindical, de tal modo que os capitalistas e o capital estão tomando de volta dos trabalhadores quase todos os ganhos sociais acumulados nos Trinta Anos Gloriosos (1940/1970).

Na Europa, o Partido Social-Democrata da Alemanha, a Democracia Cristã na Itália, os Partidos Socialistas na França, na Espanha e Portugal, e o Partido Trabalhista na Inglaterra foram os que realizaram o “jogo sujo” em favor do CAPITAL contra a classe trabalhadora e a maioria da população de seus países.

Na América Latina o comportamento não foi diferente. Realização similar ficou a cargo do Partido Peronista na Argentina, o partido Socialista e a Democracia Católica no Chile e da Social-Democracia do PSDB no Brasil. Assim, diferente do afirmado pelo “antigo PT” não é surpresa que o atual “governo liberal” de LULA esteja também a realizar as reformas que o governo de FFHH não conseguiu ou não quis realizar, realizando apenas o terceiro mandato do tucanato, que foi tão sonhado pelo ex-ministro Sergio Mota.

As argumentações infantis, simplistas e didáticas, próximas do senso comum, sobre as vantagens da globalização e do livre mercado não foram impedimentos para difusão rápida dessa ideologia devida não somente à renúncia dos intelectuais e partidos políticos “progressistas” de apresentar uma proposta alternativa, mas também em virtude da cooptação de intelectuais via farta verbas de pesquisa e/ou empregos na administração pública (Malaguti ett all, 1997).

Argumento ideológico que ainda se mantém apesar dos flagrantes desmentidos da história e dos desastres que provocou em todos os países que utilizaram as recomendações dos liberais. Em virtude da larga utilização do receituário “Novo Liberal” o continente latino-americano apresenta hoje um quadro de fragilidade na sua situação econômica, política e institucional, apresentando ainda um agravamento no quadro social (Soares, 2000).

A vitória da ideologia do “novo liberalismo” provocou o esgotamento da política social-democrata , deteriorou os serviços do Estado, ganhou os corações das novas gerações de tal maneira, que os jovens passaram a ter como projeto pessoal, somente “subir na vida”, transportando para o conjunto da sociedade os princípios darwinistas de sobrevivência do mais apto.

A “obsessão em vencer ”, o sucesso dos mais aptos, o estímulo ao desejo de atingir o topo da pirâmide social como sonho individual máximo realizado por poucos recria uma sociedade capitalista de rivalidade, incompatibilidade, antagonismos, racismo, xenofobia e violência, onde os vencedores não devem nada àqueles que esmagaram. Uma sociedade que ao lado de reduzido número de vencedores encontramos muitos rejeitados que não têm mais nada o que esperar.

Acontece que a história do capitalismo nos séculos XIX e XX foi, fundamentalmente, a história da redução dos excessos maléficos característicos do capitalismo, quer seja controlando o processo da concentração em oligopólios e monopólios, quer seja na regulação da sua lógica de exploração da força de trabalho, em virtude do ideal presente de pretender governar a sociedade com a afirmação dos princípios de igualdade, de justiça social e de solidariedade. Ocorreu a priorização da política e da ética em lugar dos princípios econômicos liberais.

O caminho da globalização da economia libertou o capitalismo das regras, procedimentos e instituições que permitiram a construção do “contrato social” do Estado do Bem-Estar Social ou Welfare State. Pela via da globalização o capitalismo reconstruiu, em escala planetária, seu enorme poder de concentração econômico, financeiro e político, de modo a levar que o mercado e a moeda sejam os únicos valores prioritários para a humanidade no atual estagiam do sistema capitalista globalizado.

No final do século XX o predomínio do “novo liberalismo” provocou o abandono das questões políticas e da responsabilidade social, levou a dilapidação dos bens públicos de tal modo que nenhuma força social ou política pode limitar as ambições dos ideólogos do liberalismo econômico. Os liberais difundiram a visão perniciosa da submissão do Estado as pensões e demandas da sociedade democrática, de tal forma que os governos teriam aumentado os orçamentos no limite do insustentável.

No atual contexto histórico-institucional financeiro em que existe desintermediação bancária, securitização, lançamento de título de dívida pública direta, títulos de propriedade e derivativos, globalização financeira, etc., estamos diante de uma globalização produtiva com supremacia da lógica e da ordem financeira.

Esse processo de globalização está associado às vertentes financeiras, produtiva-tecnológica e comercial. Na versão financeira apresenta-se sob forma de autonomia e mobilidade do capital financeiro pelo mundo a um custo bastante elevado no empréstimo do capital-dinheiro, na chamada financeirização da economia.

Os investidores preferem cada vez mais investir em títulos em detrimento do investimento produtivo. Conseqüentemente, a esfera financeira passa a ser o local principal de valorização do capital, nas transações com títulos públicos e privados, nas bolsas de valores, câmbio e nos mercados futuros.

Apenas uma fração reduzidíssima dessas transações relaciona-se com o financiamento de projetos criadores de emprego, além do que, a “regra de ouro” da empresa na atualidade passou a ser produzir sempre mais com menos trabalhadores assalariados. Diante deste quadro, além do crescimento econômico não criar mais tantos empregos, constatamos ainda que os novos sectores dinâmicos da economia necessitam de um efetivo menor de assalariados.

Acrescente-se a esse fato, que nessa realidade globalizada são justamente os trabalhadores dos países periféricos os que mais sofrem diretamente os efeitos da globalização devido à política de liberalização comercial e da desregulamentação do mercado de trabalho.

Segundo o professor Marcio Pochmann (2002:34) está em formação uma Nova Divisão Internacional do Trabalho que parece referir-se mais à polarização entre produção manufatureira, em partes dos países da periferia e a produção de bens industriais de informação e comunicação sofisticados e de serviços de apoio à produção gerado no centro do capitalismo.

Na periferia ocorre a geração de valor agregado na produção de manufaturas de menor valor agregado e baixo coeficiente tecnológico que requer mão-de-obra barata, uso extensivo de matéria-prima e energia em atividades insalubres e poluidoras do meio ambiente que não são mais aceitas nos países ricos. Por outro lado nos centro do capitalismo concentram-se nas atividades de mais alto valor tecnológico e de confecção de valor intangível.

Nessa nova divisão do trabalho, 70% do total da força de trabalho dos países ricos concentra-se no setor de serviços, que é menos globalizado, enquanto nas economias periféricas ocorre o contrário, ou seja, 70% das ocupações estão concentradas nos setores primários e secundários que são mais objeto de competição mundial.

A órbita produtiva-tecnológica está associada aos investimentos diretos no exterior, assim como na concentração produtiva e tecnológica que reforça o poder dos oligopólios. Na área da atividade de pesquisa, 89% dela é realizada nos países de origem da empresa. O oligopólio tem consolidado e avançado posições no mercado em que atua com aprofundamento da concentração da produção mundial. Há concentração dos investimentos no interior da tríade, composta pelo Estados Unidos da América, Japão e Europa Ocidental, proporcionando a integração de apenas uma pequena parte geográfica de países do globo.

Por último, a vertente comercial que diz respeito à multiplicação do fluxo de comércio mundial devido à queda generalizada das barreiras alfandegárias, à multiplicação dos acordos bilaterais e à formação de áreas de livre comércio.

Nessa linha, a globalização produtiva está restrita aos países da tríade e em alguns países que apresentam condições mínimas para produção industrial mais complexa na periferia, tais como Brasil, México, Argentina, etc., levando a baixo crescimento econômico com crescente desemprego e desnacionalização.

Nesse quadro, as finanças internacionais têm se desenvolvido de acordo com sua própria lógica, e não mais em relação direta com o financiamento dos investimentos e do comércio em nível mundial. Começa a se delinear um novo regime de acumulação mundial que adquiriu a marca, cada vez mais nítida, de um capitalismo predominantemente rentista e parasitário, subordinado as necessidades do capital-dinheiro (Chesnais, 1995). Desse modo, a economia mundial desde o fim do século XX passou a ser grandemente influenciada pelas relações monetárias e financeiras internacionais, provocando instabilidade e crises periódicas.

Acontece que, mesmo diante desse processo de globalização e do predomínio de uma nova dinâmica que assola o mundo, a forma capitalista de sociedade ainda é capitalismo. E o capitalismo globalizado elevou as enormes deficiências que são características desse sistema e que necessitam serem combatidas e até eliminadas. No capitalismo brasileiro essas deficiências e imperfeições se apresentam ainda maiores e mais graves. Nesse sentido, a via de liberalização do mercado não representa o melhor nem o único caminho para avançarmos rumo ao desenvolvimento econômico e a justiça social.

Nesses “novos tempos” liberais que prega consenso e certezas não devemos abdicar da nossa capacidade crítica de pensar. Pensar ainda é preciso e deixar de o fazer é renunciar a nossa capacidade humana de melhorar e decidir sobre o nosso amanhã. Atualmente, cada vez mais a realidades econômicas só atingem a consciência das pessoas sob uma forma deformada fazendo com que se confunda causa e efeito, o que têm levando a que as pessoas comuns tenham dos fenômenos econômicos uma concepção totalmente errônea. Desse modo se torna difícil à compreensão das verdades econômicas. Nessa linha e conforme já salientado, diferente das afirmações correntes, o capitalismo global continua apresentando muito dos seus vários defeitos congênitos e, alguns até sem solução dentro do sistema capitalista.

A sociedade brasileira e os progressistas devem pressionar o governo atual para abandonar o modelo liberal, pois a inserção subordinada ao capitalismo globalizado e a solução de mercado somente irão agravar os problemas sociais e econômicos brasileiros. Nessa linha se faz necessário que a classe trabalhadora e a população em geral compreendam as questões econômicas, sociais e políticas que estão em jogo, a fim de perceberem que a política do governo do PT DE LULA continua levando o Brasil rumo a instabilidade que nos mantêm presos numa camisa de força.

A utilização e justificativa da globalização têm na periferia servido aos interesses das elites conservadoras a tal ponto de esquecermos que o mundo continua capitalista e têm agravado os seus vários defeitos congênitos. Hoje em dia é comum o esquecimento de que o mundo capitalista em qualquer dos seus modelos (liberal americano, europeu ou asiático) apresenta uma desigualdade incorrigível, uma má orientação da produção e um desperdício de muitos dos seus recursos, visto que ao lado de amplas necessidades por satisfazer são encontrados meios de produção ociosos e desemprego grave e crônico, tanto no mundo desenvolvido quanto no chamado mundo subdesenvolvido. Dito de outra maneira, Capitalismo globalizado continua produzindo, de um lado, uma minoria privilegiada e, no outro extremo a sua grande maioria, produz miséria, exclusão, injustiça e a fome.

Alguns defeitos do capitalismo podem ser enfrentados por reformas, outros que decorrem da essência desse sistema não são suscetíveis de nenhum tipo de mudanças. Dentro dessa realidade convêm salientarmos que: 1) continua predominando a degradação constante do trabalho assalariado em decorrência da ameaça e/ou constante aumento do desemprego, provocando insegurança na vida e marginalização da classe trabalhadora, ou seja elevada exclusão social; 2) que as inovações tecnológicas a serviço da competitividade entre empresas nos mercados globais tem a predominância das inovações dos processos produtivos, o que provoca a permanente modificação das combinações dos fatores de produção tornando supérfluas quantidades crescentes de assalariados e elevando conseqüentemente a composição orgânica de capital, o que implica perdas adicionais de postos de trabalho; 3) que o sistema capitalista globalizado continua tendo como preocupação central o lucro, numa concorrência feroz entre capitalista visando prioritariamente superar os concorrentes próximos ou não; 4) que em decorrência desse último ponto, continua atual a disposição dos empresários de colocar em risco a saúde e mesmo a vida de seus trabalhadores, vizinhos e até clientes, quer seja através de más condições de trabalho, poluição e produtos nocivos, desde que sejam lucrativos e não seja detectado pelas vítimas ou por fiscalização dos governos; 5) que o atual capitalismo individualista elevou a grande desigualdade social e de riqueza característicos desse sistema. Quanto mais o mercado governa o futuro da sociedade, os indivíduos, grupos sociais, cidades, países e até continentes pouco competitivos ficam fora do processo de globalização, elevando as desigualdades a níveis irreversíveis entre os seres humanos; 6) que os países desenvolvidos continuam sendo os maiores criadores e detentores da moderna tecnologia, o que aumenta a dependência de países emergentes em relação a esses países ricos; 7) que no período da globalização financeira é cada vez maior a crença na importância do capital estrangeiro para os países subdesenvolvidos como forma de suplementar a poupança doméstica, para facilitar a transferência de técnicas modernas e para ampliar a capacidade de importações. Acontece que essa política somente tem tornado os países emergentes em exportadores líquidos de capital para os países ricos; e 8) a partir dos anos 80, o capital tem voado rapidamente de um país para outro procurando a maior taxa de lucros, e dessa forma, levando os países subdesenvolvidos concorrerem entre si para que o capital não migre para outros países. Qualquer deficiência encontrada em um desses países da periferia tais como: as estradas inadequadas, sindicatos que reivindicarem muito, impostos mais elevados que em outros países, faz com que o capital fuja para um país mais “seguro e confiável”.

Na realidade, é bom relembrar que no atual capitalismo globalizado os empresários capitalistas produzem ainda e cada vez mais com objetivo do lucro e não para atender a necessidade e interesses da sociedade. Nessa sociedade as influências do “efeito demonstração”, da “moda” e da publicidade convertem, cada vez mais, uma quantidade enorme de produtos e serviços supérfluos em “necessidades”.

A propaganda e a publicidade são constantemente manipuladas pelos “gênios” do marketing, objetivando elevar a demanda de produtos “supérfluos” e induzir os consumidores a escolher produtos nocivos ou poluidores e até antiéticos como cigarro, bebidas, drogas, filmes de violência, bingos e jogos, produção de armas, revistas pornográficas e programas de televisão sobre violência, músicas de gosto duvidosas, automóveis, celulares, etc.

Nos países da periferia o consumo imitativo e a importação de bens consumo de luxo e supérfluos pelas elites aculturadas representa para esses países uma drenagem de divisas, de tal forma que, diminui a capacidade de importação de máquinas, equipamento e tecnologia necessária ao desenvolvimento econômico. 

Os defensores do liberalismo sempre afirmaram que os gastos privados merecem preferência sobre os gastos públicos por serem feitos buscando a máxima satisfação das necessidades e aspirações pessoais.  Porém, propositalmente, esquecem que existem gastos públicos em saúde, educação, habitação, transporte coletivo, serviços básicos, subsídios à alimentação, etc., que são essenciais para a grande maioria da população . Por outro lado, não enfatizam a existência de muitos gastos privados, suntuários, que interessam apenas a minorias privilegiadas. Essa última característica é um fato marcante que predomina na atual sociedade brasileira.

Convém destacar que o setor público teve um extraordinário papel criando e suprindo economias externas (energia elétrica, comunicação, redes de água e esgoto, distritos industriais) ao setor privado e realizando investimentos de infra-estrutura socioeconômica no processo de desenvolvimento do capitalismo brasileiro. No nosso país, o governo federal comandou a instalação até da indústria de base.

O setor público usualmente concedeu e concede ao capital uma série de vantagens tributárias, crédito, incentivos fiscais e cambiais, tais como a isenção de impostos, financiamento a taxas de juros subsidiadas, oferta quase gratuita ou doação de terrenos e a realização de políticas de desenvolvimento regional e nacional.

Atualmente a desigualdade, o desperdiço do esgotamento dos recursos naturais continua inerente ao sistema capitalista global. Nesse último ponto a Revista Carta Capital (No 280, 3 de março de 2004) traz reportagem segundo a qual documento do Pentágono prevê que o aquecimento global ameaça a estabilidade do mundo muito mais do que o terrorismo. Segundo a reportagem “O Apocalipse está aí”, um relatório secreto suprimido pelos chefes da Defesa norte-americana e obtido pelo The Observer, adverte para o risco de que cidades e países inteiros podem se tornar inabitáveis e a fome se agravarão em virtude de mudanças climáticas até 2020. Ainda, segundo o mesmo relatório, conflitos nucleares, grandes secas, fome e tumultos generalizados acontecerão ao redor do mundo e poderão criar o caos global. Dessa forma, se faz necessárias mudanças no ponto de vista da Casa Branca e do Governo dos Estados Unidos no sentido de assinar tratados globais para reduzir a taxa da mudança climática.

O Banco Mundial, no seu relatório de pesquisa política sob o nome Globalização, Crescimento e Pobreza (2003), reconhecem esses problemas causados pelas questões ambientais. Segundo a citada publicação, há uma ampla concordância entre os cientistas que a atividade humana causou o aquecimento global e que uma mudança climática ainda maior está por vir a não ser que ações corretivas sejam realizadas. Os responsáveis por este problema é o conhecido G- 7, grupo dos sete principais países industrializados, que respondem por 70 % das emissões de CO2 do planeta. Os Estados Unidos da América com apenas 4 % da população mundial, emite quase 25 % dos gases que causam o efeito estufa, se nega a cumprir o Protocolo de Kyoto.

Mesmo duvidando de previsões tão pessimistas não devemos nos esquecer que o capitalismo globalizado conserva sua característica inerentemente consumista e destruidora do meio ambiente. A destruição de parte da camada de ozônio, a poluição dos rios, a desertificação de diversas áreas do globo são algumas características que decorrem do desenvolvimento do capitalismo no último século.

Nessa sociedade desigual, o conceito de bem comum raramente tem conteúdo real servindo apenas como instrumento de mistificação. O capitalismo ainda procura incutir a crença na existência de um bem comum e na identidade entre os interesses das elites e os da sociedade como um todo, ou na defesa da liberdade e da democracia como uma bandeira a unir os interesses dos povos na terra. Nesse rumo, a grande maioria da população, que é cada vez mais marginalizada, sofre manipulação constante da mídia e de todos os grandes partidos conservadores na defesa desse sistema e para que mantenham a atitude de resignação com a própria sorte, ou com a própria desgraça, de tal forma a manterem sua postura submissa  (Browne, 1988).

Acontece que, no sistema capitalista globalizado, os atos governamentais continuam favorecendo em geral aos interesses dos grandes capitalistas e seus proprietários . Na periferia do capitalismo a democracia tem significado um instrumento forte e poderoso que ilude as populações desorganizadas e pobres, levadas a crer que essas exercem uma influência que de fato não possuem . A população não percebe claramente que a elite tem meio, não só para promoverem a eleição de políticos de sua confiança, como para evitar a de indesejáveis e cooptar adversários; e até mesmo para impedirem que os desfavorecidos se organizem e logrem participar do poder, mesmo que seja por intermédio de golpes de estado como sempre ocorreu na América Latina a exemplo do que ocorreu no Chile nos anos 70 e ainda está em curso na Venezuela.

Entre as funções de acumulação e legitimação, os governos têm preferencialmente optado pela primeira opção no sistema capitalista globalizado. Nesse sistema econômico a maioria das ações do setor público na esfera econômica afeta desigualmente aos diferentes grupos sociais, principalmente em beneficio da acumulação de capital e em detrimento da classe trabalhadora. No limite, classes inteiras são afetadas, como acontece com as classes trabalhadora e a capitalista em conjunto, por intermédio das leis defendendo e definindo as propriedades privadas, regulamentando o direito trabalhista e a organização sindical, a política de reajuste salarial, o incentivo ao capital, etc. Assim, o Estado reproduz e privilegia os interesses da acumulação de lucros em relação aos interesses do bem-estar social e aos interesses dos trabalhadores e da população em geral.

No caso brasileiro, a legislação trabalhista foi implementada autoritariamente de cima para baixo abrangendo, até recentemente, apenas uma parte da classe trabalhadora, ou seja, os trabalhadores urbanos eram quase os únicos que se enquadravam nessa legislação. Já no que diz respeito ao capital, o governo brasileiro ao promover o desenvolvimento econômico concedeu incentivos à iniciativa privada, basicamente constituída de subsídios ao capital via taxas de juros mais baixas ou negativas, isenção de impostos de produtos de importação, de tal forma que tornaram o capital o fator “mais barato” e encarecendo relativa e artificialmente o custo da mão-de-obra, o que veio a elevar o dramático problema do desemprego na economia brasileira (Cano, 1998).

No capitalismo globalizado continua válida a regra de que para “certos” partidos alcançarem o poder e o controle do aparelho governamental faz-se necessário tornar “confiável” ao Capital. O grande capital continua tendo como objetivo resguardar os seus interesses, do mesmo modo que se empenha para que seus membros ocupem posições estratégicas no governo, quer seja na burocracia executiva, quer seja no legislativo, ou pelo menos para que as pessoas que ocupam esses cargos tenham opiniões e valores idênticos aos seus.

O capital ainda pressiona os ocupantes das posições estratégicas através da persuasão, do oferecimento de vantagens tais como propinas, empregos futuros, empregos imediatos para parentes ou amigos, elogios públicos, ou até ameaças (Browne, 1988). Como se percebe não foi outro o motivo da mudança de discurso da “cúpula burguês petista” já antes das últimas eleições. No primeiro ano de governo de Luís Inácio Lula da Silva a mídia conservadora aplaudiu um presidente Lula que satisfez a agenda conservadora do capital financeiro. Atualmente encontramos o presidente Luis Inácio Lula da Silva deslumbrado com os elogios das elites conservadoras e com o poder.

Mesmo na atualidade, o capitalismo ainda apresenta a característica de que os partidos e seus candidatos mesmo incorporando em suas plataformas opiniões e reivindicações de seus membros e eleitores, a população não dispõe de muitos mecanismos para obrigar os eleitos a cumprirem suas promessas. Por essa linha, não é surpresa que hoje em dia o governo do PT, não só não esteja cumprindo com grande parte do prometido no seu programa de governo, como está seguindo as linhas mestras da política econômica do governo anterior, caracterizando um terceiro mandato de FHC a quem o PT combateu e criticou tão duramente (Cano, 2003).

Nessa sociedade individualista as pessoas são avaliadas em boa parte pelos ganhos e pelo que possuem. A norma que vigora é a oportunidade de ganhos elevados na forma de ganhos de capital, lucros e altos salários para determinadas categorias. Acontece que essa é uma especificidade do sistema econômico que objetivam prioritariamente o lucro e a acumulação ilimitada, não sendo possível impor limites quer ao enriquecimento e muito menos a cumulação de capital. Essa atitude provocaria a morte do sistema.

Dessa forma, no capitalismo globalizado continua, cada vez mais, valendo a máxima que torna respeitáveis os ganhos elevados e exorbitantes do capital e de certas profissões em virtude da argumentação de que eles são necessários para induzir o empresário a seguir caminhos arriscados e introduzir técnicas e/ou produtos novos, como também para atrair pessoas talentosas para determinadas funções.

Contudo, diferentemente do discurso ideológico do capital que afirma recair sobre os capitalistas os maiores riscos na sociedade capitalista, quer seja na orientação da produção ou no comando dos negócios, o que realmente ocorre é que nem todos os riscos e nem mesmo os mais sérios são suportados pelos capitalistas. Os riscos de invalidez, acidentes fatais e de desemprego são suportados principalmente pelos trabalhadores assalariados. Os principais riscos dos capitalistas são o de perder o capital aplicado, o acesso a cargos na direção das empresas, o privilegio dos cargos públicos ou nos diversos órgãos governamentais (Browne, 1988).

Atualmente, a sociedade e particularmente a classe trabalhadora dominada pelo pavor do desemprego crescente perdeu o respeito próprio e se tornou mais subserviente e indiferente a qualquer luta, aceitando qualquer tipo de trabalho e não se incomodando com as condições prejudiciais e arriscadas desse trabalho, nem com o caráter nocivo e perigoso dos bens ou serviços que produz.

As privatizações, as reestruturações, as fusões e aquisições, as terceirizações e os enxugamentos têm elevado a intensidade de trabalho e mais horas de trabalho. A perspectiva é a de que cada vez mais trabalhadores serão obrigados, ou convencidos, a adotar atitudes participativas, comprometidas com o sistema. Isso tudo em nome da modernização e da produtividade.

Diante dessa realidade, o projeto liberal ainda clama por mais desregulamentação do mercado  e das leis que regem o mundo do trabalho, afirmando que as negociações dos sindicatos em favor de seus membros e os direitos trabalhistas afetam a eficiência das empresas.

Constatamos nessa nova ordem global, de um lado o desemprego crescente e, do outro lado, um trabalho cada dias mais absorventes, exigentes, instáveis, estressantes. Quem tem a sorte de estar trabalhando sofre cada vez mais devido ao estresse e a depressão e por não ver sentido na tarefa que faz.

Frente à crise estrutural do emprego proliferam na sociedade brasileira estratégias de trabalho informal e de sobrevivência. A população recorre e recria formas cada vez mais ligadas à informalidade que ocupa as ruas das grandes cidades, esgarçando ainda mais o processo de precarização das condições e relações de trabalho no Brasil. Na economia brasileira os elevados índices de desemprego além de criar insegurança, têm fomentado a criminalidade, a marginalidade, a prostituição, ou seja, disseminado essa guerra civil em que vive diariamente o morador das periferias das grandes metrópoles (Tiriba, 2003).

As pesquisas da canadense Estelle Morin, professora de Comportamento Organizacional da HEC Montreal, uma afiliada da Business School of University of Montreal, e Ph.D. em Psicologia Organizacional e Industrial constatou que no Brasil, trabalha-se duas vezes mais do que no Canadá (Carvalho, In: Carta Capital, 263, 2003).

Porém, diante desse fato, o “mito do custo do trabalho” num universo de mercado de trabalho com elevado índice de flexibilidade e com poucas “regalias”, tem levado aos últimos governantes brasileiros a proporem diferentes reformas de mudança na legislação trabalhista que somente objetivam a redução nos direitos trabalhistas na forma de: 1) flexibilização dos direitos sociais; 2) implantação do contrato coletivo de trabalho; 3) redução de encargos trabalhistas; 4) eliminação do poder normativo da Justiça do Trabalho; 5) fim da contribuição sindical compulsória; 6) introdução do pluralismo sindical. O sindicalismo brasileiro precisa ficar alerta, pois o atual governo parece também sinalizar nessa linha. Mesmo fragilizado, o projeto neoliberal continua hegemônico no planeta e a sua ofensiva contra o direito ao trabalho será violenta na economia brasileira (Borges, 2004).

A situação do desemprego é tão grave que, não somente os principais sindicatos, mas também e até a classe trabalhadora perdeu a noção de que nesse sistema, o capitalista se apropria do excedente produzido pela classe trabalhadora. Voltamos ao velho discurso conservador do empresário criador de trabalho e riqueza. Dessa maneira passa a predominar novamente a visão do empresariado como um “benfeitor” e um “benemérito”, “empreendedor” que ao criar empresa e contratar mão-de-obra salva a vida do trabalhador.

Assim, como encontrado em Browner (1988:166) na guerra civil que impera no nosso país ficamos com a impressão de que o capitalista aparece como benfeitor a quem o trabalhador deve o seu sustento e não mais o inverso como é a característica no sistema capitalista. Assim, há algo de comum no empresário que nos livra do desemprego se aceitarmos doar-lhe parte do valor que o nosso trabalho cria, e no assaltante que nos leva a bolsa, mas nos poupa a vida: ambos nos possibilitam sobreviver.

Nesse contexto, o que predomina é idéia de “priorizar a competitividade” via redução dos custos de mão-de-obra, elemento considerado como a causa principal da diminuição da competitividade e do crescimento do emprego, em virtude do sistema de regulamentação existente e dos encargos trabalhistas criados pelo Estado do Bem-estar social.

Assim, não é surpresa o predomínio da tese de que a rigidez da legislação trabalhista, os altos custos dos salários e a falta de qualificação sejam os principais responsáveis pelo desemprego . Com o predomínio dessa idéia e em meio a um elevado desemprego, o grande contingente de pessoas procurando emprego está disposta a aceitar salários mais baixos, concorda com o desmantelamento dos mecanismos de proteção sindical e desautoriza a intervenção do Estado no campo social.

O “novo liberalismo” ressurge como ideologia no sentido meramente político-ideológico da modernidade pondo de novo nos sindicatos a culpa pela crise de desemprego . Diferente da era Keynesiana que afirmava ser o desemprego uma característica intrínseca do sistema capitalista, essa realidade liberal, torna necessário destruir o poder sindical, priorizar a livre iniciativa, reduzir os recursos de assistência social e iniciar a terceirização, incentivar o trabalho autônomo e sem vínculos empregatícios, iniciar estratégias de redução dos salários acompanhada pela redução da jornada de trabalho, provocar a redução do seguro-desemprego, etc; elevando o crescimento do trabalho informal e/ou sem registro, levando a que as pessoas acabem se sujeitando a empregos cada vez mais precários com salários reduzidíssimos como os de países asiático (Sayad, 1999).

A globalização propagou a crença ideológica de que qualquer grupo de países possa beneficiar-se com a participação em “mercado comum”. Todavia, no caso dos países subdesenvolvidos e em via de desenvolvimento, esse mito encobre três riscos sérios: 1) que esses benefícios da ampliação de mercado sejam colhidos principalmente pelas empresas estrangeiras e à custa de interesses nacionais; 2) que como essa associação reúne países em estágios muito distintos de desenvolvimento, a unificação dos mercados fará com que os países em desenvolvimento percam qualquer esperança de desenvolvimento; e 3) que a entrada do capital estrangeiro apresenta cada vez mais um alto grau de probabilidade de que, no longo prazo, provocará uma saída acumulada de divisas maior que a entrada.

A globalização tem possibilitado o enriquecimento ainda maior dos países de economia desenvolvida. Esses países elevaram o grau de monopólio do poder econômico, aumentaram o controle dos fóruns de decisões, expandiram o comando sobre os mecanismos de comércio e mercados financeiros, recursos naturais e maior controle sobre a tecnologia. Por outro lado, os países em desenvolvimento e pobres tornam-se altamente endividados e são forçados a pagar juros da dívida cada vez mais pesados diante de um rebaixamento histórico dos termos de troca e diante de condicionalidades ampliados econômicas e politicamente, ou seja, obrigados a adotar o projeto neoliberal que adequou os países devedores às exigências dos países ricos.
A globalização também legitimou a ocupação de novos espaços pelo capital financeiro mundial, especialmente nos países periféricos, sob o argumento de que se trata de um desenvolvimento natural das forças produtivas capitalistas.

Colocou para essas economias a necessidade inexorável de se reinserir nos mercados mundiais de modo competitivo e adverso às suas demandas sociais e a determinações nacionais, de tal forma a que se abandonou a idéia do desenvolvimento nacional autônomo com seus próprios recursos (Kucinski, 2000).

Historicamente, o afluxo de capitais para os países subdesenvolvidos tem levado esses países a grave crise de divisas, mostrando o paradoxo do subdesenvolvimento que é o da transferência líquida de recursos dos paises pobres para os países ricos. Nessa linha, ocorreu nas últimas décadas o agravamento do desequilíbrio cambial crônico dos países subdesenvolvidos devido à atração de capitais de curto prazo dos países ricos para os países ditos emergentes via diferencial entre as taxas de juros vigentes nos paises desenvolvidos e subdesenvolvidos provocando grande instabilidade nos mercados receptores (Cano, 1998).

Pelo apresentado, o capitalismo embora numa nova fase, isto é, no capitalismo globalizado, na sua essência ainda é capitalismo. Sistema individualista e darwinista repleto de vícios e defeitos. Diferente da pregação do fim da história, na era liberal de globalização financeira a história recusa-se a terminar e segue produzindo ironias e paradoxos. Não parece ter lógica, muito menos direção.

O capitalismo globalizado leva a uma revolução permanente negando qualquer autoridade ao passado, negando mesmo as condições que viabilizaram sua expansão. Tem levado a uma generalizada erosão na conduta pública e privada, reduziu enormemente a influencia da religião, propicia a disseminação da corrupção tanto no setor estatal quanto no setor privado, procura constantemente e crescente alienar os consumidores com a disseminação do fetichismo da mercadoria, leva a alienação de eleitores diante dos fatos políticos, provocando ainda atitudes de liberalização desenfreada da atividade sexuais e de produtos e serviços ligados a esta atividade, etc.

Nessa situação, o neoliberalismo ao mesmo tempo em que celebra a democracia se vê obrigado a demonizar quem se opõe a ele. Nessa linha, para os fundamentalistas de mercado o islamismo passou a ocupar o lugar do comunismo como o inimigo que precisa ser execrado e destruído. Esse fundamentalismo incomoda aos liberais pelo seu conteúdo antiimperialista e antagônico ao neoliberalismo.

O fundamentalismo islâmico necessita ser atacado e destruído porque não aceita aspectos essenciais ao capitalismo da nova era liberal, que apresenta a corrupção, a liberdade e libertinagem dos costumes, a amoralidade, a primazia do lucro e do mercado, a desqualificação da solidariedade social, da destruição das culturas e hábitos comunitários e nacionais como fatos comuns decorrentes do progresso (Kucinski, 2000). Progresso econômico desse capitalismo global, individualista, egoísta que tem sido o rumo seguido pelas elites brasileiras, desprezando o homem cordial e a solidariedade social que eram contribuições típicas de brasilidade para a humanidade.

O capitalismo brasileiro apresentou em grande parte do século XX um ritmo de crescimento elevado da economia, principalmente em setores que produz para a minoria privilegiada que imita os hábitos de consumo das elites dos países desenvolvidos. Por outro lado, o país possui hoje 54 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, segundo dados do IBGE. Esse número representa 31,8% dos cerca de 170 milhões de brasileiros. Desses 54 milhões, 49 milhões têm renda inferior a meio salário mínimo por mês e 5 milhões restantes são pessoas que sobrevivem sem nenhum tipo de renda.
A crise do modelo desenvolvimentista e a implantação do neoliberalismo fizeram crescer o predomínio do consumo suntuário das elites tradicionais que imitam os padrões de consumo dos países de elevado nível de desenvolvimento e agravou-se a condição dos desfavorecidos (Furtado 2002). Acrescente-se o fato de que no atual modelo, enquanto a grande maioria da população brasileira passa fome, boa parte das melhores terras e das águas escassas é utilizada no agronegócio para produzir alimentos que serão consumidos nos países ricos.

Constata-se a um retrocesso da economia brasileira rumo ao modelo primário-exportador via disseminação do agronegócio. Mostrando o retrocesso da economia brasileira rumo a reprimarização, não somente da sua economia como também de suas exportações, em 2003, ano em que a produção industrial brasileira sofreu uma forte retração, a participação do agronegócio no PIB voltou a crescer. Segundo dados da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil) a participação do agronegócio no PIB subiu de 29% para 31% do PIB em 2003. Já o Ministério da Agricultura estima em 33% o percentual de participação do agronegócio no Produto Interno Bruto. Convém salientar que essa crescente participação do agronegócio tem sido resultada das sucessivas safras recordes e da retração dos outros setores. A bem da verdade, acrescente-se o fato de que a mensuração da presença do agronegócio, porém, é difícil de ser detectada porque o agronegócio inclui ramificações que vão além da agricultura e da pecuária, tradicionalmente classificados como um setor único (Folha de São Paulo, 14/04/2004).

A conclusão a que chegamos é a de que a economia brasileira aloca recursos escassos de forma socialmente ineficaz e economicamente ineficiente, à medida que, além de manter grande parte de seus recursos ociosos (Latifúndio é apenas um dos exemplos), não consegue ainda suprir as necessidades básicas da grande maioria da população, destinando parcelas significativas dos seus recursos à produção de bens supérfluos e não essenciais.

Globalização, esse nome pomposo para o estágio atual do capitalismo e da economia mundial, não tem produzido elevadas taxas de inflação, mas provocadas apenas baixas taxas de crescimento e muito desemprego. Nesse contexto, surge uma pergunta: Valerá a pena continuarmos a aprofundar um modelo de desenvolvimento que não contribui para diminuir a percentagem dos pobres e miseráveis e, até mesmo a maioria dos que dele se beneficiam está sendo condenada a viver permanente ameaça por assaltos, epidemias, exploração, más condições de trabalho, doenças provocadas pelo mundo do trabalho ou a triste opção do desemprego?

Diante da onda liberal existirá retorno? Por falta de uma alternativa melhor no horizonte histórico do capitalismo, o Welfare State ainda se apresenta como a alternativa mais viável de sociedade. Nessa linha, pode a sociedade reivindicar e o setor público brasileiro tentar corrigir algumas dessas anomalias apresentadas pelo sistema capitalista no Brasil por meio da manipulação de uma adequada política econômica objetivando conquistas sociais que priorize os interesses da nação. Reformas progressistas nas áreas tributária, agrária, urbana, educacional, monetária e até no seu comércio exterior.

Porém, não serão as elites e nem um governo comprometido com as políticas do FMI que realizará reformas estruturais necessárias à construção de uma alternativa. Além do que, o modelo liberal implementado no Brasil não é susceptível de remendos. Não há nenhuma forma de ajuste macroeconômico capaz de fazer com que a soberania econômica do país seja restaurada e o manejo da política econômica e da política de desenvolvimento possa ser, de novo, movida pelas decisões soberanas da nação dentro da alternativa liberal (Cano, 2003).

Diante da crise da dívida externa da Argentina, o melhor aluno do FMI e principal país a implementar as propostas consubstanciadas no Consenso de Washington na América Latina, das propostas de Hugo Chaves para Venezuela e a eleição de Lula no Brasil estão os países do Cone Sul (Brasil, Venezuela, Argentina, etc.) perdendo uma oportunidade histórica de mudar a jogatina contra os países da periferia.

Infelizmente o caminho seguido pelo “nova elite petista” segue na linha da submissão e da vulnerabilidade interna e externa. Do ponto de vista estrutural, o governo de LULA está aumentando a vulnerabilidade externa da economia brasileira não somente na dimensão comercial e produtiva, mas também na tecnológica e na dimensão monetária e financeira. Faz-se necessário e urgente romper com a política econômica imposta pelo neoliberalismo, gerenciado pelo “cão de guarda” do capital internacional o FMI, que prescreve superávit primário, juros elevados e recessão econômica. Ruptura essa indispensável para realização das mudanças (Gonçalves, 2003).

Lutar somente pelo crescimento econômico na linha atual significa a defesa do status quo. Dessa maneira é mais sensato implementar reformas estruturais e buscar novas formas menos elitistas de desenvolvimento ou, quem sabe, até esquecermos o crescimento econômico realizando apenas uma melhor distribuição de renda no Brasil, de tal sorte a eliminarmos a miséria, a fome, a exclusão e a injustiça.

O objetivo principal é tentar atenuar e “eliminar”, através de reformas, os principais defeitos do capitalismo brasileiro. Uma mobilização popular e organizada se faz necessária, para forçar e lembrar o governo petista qual o lado o elegeu, pois como afirma Marilena Chauí (2003) citando Espinosa: um direito não é algo concedido, mas algo que é conquistado e conversado, porque ele é poder. A construção e implementação de um projeto nacional claramente identificado com os interesses do povo brasileiro, com a utilização dos recursos primordialmente para melhorar a situação dos pobres e excluídos não virão de uma decisão do Estado.

O projeto de “modernização” no terceiro mandato de FFFHHH, ou seja, no governo LULA é um projeto de modernização conservadora que na sua realização exige mais capital internacional, mais liberdade e menos Estado e conseqüente redução do gasto social. Um projeto que exige que todos sejam mais eficientes, mais produtivos, mais econômicos e mais gananciosos. Enquanto isso cria cada vez menos emprego, os ricos ficam mais ricos e o contingente de pobres aumenta. O gasto público é elevado à condição de bode expiatório de todos os males e se pratica altíssimas taxas de juros que impõe limites à vida dos governos em todas as esferas (União, Estados e Municípios) originando a grande crise do setor público devido à política econômica equivocadamente escolhida.

O Brasil que necessita de justiça social, prosperidade e democracia, com a “modernidade” ressalta as vantagens do mercado livre, da terceirização, da automação, da economia de mão-de-obra e da necessidade dos trabalhadores se aposentarem mais tarde. Por outro lado, execra o déficit público, luta pela diminuição da carga tributaria e questiona os benefícios sociais. O mundo dos liberais recomenda que sejamos mais cruéis e impiedosos com os menos capazes, os ineficientes e os excluídos. Problemas como saúde, educação e segurança do cidadão não são considerados problemas graves e emergenciais, podem esperar mais um pouco. Enfatizam as questões econômicas, numa linha de predomínio do econômico sobre o político, o cultural e o social. Um discurso vulgar e mal fundamentado. Discussão liderada pelas elites aculturadas atenta e embevecida pelos termos metropolitanos e que não entende direito e com realismo os problemas do Brasil (Sayad, 1999).

Concluindo gostaria de deixar a mensagem de Maria da Conceição Tavares (1999:73) para qual: “O Brasil é um país continental, tem potencialidades de desenvolvimento, tem condições objetivas que independem do capital especulativo, que independem da globalização. Tem condições de dar alimentação, vestuário, calçado, escola e um mínimo de saúde e seguridade social à sua população. Embora possa levar algum tempo, existem condições objetivas de converter o país em nação, como o fizeram, aliás, vários paises do mundo, nas crises internacionais anteriores e nas situações mais diversas de desenvolvimento e organização social da produção e sistema político”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Leituras indicadas

 

QUESTÃO REGIONAL E GESTÃO DO TERRITÓRIO NO BRASIL

Integração econômica e redes logísticas no cone sul

Geopolítica da Amazônia

O processo de mundialização da economia e a divisão internacional do trabalho: globalização e periferia na atualidade Vários texto de boa qualidade.

IMPERIALISMO, GLOBALIZAÇÃO E PÓS-MODERNIDADE

Processo Histórico de Regionalização do Brasil

 

Para entender melhor as desigualdades regionais no Brasil necessário se faz avaliar o processo histórico em que se geraram as diferenças de desenvolvimento regional no País. Resultado da expansão comercial européia (portuguesa), a ocupação e o povoamento do Brasil se deram por meio de surto de atividades exportadoras que, sucedendo-se ao longo do tempo, foram fixando populações em diferentes pontos do território nacional. Sob o compasso do comportamento do mercado externo no tempo do colonialismo português, a base econômica de uma região era suplantada pela de outra região, de tal forma que a formação histórica brasileira é marcada pela descontinuidade espacial e temporal, com reflexos profundos nas relações regionais.

O Nordeste, graças à cana-de-açúcar, foi a região que mais acumulou capital nos séculos XVI e XVII. No século seguinte, essa posição foi ocupada pelo estado de Minas Gerais, devido à mineração do ouro e pedras preciosas. A partir do século XIX, foi a vez do Rio de Janeiro (a então capital do País) e São Paulo por causa do cultivo e exportação do café. Com as outras regiões em crise ou em estagnação, essa atividade estabeleceu as bases da concentração do capital e, por conseqüência, da industrialização. Daí o surgimento das atuais desigualdades regionais.

Segundo Tânia Bacelar , os principais fatos que colaboraram para transformar o país a partir das décadas finais do século XIX, foram: a abolição da escravidão, a intensa urbanização e o rápido desenvolvimento industrial. De um país rural, escravocrata e primário-exportador, o Brasil transforma-se em uma nação urbano-industrial.

Na história brasileira aconteceram vários ensaios de industrialização, amparados tanto por uma conjuntura mundial favorável (Primeira Grande Guerra e a Grande Depressão) e pela crescente prosperidade do café. Portanto, não demorou para que o Estado de São Paulo promovesse, em poucas décadas, um intenso processo de substituição inter-regional de importações, pondo em xeque os esforços industrializantes de regiões como o Sul. No entanto, foi em meados da década de 1960, sob os auspícios de governos ditatoriais militares com a meta de transformar o país em uma potência mundial através de investimentos externos, que o Sudeste (leia-se São Paulo) acabou por consolidar sua hegemonia na matriz produtiva nacional, permanecendo as demais regiões como elos subalternos.

De acordo com Bacelar , essa moderna e ampla base industrial, ao concentrar-se, fortemente, na região Sudeste, respondia, em 1970, por 81% da atividade industrial do país. Apenas o estado de São Paulo, gerava 58% da produção da indústria existente. Na medida em que o mercado nacional se integrava, a indústria buscava novas localizações, desenvolvendo-se especialmente, devido aos incentivos fiscais, nas áreas metropolitanas das regiões menos desenvolvidas do país como Salvador, estado da Bahia; Recife, estado de Pernambuco e Fortaleza, estado do Ceará. Mas o desenvolvimento sempre se concentrou no eixo Sudeste-Sul.

Nos anos 1990, devido às importantes transformações ocorridas no contexto mundial, o ambiente econômico brasileiro sofre grandes mudanças. Dentre as principais destacam-se uma política de abertura comercial intensa e rápida, a priorização à chamada "integração competitiva", reformas profundas na ação do Estado e finalmente a implementação de um programa de estabilização da moeda nacional, o Real, iniciado em meados de 1994, com um plano econômico que leva o mesmo nome.

Paralelamente, o setor privado promove uma reestruturação produtiva também intensa e muito rápida. Tende-se a romper o padrão dominante no Brasil das últimas décadas, onde a prioridade era dada à montagem de uma base econômica que operava essencialmente no mercado interno (embora fortemente penetrada por agentes econômicos transnacionais) e que ia lentamente desconcentrando atividades em espaços periféricos do País.

O Estado Nacional jogava um papel ativo nesse processo, tanto por suas políticas explicitamente regionais, como por suas políticas ditas de corte setorial/nacional e as ações de suas estatais (siderurgia, eletricidade, telefonia) com recursos destinados à investimentos (o Estado empresário). No presente, as decisões dominantes tendem a ser as do mercado (o Estado indutor), dada a crise fiscal e as novas orientações governamentais de cunho neoliberal, ao lado da evidente indefinição e atomização que tem marcado a política de desenvolvimento regional no Brasil.

Bacelar acredita que, embora as tendências ainda sejam muito recentes, alguns estudos têm convergido para sinalizar a interrupção do movimento de desconcentração do desenvolvimento na direção das regiões menos desenvolvidas. No caso da indústria, dados recentes permitem indicar mais uma vez que, assim como ocorreu em meados da década de 60, existe uma tendência à concentração do dinamismo em determinados espaços do território brasileiro. Segundo a autora, trabalhos recentes localizaram os atuais centros urbanos dinâmicos do país em termos de crescimento industrial. Das 68 aglomerações urbanas com intenso dinamismo industrial recente, 79% estão situadas nas regiões Sul/Sudeste, 15% na região Nordeste e apenas 6% nas regiões Norte e Centro-Oeste. As economias de aglomeração retiram as maiores Regiões Metropolitanas, Rio e São Paulo (a última com população de 18 milhões de habitantes), desse dinâmico foco industrial, mas a Região Metropolitana de São Paulo concentra cada vez mais o comando financeiro da economia nacional.

Em suma, segundo Bacelar22, a história econômica das regiões brasileiras se confunde com a história da industrialização do País e da constituição e consolidação do mercado interno brasileiro. Nesses processos, foi tomando forma uma divisão inter-regional de trabalho e, em conseqüência, foram se definindo estruturas produtivas e papéis diferenciados para cada região no interior da economia nacional, com repercussões sobre o desenvolvimento econômico e as condições de vida nas distintas regiões.

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